Deputado diz que Manaus está no "topo da insegurança" e que o Ronda no Bairro sumiu

Para o deputado estadual Wanderley Dallas, a insegurança e os sérios problemas do trânsito e o Plano de Mobilidade Urbana para a cidade de Manaus não podem ser mais assuntos exclusivos de vereadores e devem ocupar a pauta da Assembleia Legislativa. Nesta entrevista, ele também fala do embate do seu partido, o PMDB, com o Palácio do Planalto.

 

PORTAL DO ZACARIAS – O senhor tem feito pronunciamentos mostrando preocupação com a questão do transporte coletivo em Manaus. Como vê realmente essa questão?

Deputado estadual Wanderley Dallas – Como presidente da Comissão de Transportes da Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas, dei entrada num requerimento no dia 22 de fevereiro solicitando ao prefeito Arthur Neto, bem como aos dirigentes do Implurb, da Seminf e do Manaustrans, cópia do projeto sobre a execução das obras da ciclovia, pra gente conhecer o projeto e analisá-lo na Aleam. Até agora esse requerimento não foi votado. Eu falei com o presidente Josué e ele me prometeu que o requerimento iria ao plenário esta semana. Espero que isso aconteça porque a Assembleia Legislativa não pode virar Câmara Municipal de Manaus. Se a minha propositura não for votada, vai jogar mais suspeita sobre essa obra estimada em 22 milhões de reais.

Portal – O que o senhor conhece sobre o projeto da ciclovia?

Dallas – Conheço pelo que os jornais falaram, uma obra de 22 milhões para um trecho de 19 quilômetros. Trata-se de uma despesa de 1 milhão de reais por cada quilômetro, coisa que não dá pra entender porque a ciclovia de São Paulo, que foi parada pela Justiça, custava 160 mil reais cada quilômetro. Então, como presidente da Comissão de Transportes da Assembleia Legislativa, eu quero conhecer o projeto da ciclovia de Manaus, quero uma ciclovia que não seja sobre as calçadas e quero saber o custo dela.

Portal – O senhor e outros deputados têm dito que a Assembleia Legislativa deve se preocupar com a mobilidade urbana, que não pode ser um assunto exclusivo da Câmara Municipal. Como o senhor analisa o Plano de Mobilidade Urbana de Manaus?

Dallas – Manaus vive o caos no trânsito. Na semana passada foi espancada uma deficiente física dentro de um transporte coletivo por uma funcionária do veículo. Outro acontecimento foi um passageiro que se colocou na frente de um transporte em protesto, e outro acontecimento foi no T-4 da Cidade Nova, onde uma passageira discutiu com a cobradora, chegaram a brigar, envolvendo vários estudantes, e um segurança puxou uma arma. Ou seja, os usuários de transporte coletivo estão com os nervos à flor da pele, assim como os cobradores e os motoristas que trabalham dentro de “cacarecos”, ônibus que circulam nos bairros jogando passageiros nos terminais.

Portal – Tudo isso se junta a problemas como a insegurança nos terminais, problema também que preocupa as escolas públicas.

Dallas - Há insegurança nos terminais, nas escolas e nos bairros de Manaus. A gente não vê mais o Ronda no Bairro, os carros foram retirados e a população vai ficando cada vez mais indefesa.

“Os usuários de transporte coletivo estão com os nervos à flor da pele, assim

como os cobradores e os motoristas que trabalham dentro de “cacarecos”,

ônibus que circulam nos bairros jogando passageiros nos terminais”

Portal – O trabalho realizado pelo novo secretário estadual de Segurança Pública, Sérgio Fontes, agrada ou é ruim?

Dallas – Eu só tenho elogios ao trabalho que o doutor Sérgio Fontes está fazendo. Mas, por mais boa vontade que ele tiver, se não tiver os instrumentos devidos, não poderá fazer muita coisa.

Portal – Com relação ao Ronda no Bairro, o contrato da empresa Delta acabou com o governo, a empresa recolheu as viaturas usadas pelo programa e agora o que fazer, já que a solução sobre as viaturas está demorando muito?

Dallas – Não existem informações, os nossos requerimentos estão sendo derrubados na Assembleia Legislativa e o povo nos cobra isso. Mas eu vou tentar falar com o secretário de Segurança. O Ronda no Bairro era o carro-chefe do ex-governador Omar Aziz, eu estranho que o governador José Melo tenha dito que continuaria o trabalho do Omar e essa luz foi apagada. Na quinta-feira (26) reuni com várias comunidades que se queixaram de roubos de carros e da insegurança nas escolas. Os assaltos aumentam nos bairros, o governador tem que se preocupar porque, com a saída do Ronda no Bairro, a situação ficou péssima.

Portal – Foi divulgado antes da Copa de 2014 que Manaus era uma das dez piores cidades brasileiras em termos de segurança pública. Agora, a situação piorou de vez?

Dallas – Se a situação era ruim no tempo do Ronda no Bairro, sem ele ficou pior. Se fizerem uma pesquisa agora, Manaus estará no topo da insegurança. Se não for a primeira, estará entre as três primeiras cidades brasileiras em insegurança. Eu ando nos bairros e sei o que está acontecendo, não há segurança e são gritantes os problemas quanto aos transportes coletivos. A segurança é um problema que afeta o povo simples e o grande empresário. O governador está sendo enganado. O Ronda no Bairro praticamente sumiu.

Portal – Como presidente da Comissão de Transporte da Aleam, o que o senhor pretende fazer para ajudar na busca de soluções com relação à mobilidade urbana e ao transporte coletivo?

Dallas – Estamos lutando por um sistema que possa fiscalizar o transporte coletivo. Existia no passado o Conselho Estadual para observar o que acontecia com o transporte coletivo. Nós vamos tentar reativar esse Conselho, é uma pauta nossa com os deputados Vicente Lopes, Dermilson Chagas, Augusto Ferraz e Francisco Souza, que pertencem à Comissão de Transportes. Depois da Semana Santa, nós vamos aos terminais, vamos ver o que está acontecendo, até para podermos falar, as pessoas dos bairros estão nos cobrando. Outra coisa é o transporte aquaviário, o problema dos portos em Manaus, o problema do transporte rápido por via hídrica, os famosos a jato. E outra coisa são os terminais de carga nos portos, vamos verificar a situação deles também, vamos fiscalizar os portos construídos no interior do Estado.

 “O Ronda no Bairro era o carro-chefe do ex-governador Omar Aziz, eu estranho  que o governador

José Melo tenha dito que continuaria o trabalho do Omar e essa luz foi apagada. Os assaltos

aumentam nos bairros, o governador tem que se preocupar porque, com a saída do

Ronda no Bairro, a situação ficou péssima. O governador está sendo enganado”

 Portal – O senhor tem informação sobre o transporte coletivo nas capitais do Norte brasileiro?

Dallas – O transporte coletivo em Belém do Pará é bem melhor do que o nosso, os ônibus são mais novos, embora os bairros estejam sem asfalto, como Manaus, onde vias importantes e estratégicas como a Silves e a Tefé estão esburacadas e abandonadas. Imagine a situação no Jorge Teixeira, no São José e no Santa Etelvina, é preocupante.

Portal – Como o senhor analisa o confronto estabelecido entre o PMDB e o Palácio do Planalto por causa da recriação do PL. Por que essa briga?

Dallas – A presidente Dilma está prejudicando o PMDB. Querem fazer uma janela de quarentena para que possa se praticar a infidelidade partidária. Eu estou no PMDB há 12 anos, já fui perseguido muitas vezes pra sair do partido. Agora, essa janela é uma tentativa de enfraquecer o maior partido do Brasil, o PMDB. Mas eu creio que o Congresso vá corrigir esse erro, que é um mau começo para a reforma política que está em curso.

Portal – A reforma política não deveria ser acompanhada de uma reforma partidária, já que a burocracia dos partidos é bastante criticada?

Dallas – Toda reforma é boa. Agora, quando você entra num partido, você sabe qual é a norma do partido, o estatuto do partido, e sou favorável também ao famoso “distritão”, ou seja, ganha quem tem votos.

Portal – O senhor é contra o voto de legenda, então?

Dallas – Positivo, quem tem mais votos é quem deve representar o povo no Parlamento.

Portal – A Assembleia Legislativa acaba de aprovar vários projetos de sua autoria. Pode falar sobre eles?

Dallas – Foram aprovados e sancionados quatro projetos de minha autoria, sendo um deles que dispõe sobre empresas que utilizam produtos nocivos à saúde do trabalhador e ao meio ambiente. As empresas devem ser responsáveis pela lavagem do uniforme. Muitas vezes, a pessoa trabalha em uma empresa que opera com produtos químicos e essa empresa não ficava com o uniforme pra lavar. O uniforme era lavado na casa do trabalhador que assim podia contaminar o seu filho, o seu vizinho e comprometer o esgoto ou igarapé próximo a sua residência. Agora, as empresas serão responsáveis pela lavagem dos uniformes dos seus trabalhadores.