24 de Abril de 2024 - Ano 10
NOTÍCIAS
17/08/2014

Apresentador de TV diz que no Amazonas há coronéis, delegados e diretores que vendem informações

Foto: Marcos Gomes / Portal do Zacarias

Hilton ferreira é apresentador do programa Segurança Agora & Cidadania, veiculado pela TV Em Tempo

A unificação das polícias, juntamente com questões como o Ronda no Bairro, promoções e modernização das corporações policiais, nortearão a pauta dos debates sobre segurança pública que o programa Segurança Agora & Cidadania, em parceria com o PORTAL DO ZACARIAS e a TV EM TEMPO, está promovendo sob a responsabilidade do apresentador e especialista em Segurança Pública Hilton Ferreira. Nesta entrevista, ele diz como serão os debates.


“Há 52 projetos parados no Congresso Nacional sobre a unificação. Sou a favor da unificação desmilitarizada, com carreira única, para que o policial saiba de onde sai e aonde vai chegar, com meritocracia. Do contrário, podem colocar 1 bilhão de reais na segurança do Amazonas, que no outro dia a criminalidade será a mesma”

“É preciso também acabar com as mordomias de presos privilegiados como o senhor Adail Pinheiro, que está num complexo militar onde há explosivos, coisa perigosa. Preso é para estar no Sistema Penitenciário”

Por J Taketomi, editor de Política do PORTAL DO ZACARIAS

PORTAL DO ZACARIAS – Em parceria com o PORTAL DO ZACARIAS e a TV EM TEMPO, o programa Segurança Agora & Cidadania vai dar início a uma rodada de entrevistas com os candidatos ao governo do Estado sobre segurança pública. Como surgiu essa ideia de debater apenas segurança com os candidatos?


Hilton Ferreira - Na verdade, nós já temos o Oscar da Segurança e Cidadania, que vai pra sexta edição este ano. Será no dia 4 de dezembro. É difícil dar esse espaço pra segurança, que só aparece na imprensa pelos fatos negativos. O Portal do Zacarias e a TV Em Tempo, com os jornais Agora e Amazonas Em Tempo, abrem agora esse debate que não vai fazer a exploração pura e simples da desgraça e da miséria da população. Os debates abrangerão todos os candidatos, diferente do horário de propaganda eleitoral gratuita que só vai contemplar os candidatos de maior densidade eleitoral, uma aberração da legislação eleitoral, que é um resquício da Ditadura Militar de 1964. Vamos divulgar os debates no Portal do Zacarias, na TV Em Tempo e nos jornais Agora e Amazonas Em Tempo. Vamos transformar os debates numa revista e em janeiro vamos cobrar tudo de quem for eleito.


Portal – Qual será o foco principal dos debates envolvendo segurança pública?


Hilton – Vamos envolver as associações dos policiais militares, os sindicatos dos agentes, as associações dos delegados, o Sinpol, a OAB, o Ministério Público do Estado, os programas de prevenções às drogas, Proerd, Pró-Vida, e outros órgãos importantes da sociedade, para que os debates tenham peso. Vamos debater, por exemplo, o projeto de segurança pública que o saudoso Eduardo Campos executou em Pernambuco e que serve de modelo pra todos nós aqui do Norte. O programa chamava-se Pacto pela Vida e reduziu a violência em mais de 60% em Pernambuco.


Portal – Você, que faz parte do aparelho policial, conhece bem a segurança pública. Como você analisa a segurança no Estado do Amazonas nos últimos 20 anos?


Hilton – Eu tenho 25 anos de polícia. Existem dois momentos da segurança no Amazonas. O primeiro momento é com Amazonino Mendes e o seu secretário de Segurança Pública, Paulo Horita, este na época um jovem oficial do Exército, muito competente. Eles construíram o Ciops e o secretário deu um choque de gestão na Polícia Civil. Ele derrubou as delegacias que estavam caindo aos pedaços e construiu delegacias novas. Depois, pedimos ao Eduardo Braga que continuasse o trabalho. Eu era presidente do Sinpol na época. O Braga prosseguiu as coisas e construiu o DIP, Distrito Integrado de Polícia, colocando juntas as polícias Civil e Militar. Outro grande momento foi a realização de concurso há 25 anos, com Amazonino Mendes. A gente tem que ser justo. E o terceiro grande momento foi a criação do programa Ronda no Bairro, modernizando e dando maior dinamismo ás ações integradas das polícias. Aqui eu tiro o chapéu pro ex-governador Omar Aziz, que teve competência e coragem.

 

 

“Vamos debater, por exemplo, o projeto de segurança pública que o

saudoso Eduardo Campos executou em Pernambuco e que serve de modelo

pra todos nós aqui do Norte. O programa chamava-se Pacto pela Vida

e reduziu a violência em mais de 60% em Pernambuco”

 

Portal – O deputado federal Pauderney Avelino (DEM), presidente da Comissão de Segurança da Câmara Federal, diz que um bom legado da Copa do Mundo é a possibilidade da unificação das polícias. Você não acha que essa questão deve ir para o debate eleitoral?


Hilton – Concordo que a unificação contagie o debate eleitoral, com a ideia de polícia comunitária, a fim de que o programa Ronda no Bairro ganhe mais força. A ideia de polícia comunitária, na verdade, remonta a 300 anos antes de Cristo, lá com os hebreus. Era o policiamento de quarteirão, que deu origem à história da dupla Cosme e Damião. Os crimes menores eram resolvidos por um intendente de acordo com o Código de Hamurabi, criado há três mil anos. Então naquela época já havia a polícia única, e a Inglaterra mantém até hoje isso. A polícia comunitária é um retorno às origens. Não deu certo no mundo todo a militarização do contato da farda com o cidadão. Nada contra a farda, pois a farda é a presença do Estado, a farda do enfermeiro, etc. Mas, é preciso mudar essa mentalidade de Polícia Militar. Para que têm que existir três sargentos, um, dois e três? Absurdo. Só por que a Polícia Militar é força auxiliar do Exército Brasileiro ? É tudo uma contradição, um coronel da PM não pode ganhar mais do que um coronel do Exército, porque a PM é apenas força auxiliar do Exército. A unificação é necessária e vai exigir coragem da parte do novo presidente da República. Num momento, eu pensei que o Fernando Henrique Cardoso fosse fazer. Há 52 projetos parados no Congresso Nacional sobre a unificação. Sou a favor da unificação desmilitarizada, com carreira única, para que o policial saiba de onde sai e aonde vai chegar, com meritocracia. Do contrário, podem colocar 1 bilhão de reais na segurança do Amazonas, que no outro dia a criminalidade será a mesma.


Portal
– Na sua opinião, a imprensa hoje não erra ao cobrir apenas o factual, deixando de aprofundar a cobertura dos acontecimentos policiais?


Hilton – No Amazonas, quantos repórteres policiais existem? Pouquíssimos. Além da má formação na Faculdade de Comunicação, não há incentivo para o surgimento de bons repórteres na área, que vão ao local do crime e ver se a perícia foi bem feita, e por aí. Por que o perito não conversa com o investigador ? É algo para ser investigado pelo repórter e exposto à opinião pública.


Portal – Se o futuro governador não pode interferir diretamente na questão da unificação das polícias, que está afeita ao Congresso Nacional, ele vai fazer o quê?


Hilton - O futuro governador terá que atacar a questão da produtividade dos policiais. Não é justo que um policial, que fica 24 horas enrolando, receba salário igual á aquele que apreendeu 300 quilos de droga. É preciso que se releve a meritocracia no que diz respeito ás promoções nas duas polícias. É preciso acabar com as promoções por amizade pessoal ou vínculo com esse ou aquele político. Muita gente vai ficar com raiva de mim por causa disso, mas é policial demais no Tribunal de Contas do Estado e na estrutura do Poder Judiciário, todos bajulando conselheiros e desembargadores para serem promovidos pelo critério político. É preciso acabar com a Casa Militar nas instituições legislativas e executivas. É preciso também acabar com as mordomias de presos privilegiados como o senhor Adail Pinheiro, que está num complexo militar onde há explosivos, coisa perigosa. Preso é para estar no Sistema Penitenciário.


Portal - Mais de 3 mil toneladas de drogas passam anualmente pela fronteira do Amazonas com a Colômbia, via Tabatinga. Em Manaus, estupros e até esquartejamentos ocorrem cotidianamente como se fossem coisas normais e não uma escalada selvagem contra a condição humana. Não é importante colocar isso na pauta do debate eleitoral sobre segurança?


Hilton
- É claro, e nesse sentido, a gente deve focar bastante na questão da eleição executiva, já que a Assembleia Legislativa só faz o que o governador manda, da mesma forma que o Congresso Nacional faz o que manda o presidente da República. Mas, eu gostaria de lembrar a criação do Programa Nacional de Segurança com Cidadania (PRONASCI) e trazê-lo para o debate eleitoral no âmbito estadual. Porque aqui o governador pode melhorar o Sistema Penitenciário e ele deve ir ao presidente pedir recursos para tanto, não é só pedir dinheiro para asfalto e tal. Afinal, o dinheiro da segurança é contingenciado todo ano. De repente, dão uma carretinha pra segurança e todo mundo fica feliz. Então, por isso o debate eleitoral será importante. O empresário Otávio Raman me deu um espaço onde eu abordo a questão da segurança como acho que deve ser abordada, graças a Deus. O meu programa é voltado para a essência da polêmica sobre segurança. Os outros programas são, com certeza, meros programas policiais para eleger fulano ou beltrano que explora a TV miséria.

 

 

"(...) nós temos coronéis, delegados, diretores, que ficam vendendo informações.

Se eu quisesse, ganhava dinheiro fácil, me ligam a toda hora. Imaginem que

uma informação acerca do cara que trafica drogas num daqueles

condomínios da Ponta Negra custa 3 mil reais"


Portal
– Esse tipo de jornalismo inconseqüente e absurdo é uma invenção argentina do início da década de 80. O que você acha dele?


Hilton – Eu analiso tristemente. A própria segurança contribuiu pra isso, nós temos coronéis, delegados, diretores, que ficam vendendo informações. Se eu quisesse, ganhava dinheiro fácil, me ligam a toda hora. Imaginem que uma informação acerca do cara que trafica drogas num daqueles condomínios da Ponta Negra custa 3 mil reais. Pois é. Acho que o crime deve ser combatido de forma séria e dura. Sou a favor do FERA, da ROCAM, do combate ao crime pra valer e não encostar o cidadão dentro do ônibus pra sair no jornal. Então, essa TV miséria só faz mal à sociedade. Se o presidente da República e os governadores quiserem, essa realidade muda e muda porque os recursos poderão fluir. Atualmente, só o dinheiro das taxas de segurança, que vão para os cofres da União e não retornam aos Estados, é uma fábula. Aqui no Amazonas, o bombeiro cobra taxa e a taxa vai pra Sefaz, que a devolve sabe lá quando, do jeito que bem entender. Isso tudo tem que ir pro debate eleitoral.

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