18 de Abril de 2024 - Ano 10
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24/03/2015

Stalin - A Besta está cercada

Foto: Reprodução / Internet

Em júbilo com as recentes vitórias de sua máquina militar, o líder máximo da potência comunista afirma que os nazistas estão à beira da aniquilação total. Para Stalin, só falta saber qual será a data da rendição definitiva dos alemães: 'Nem mesmo toda a a

Acumular poder e atropelar inimigos não são as únicas especialidades do marechal Josef Stalin. O georgiano que governa os soviéticos desde os anos 20 é perito em guinadas espetaculares, com enredos tão inesperados e envolventes quanto as obras-primas nascidas das penas de Tolstói e Dostoiévski. Primeiro, passou de pacato seminarista a incendiário militante político; depois, de paupérrimo filho de camponeses a todo-poderoso de uma gigantesca nação. Em sua mais recente mutação, Stalin viu-se subitamente alçado ao status de respeitadíssimo chefe de estado - desde que dividiu uma mesa com Winston Churchill e Franklin Roosevelt, há pouco mais de um ano, durante a Conferência de Teerã, o camarada de ferro integra a cúpula da aliança mais poderosa já vista na História. Nada mau para um homem que, antes desta guerra, não passava de um crudelíssimo ditador visto com desprezo pelo Ocidente.

 

Êxito algum apagará seu vasto e diverso currículo de atrocidades - que, conforme relatos de dissidentes soviéticos, inclui o extermínio de milhões de pessoas. Mas a importância de Stalin e seus comandados para a iminente derrota alemã é incontestável. Nesta entrevista, o líder soviético fala sobre as recentes vitórias do Exército Vermelho, sobre a relação com americanos e britânicos e sobre as implicações do sucesso dos Aliados: "Os nazi-fascistas estão sofrendo não só uma derrota militar, mas também uma derrota política e moral".


...


VEJA
- As tropas soviéticas vêm avançando com rapidez e força espetaculares. Quando conseguirão alcançar Berlim?


Stalin - Há evidências de que o Exército Vermelho cumprirá essa tarefa num futuro não muito distante. Em quarenta dias de ofensiva nos últimos dois meses, nossas tropas desalojaram os alemães de 300 cidades, capturaram cerca de 100 fábricas de tanques, aviões, armas e munições, ocuparam 2.400 estações de trem e passaram a controlar uma malha ferroviária de mais de 15.000 quilômetros. Nesse curto período a Alemanha teve mais de 350.000 homens capturados e nada menos que 800.000 mortos. No mesmo intervalo, o Exército Vermelho destruiu cerca de 3.000 aviões e mais de 4.500 tanques. No front todo, numa faixa de 1.200 quilômetros, demolimos as poderosas defesas dos alemães, construídas ao longo de muitos anos. Os hitleristas vangloriavam-se dizendo que nenhum soldado inimigo colocara os pés no solo alemão em mais de 100 anos e que seu exército lutaria apenas em solo estrangeiro. Pusemos um fim nessa jactância.



"Em seu quarto ano de guerra, o Exército Vermelho soviético é mais sólido e poderoso do que nunca."

 

VEJA - No início da guerra, analistas militares diziam que a URSS levaria três anos para construir uma força bélica capaz de vencer. Hitler atacou antes e seu país teve problemas no início dos combates. Qual é a sua avaliação do estágio atual das forças militares soviéticas?


Stalin
- O Exército Vermelho tornou-se uma força formidável e já é superior ao inimigo em capacidade de lutar e em recursos materiais. Ele foi criado pelo grande Lênin justamente para proteger nosso país dos agressores estrangeiros, e acaba de percorrer uma gloriosa rota de desenvolvimento. Nossa atual ofensiva mostrou que o Exército Vermelho encontra maneiras de resolver problemas de complexidade cada vez maior. Os valentes soldados aprenderam a esmagar e destruir os inimigos de acordo com todas as regras da ciência militar moderna. Vêm praticando milagres de heroísmo e auto-sacrifício, combinando a braveza e ousadia na batalha com o aproveitamento total do poder de suas armas. Em seu quarto ano de guerra, o Exército Vermelho é mais sólido e poderoso do que nunca.


VEJA - Mas tudo ficou mais fácil quando os Aliados decidiram abrir um segundo front na Europa, algo que o senhor pedia havia anos...


Stalin
- Sim, sem dúvida. Conforme minha previsão, o inimigo não conseguiu agüentar os golpes conjuntos das tropas aliadas e do Exército Vermelho. Sem a organização desse segundo front, nossas forças seriam incapazes de quebrar a resistência alemã e expulsar os inimigos das nossas fronteiras em tão pouco tempo. Mas é preciso lembrar também que, sem as operações do Exército Vermelho, as tropas dos países aliados não seriam capazes de lidar tão rápido com as tropas alemãs e derrotá-las na Itália, França e Bélgica. Essa foi a chave da vitória.


VEJA
- A URSS é o único país comunista entre as principais potências aliadas. Como é a relação do senhor com os americanos e britânicos, que antes da guerra o tratavam como um rival no campo ideológico?


Stalin - Nossa convivência é muito amigável. Durante toda a guerra, os hitleristas fizeram esforços desesperados para desunir os Aliados, para colocá-los uns contra os outros, para fomentar suspeição e hostilidade entre eles. É compreensível que tenham feito isso. Não há nada mais perigoso para eles do que uma aliança forte contra o imperialismo de Hitler. Mas os esforços dos políticos fascistas foram em vão, como todos hoje sabem. A aliança entre a URSS, os EUA e a Grã-Bretanha não é baseada em motivos casuais e temporários, mas em interesses de importância vital. A decisão tomada na Conferência de Teerã pela realização de missões conjuntas contra a Alemanha e a brilhante execução dessa decisão são exemplos notáveis da consolidação da coalizão anti-Hitler.


"É claro que há discordâncias. No fim, porém, elas são resolvidas por nossos líderes em plena harmonia."


VEJA - Mas não há discordâncias significativas sobre os métodos e objetivos da guerra?


Stalin
- É claro que há discordâncias, e haverá outras mais no futuro. Discordâncias podem existir até entre pessoas de um mesmo partido; entre os representantes de diferentes partidos e diferentes nações, mais ainda. O mais surpreendente não é o surgimento de discordâncias, mas sim o fato de que elas são tão raras, e que, via de regra, são resolvidas em espírito de união. Não são as discordâncias que importam, mas sim o fato de que elas não ultrapassam limites ditados pelo interesse conjunto das três grandes potências. No fim, são resolvidas em plena harmonia.


VEJA
- O senhor não teme que os alemães repitam no front soviético uma ofensiva como a de Ardennes, que desencadeou a Batalha do Bulge e impingiu baixas significativas aos EUA?


Stalin - Bem, é possível que isso ocorra. Nosso condenado antagonista está usando suas últimas forças e oferecendo uma resistência desesperada para escapar de um implacável castigo. Está se agarrando aos mais extremos e desprezíveis métodos de luta. Desta forma, quanto mais próxima a vitória, maior deve ser nossa vigilância e mais fortes devem ser os golpes que desferimos contra o inimigo. De qualquer forma, a toca da besta fascista está cercada por todos os lados. Nem toda a astúcia do mundo salvará o inimigo da completa e inevitável derrota. Os Aliados vencerão a guerra contra a Alemanha, e disso já não há mais dúvida alguma. Vencer essa guerra significa consumar uma grande causa histórica. Mas vencer não significa garantir uma paz duradoura aos nossos povos. A tarefa não é só vencer a guerra, mas também evitar outra guerra, pelo menos por um bom tempo.


VEJA - E como o senhor pretende fazer isso?


Stalin - Depois que for derrotada, a Alemanha será totalmente desarmada, é claro. Não só militarmente e politicamente, mas também economicamente. Mas seria ingenuidade pensar que ela não tentará recuperar sua força e embarcar em novas agressões. Todos sabem que os governantes alemães já estão fazendo planos para outra guerra. A História mostra que mesmo um período muito curto, de vinte ou trinta anos, pode ser suficiente para permitir que a Alemanha se recupere de uma derrota e reconquiste sua força bélica.


"Hitler já colocou o planeta inteiro contra a Alemanha. A chamada 'raça superior' tornou-se alvo do ódio geral."

 

VEJA - Mas como evitar as agressões dos outros países? E, se outra guerra surgir, como impedir que ela se transforme num grande conflito de amplitude mundial, como o de agora?


Stalin - É impossível negar que as nações pacíficas podem ser surpreendidas por novas agressões no futuro. Mas isso só ocorrerá se elas falharam em criar medidas especiais capazes de impedir essas agressões. Além de desarmar completamente as nações agressoras, há só uma forma de se conseguir isso: montar uma organização especial com representantes de países pacíficos, para proteger a paz e garantir nossa segurança. Será preciso colocar à disposição de seu comando uma força militar capaz de impedir as agressões, e fazer com que essa força seja usada sem demora para prevenir ou liquidar possíveis ataques e punir os responsáveis por eles. Ela não deve ser uma mera réplica da Liga das Nações, de triste memória, que não tinha poderes nem meios de impedir agressões. Deve ser uma organização internacional nova, especial, forte. Ela pode ser eficaz? Sim, se os países pacíficos mantiverem um espírito de unanimidade e harmonia.


VEJA - O senhor acredita que o nazismo e o fascismo sobreviverão depois da guerra, ressurgindo no futuro?


Stalin - Impossível. Os nazi-fascistas estão sofrendo não só uma derrota militar, mas também uma derrota política e moral. A ideologia da igualdade de todas as raças e da amizade entre as nações conquistou uma vitória incontestável contra a ideologia do nacionalismo brutal e do ódio racial. Com sua política canibalesca, Hitler mobilizou o mundo inteiro contra a Alemanha. A chamada "raça superior" tornou-se o alvo do ódio universal. Mas vale ressaltar que os soviéticos não odeiam os alemães por causa de preconceitos raciais ou questões nacionalistas. O povo soviético odeia esses invasores não porque eles são de outro país, mas porque eles causaram sofrimento e infortúnio impensáveis a nós. Nosso povo tem um velho ditado: "O lobo não é caçado só porque é cinza, mas porque devora o carneiro".


VEJA - O povo soviético chega à etapa final desta guerra com uma imagem muito diferente de antes, em especial no mundo ocidental. Ninguém nega o papel decisivo de seu país para deter Hitler. Qual é o significado disso para o senhor?


Stalin - Agora que a guerra se aproxima de um fim triunfante, o papel histórico assumido pelo povo soviético enfim se destaca em toda a sua grandeza. Nosso povo se privou de muitas coisas, suportou voluntariamente severos apuros. Todos admitem agora que, através de toda a sua luta e sacrifício, o povo soviético salvou a civilização européia dos golpistas fascistas. Este é o grande serviço histórico prestado pelo nosso país a toda a humanidade. Enfim, nosso povo conquistou de forma merecida a fama de nação brava e heróica.

 

Fonte: Veja.abril.com.br

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