Nesta entrevista, o cientista político Luiz Antônio Nascimento, professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), critica a metodologia dos debates na TV, que, segundo ele, deixam a desejar à mercê das estratégias de candidatos que podem manipulá-los ao sabor de suas conveniências eleitorais.
Por J Taketomi, editor de Política do PORTAL DO ZACARIAS
PORTAL DO ZACARIAS – Professor, analise o debate realizado pela TV Band, na quinta-feira passada, envolvendo os candidatos ao governo do Amazonas.
Professor Luiz Antônio – Os debates são virtuosos, mas os modelos devem mudar. Dependendo do grau de importância ou não de uma candidatura, uma estratégia pode isolar um candidato, e isso compromete o debate. Aconteceu aqui em Manaus o mesmo que aconteceu com a presidente Dilma Rousseff no debate em nível nacional. Os candidatos falavam entre si e isolaram a Dilma. É ruim porque a população acaba não ouvindo candidatos que estão bem no cenário. Entendo que uma plenária, formulando perguntas aos candidatos, seria uma boa estratégia. As mídias sociais poderiam participar, linkadas com o estúdio do debate. Penso que o próximo debate deve ter outro arranjo.
Portal – No debate da Band, o Braga sobrou e quase teve que perguntar e responder pra ele mesmo. E os candidatos também levantavam a bola pra eles mesmos correrem para cabecear na cara do adversário. Isso não é absurdo?
L Antônio – Isso ficou manjado. O cara pergunta a um candidato o que não produz efeito, ele responde e o cara dá o seu show. Isso pode mudar. E outra coisa que vale a pena observar. A gente sabe dos custos que a situação pode acarretar, mas os debates deveriam ocorrer em horário nobre, não podem terminar quase de madrugada. Poderiam ser realizados ocupando o espaço do horário eleitoral. O debate da Band acabou sendo assistido pelos formadores de opinião e não pelos eleitores. Aí a imprensa é que diz quem ganhou e quem perdeu no debate, a imprensa apresenta uma filtragem. Não foi o leitor que assistiu e disse ‘eu acho isso e aquilo’.
Portal – Na sua opinião, quem ganhou o debate regional da Band?
L Antônio – Vamos pelo mais fácil e dizer quem perdeu o debate. O professor José Melo estava inseguro, mostrou fragilidade. Acho que, como governador do Estado que disputa sua reeleição, ele tinha que ser mais proativo. Faltou contundência, baixou o olho, não fitou a câmera. Acho que o Marcelo Ramos foi contundente, foi incisivo. Ele enfrentou um senador da República, um campeão de votos, que foi o senador Eduardo Braga. Ele teve um bom desempenho. Agora, o Braga teve uma coisa que é própria dele, tinha todos os dados e números na mão. Ele não ficou no campo do ‘achismo’. Sobre o Chico Preto, às vezes eu me perguntava o que ele estava fazendo ali, ele tava ajudando alguém, tava ajudando o Eduardo Braga. Pode não ter sido intencional, mas na prática ele acabou funcionando assim.
Portal – Qual seria a receita para os debates ganharem mais dinamismo e qualidade?
“O debate da Band acabou sendo assistido pelos formadores de opinião e não pelos eleitores.
Aí a imprensa é que diz quem ganhou e quem perdeu no debate, a imprensa apresenta uma
filtragem. Não foi o leitor que assistiu e disse eu acho isso e aquilo”
L Antônio – Eu acho que teria que haver um bloco de perguntas e respostas da população livres. Perguntas da população, réplica e comentário de outro candidato. Seria interessante a participação de profissionais de diversos setores, médicos, cientistas, coletores de lixo, por aí. Poderia haver também uma plenária de especialistas representando a sociedade civil, mas não poderia nunca ser uma plenária só de iluminados.
Portal – Como as atuais campanhas de Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PSB) poderiam influenciar diretamente o processo eleitoral no Amazonas envolvendo Eduardo Braga (PMB), Marcelo Ramos (PSB) e José Melo (Pros)?
L Antônio – Quando houve o acidente aéreo com Eduardo Campos (PSB), eu disse que a campanha eleitoral havia acabado. Depois do luto seria iniciada uma nova campanha, não pelo lugar que Eduardo Campos ocupava nas pesquisas, mas pelas conseqüências de sua morte com a possibilidade de Marina Silva ser ou não a sua substituta. Outro aspecto é a metodologia da pesquisa eleitoral. As pesquisas de opinião são universalmente consolidadas como metodologia de produção da informação. Você tira uma amostra de uma população estratificada e você vai chegar a um resultado. A primeira pesquisa eleitoral do Datafolha começou a coletar dados no dia 14, com os defuntos ainda entre as ferragens do avião que caiu em Santos. Coletaram os dados nos dias 14 e 15. Ora, do ponto de vista metodológico, o resultado estava contaminado. E aí você tira a Marina de zero nas intenções de voto, colocando-a num patamar de 21 por cento. Do ponto de vista metodológico, ali houve um erro. Não acho que a Marina ganha a eleição, quem ganha é a Dilma com uma diferença pequena de votos. Vai haver uma polarização Dilma/Marina. O Aécio está fora.
Portal – Como Dilma e Marina podem influenciar as eleições no Amazonas?
L Antônio – As eleições regionais possuem uma dinâmica própria, com exceção do fenômeno Collor de Mello, que mexeu com as disputas regionais. Nem o Lula conseguiu tanto. E veja que ele dominou as maquinas sindicais, que se subalternizaram e estão hoje enferrujadas.
Portal – Uma liderança do tipo Arthur Neto teria mais peso, então?
L Antônio – Uma liderança assim tem mais peso, mas não estou convencido de que esse peso seja suficiente para tirar 30 por cento de diferença que Eduardo Braga colocou sobre José Melo. O Arthur poderia ajudar, mas qual é o problema e o risco do Arthur ? O problema é ele se expor muito e daqui a dois anos enfrentar as eleições municipais. Imaginem ele se expor muito e, mesmo assim o Eduardo Braga ganhar a eleição. Daqui a três anos o Braga viria com duas pedras e um tacape pra se contrapor ao Arthur na cidade. Agora, se o Arthur pega o José Melo no colo e consegue elegê-lo, vira imperador do Amazonas. Mas, ele é um político por natureza e precisa construir sua reeleição.
Portal – O ex-ministro José Dirceu, mensaleiro que trabalha em regime semi aberto, declarou à Rádio Jovem Pan que a Marina Silva, ao contrário do que o PT pensa, é um fenômeno consolidado. Ele está errado?
L Antônio – Chega um determinado momento em que o eleitor abre mão de análises políticas, etc, e diz ‘eu vou mudar’. Talvez Marina Silva seja o fenômeno de um contexto assim e talvez a estatística das pesquisas eleitorais, a que me referi há pouco, seja responsável por isso. Eu não duvidaria dessa possibilidade. Ocorre que o governo Dilma fez muito, mas não publicizou. Mas, ela tem quarenta dias de campanha eleitoral, tem um partido de massas que pode se mobilizar. Mas, penso que Dilma ganha a eleição com um ou dois por cento de votos no segundo turno.