20 de Abril de 2024 - Ano 10
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23/01/2015

Vila Isabel: de Noel a Martinho, a magia da escola kizombeira

Foto: Divulgação / Agência O Globo

Componente da Vila em 1988: desfile foi histórico Foto: Delfim Vieira / O Globo

Uma escola em que a essência é verdadeiramente o samba. Assim é a Unidos de Vila Isabel, de composições memoráveis, de desfiles em que venceram os fundamentos primeiros do carnaval e de respeito a tradições, mas que não fica engessada no tradicionalismo. Talvez por terem esses tantos motivos para se orgulhar que os componetes ficaram tão ressentidos da folia passada, em que alas se apresentaram sem fantasias, numa aparição irreconhecível da campeã de 2013.


Este ano, o sentimento na escola é de resgate da dignidade. Para isso, aposta no enredo "O maestro brasileiro está na terra de Noel, a partitura é azul e branco, da nossa Vila Isabel", sobre Isaac Karabtchevsky, desenvolvido pelo carnavalesco Max Lopes. E a meta, como já dizia o velho samba exaltação, é mostrar para o povo que o berço do samba (ou um deles) é em Vila Isabel.



História

 


Destaque em desfile da Vila em 1980: escola se inspirou em texto de Drummond - Arquivo / O Globo



Impossível falar de Unidos de Vila Isabel sem lembrar de "Kizomba, festa da raça", Martinho da Vila e Noel Rosa... Mas nessas lembranças tão intrínsecas à azul e branca reside uma curiosidade. Noel morreu em 1937. E a Vila só surgiu quase uma década depois, em 4 de abril de 1946. Surgiu no quintal de Antônio Fernandes da Silveira, o Seu China, na época recém-chegado ao Morro dos Macacos, vindo do Morro do Salgueiro. E desde esse embrião lá estava a relação entre a agremiação e Noel. Explica-se. É que, para Seu China, era inconcebível que o bairro do poeta não tivesse uma escola de samba, assim como os morros da vizinha Tijuca tinham as suas e, ali perto, já fazia história a Estação Primeira de Mangueira.


A Vila de Noel começou modesta. No primeiro desfile, em 1947, não tinha mais de cem componentes. Mas seus bambas já davam as caras, um dos mais brilhantes deles o compositor Paulo Brazão. Foram deles os quatro primeiros sambas da Vila.


Só na década de 1960, a Vila realmente ganharia corpo. Em 1965, foi vice-campeã do Grupo 2, com "Epopeia do Theatro Municipal", o que lhe deu direito de voltar a desfilar entre as grandes em 1966 (depois de algumas oportunidades não tão bem sucedidas em anos anteriores). A escola agora tinha patrono: o bicheiro Miro Garcia, que resolveu investir pesado para deixar a Vila no desfile principal. E conseguiu. Com "Três épocas da História do Brasil", a azul e branca foi quarta colocada, na frente do Salgueiro.


Foi nos preparativos para esse mesmo carnaval, vindo da Aprendizes da Boca do Mato, que chegou à escola aquele que se tornaria um de seus maiores símbolos, Martinho da Vila. Ele não desfilou em 1966. Mas, em 1967, venceu pela primeira vez a disputa de samba na azul e branca, em parceria com Gemeu, para o enredo "Carnaval de ilusões". A Vila foi, de novo, quarta colocada. E Martinho faria história com seu estilo de compor.


Vieram "Quatro séculos de modas e costumes", "Iaiá do Cais Dourado", "Glórias gaúchas", "Onde o Brasil aprendeu a liberdade"... Em 1980, em cima de um poema de Carlos Drummond de Andrade, ele compôs "Sonho de um sonho".


"Sonhei / Que estava sonhando um sonho sonhado / O sonho de um sonho / Magnetizado", diziam os primeiros versos do samba.


Em 1984, outra obra de Martinho embalou a Vila. Era "Para tudo se acabar na quarta-feira". Mas, apesar das grandes composições, a azul e branca não ganhava. Em 1987, com o carnavalesco Max Lopes, o enredo "Raízes" e um belíssimo samba de Martinho, a agremiação ganhou o Estandarte de Ouro de melhor escola, mas ficou apenas na quinta posição no julgamento oficial.


A história mudaria em 1988. Parecia que daria tudo errado. O presidente e messias da Vila, o Capitão Guimarães, tinha deixado o comando da escola para assumir a Liga Independente das Escolas de Samba. A Vila tinha perdido sua quadra de ensaios. E no barracão se preparava um desfile muito longe do luxo das adversárias. É clichê. Mas quando é para ser, é. Quem assumiu a agremiação foi a então mulher de Martinho, Lícia Maria Caniné, a Ruça. O enredo era inspirado nos festivais de cultura negra promovidos pela dupla. Ganhou o título de "Kizomba, festa da raça". O samba era dos mais belos da história, de Rodolpho, Jonas e Luiz Carlos da Vila. E, na Avenida, tudo conspirou a favor. A Vila surpreendeu. Finalmente o campeonato chegou!


Com "Direito é direito", de 1989, e sua comissão de frente de mulheres grávidas, a Vila faria outro grande desfile, ficando com o quarto lugar. Mas a década seguinte não seria das melhores. No início dos anos 1990, a escola vascilou até nos sambas. Nesses tempos turbulentos que a azul e branca veria nascer seu maior campeão de sambas-enredo, o professor André Diniz. Ele estreou já com pompa, levando o Estandarte de Ouro de melhor samba em 1994, com "Muito prazer! Isabel de Bragança e Drumond Rosa da Silva, mas pode me chamar de Vila". Mas nem alguns bonitos sambas seguraria a crise na azul e branca.


Em 2000, a escola foi rebaixada para o grupo de acesso. Penaria por lá até 2004, quando venceu o grupo com "A Vila é para ti..." Na volta ao Grupo Especial, a azul e branca contratou Joãozinho Trinta e um décimo lugar foi o suficiente para mantê-la entre as grandes. Apenas um ano depois, em 2006, com um novo mecenas, Wilson Vieira Alves, o Moisés, a escola conseguiria o que ninguém imaginava, num desfile rico e colorido. Com "Soy loco por ti América: a Vila canta a latinidade", do carnavalesco Alexandre Louzada, foi, pela segunda vez na história, campeã do carnaval, apesar do polêmico patrocínio da empresa venezuelana PDVSA, com apoio do presidente do país bolivariano, Hugo Chávez.

 

Foto:  Marcos Ramos / O Globo


A Vila, então, passaria a brigar sempre pelas primeiras posições. Em 2009, em mais uma homenagem ao Theatro Municipal, juntou os carnavalescos Paulo Barros e Alex de Souza, num carnaval elogiadíssimo, em que o bota-abaixo promovido pelo prefeito Pereira Passos no Rio foi representado no abre-alas, um cortiço que era montado e demolido na Avenida. Em 2010, não deixou passar em branco o centenário de nascimento de Noel, com mais um belo samba de Martinho. E, em 2012, já com a carnavalesca Rosa Magalhães, foi terceira colocada, mais deixou a todos encantados com uma explosão de cores e muita alegria em "Você semba lá... Que eu sambo cá! O canto livre de Angola".


Para o ano seguinte, 2013, a Vila guardaria mais uma de suas pérolas. O enredo era "A Vila canta o Brasil celeiro do mundo - Água no feijão que chegou mais um...". O samba juntou os bambas Martinho da Vila, Arlindo Cruz, André Diniz, Leonel e Tunico da Vila e, claro, não poderia resultar em nada diferente de um já clássico do gênero. A carnavalesca Rosa Magalhães caprichou para recriar na Avenida o clima singelo da roça. E os componentes da Vila repetiram seu show de canto e evolução na Sapucaí. A azul e branca foi campeã de novo! Com louvor.


O carnaval de 2014... Bem, tem muito vilaisabelense que preferer até esquecer. A equipe vitoriosa de 2013 foi quase toda embora. O barracão atrasou, faltou dinheiro e sobraram problemas administrativos. O desfile de "Retratos de um Brasil plural" só não foi mais desastroso porque o povo de Vila Isabel segurou a onda na Avenida. Para muitos, a escola deveria ser até rebaixada. Ficou com uma salvadora 10ª posição. Mas deixou uma má impressão que a azul e branca, agora, com uma nova direção, está disposta a apagar.


Compositores e sambas

 


Paulo Brazão foi o primeiro grande compositor da azul e branca (Foto:  Marcos Ramos / O Globo)


"A grande paixão / Que foi inspiração / Do poeta é o enredo"... E que poetas, com tanta inspiração, tem a Vila Isabel. Martinho, certamente, é o mais famoso deles. Mas a azul e branca sempre teve uma ala de compositores com muitos bambas de responsa, diriam os malandros do samba. O primeiro deles, sem dúvida, é Paulo Brazão, parceiro do Seu China nos tempos primórdios da escola. Ao todo, são deles nada menos do que 15 hinos que embalaram a agremiação, quase todos entre as décadas de 1940 e 1960.


Nos primeiros anos da Vila, nem havia disputa de samba-enredo. Só avisavam a Brazão qual era o enredo e ele dava conta do recado. Quase sempre sozinho. De todos os sambas que levou para a Avenida, só cinco foram feitos em parceria. Foi dele o convite para que Martinho fosse para a Vila. Ele costumava contar que encontrou o poeta no lotação, perto do quartel em que o sargento Martinho estava lotado, ali na região da Grande Tijuca, quando fez o convite.
Vindo da Aprendizes da Boca do Mato, escola da região do Grajaú, o primeiro samba de Martinho para a azul e branca foi em 1967. E, de lá até agora, ele foi o autor, sozinho ou em parceria, de outras dez composições com que a Vila desfilou. Já em 1968, um primeiro grande sucesso: "Quatro séculos de modas e costumes", de 1968. "Lá vem o negro / Vejam as mucamas / Também vem com o branco / Elegantes damas", dizia o refrão do meio do samba.


No ano seguinte, mais um belo samba, com "Iaiá do Cais Dourado". Os versos "Cantavam laralalaialaiá / Nas festas do alto do Gantois" eram repetidos em dois momentos da letra. E Martinho, com suas influências do partido alto, ia modificando o gênero samba-enredo, com composições mais curtas do que as comuns na época, além de letras menos rebuscadas. Na década de 1970, em plena ditadura militar, com inteligência, Martinho desafiava os anos de chumbo com suas composições. Em 1972, com "Onde o Brasil aprendeu a liberdade", ele escreveu:


"Aprendeu-se a liberdade / Combatendo em Guararapes / Entre flechas e tacapes / Facas, fuzis e canhões / Brasileiros irmanados / Sem senhores, sem senzala / E a Senhora dos Prazeres / Transformando pedra em bala / Bom Nassau já foi embora / Fez-se a revolução / E a Festa da Pitomba é a reconstituição".


Claro, ele também enfrentou a censura. Em 1975, o samba dele para o enredo "Aruanã-Açu" perdeu a final, porque tinha a letra considerada subversiva. Já em 1980, para "Sonho de um sonho", ainda em tempos de ditadura, ele de novo driblou os censores. Inspirado num poema de Carlos Drummond de Andrade, escreveu versos como "As mentes abertas / Sem bicos calados / Juventude alerta", "Era um por milhares, milhares por um / Como livres raios riscando os espaços" ou "A clemência e ternura por amor da clausura / A prisão sem tortura, inocência feliz / Ai meu Deus / Falso sonho que eu sonhava".


Outros sucessos de Martinho viriam em 1984, com "Para tudo se acabar na quarta-feira" (dos versos que abrem este capítulo) e "Raízes", o primeiro samba-enredo sem rimas. E seria dele o enredo que elevou ainda mais o tom político dos desfiles da Vila: o inesquecível "Kizomba, festa da raça", desfile que trouxe Paulo Brazão num trono e com a trilha sonora composta por Luiz Carlos da Vila, Jonas e Rodolpho, outros dos grandes compositores da azul e branca.


Martinho voltou a ganhar o samba na Vila em 1993, com "Gbala - Viagem ao templo da criação". E, no ano seguinte, surgiria mais um herdeiro da arte de fazer samba na Vila: André Diniz. As próximas décadas seriam dele, oficialmente o autor de 15 sambas na Vila a partir dali. Autor de sucesso, mas que enfrentaria uma polêmica em 2006 com seu ídolo Martinho. Para "Soy loco por ti América: a Vila canta a latinidade", André estava numa parceria, e Martinho disputava com outro samba. Na disputa, André venceu e, assim, começou a confusão. A discussão apontava para os caminhos que os sambas seguiam, com refrões cheios de empolgação.


Celeumas à parte, a vida seguiu na Vila. Martinho venceu o samba de 2010, sobre Noel. Em 2012, o belo samba para o enredo de Angola, de Evandro Bocão, Arlindo Cruz, André Diniz, Leonel e Artur das Ferragens, trazia como novidade os contracantos no meio da composição. O intérprete Tinga cantava um verso, a escola respondia com outro. Já 2013 foi histórico: pela primeira vez Martinho e André assinariam um mesmo samba, junto com Arlindo Cruz, Leonel e Tunico da Vila, filho de Martinho. "A Vila canta o Brasil celeiro do mundo - Água no feijão que chegou mais um..." era um samba diferente, com seu jeito meio roceiro, tão propício ao enredo. Não deu outra, levou o Estandarte de Ouro de melhor samba.


"Ô muié, o cumpadi chegou / Puxa o banco e vem prosear / Bota água no feijão / Já tem lenha no fogão / Faz um bolo de fubá", dizia o samba.


Bateria e sua musa

 


Ritmista da Vila em 2006: a escola foi campeã (Foto: Domingos Peixoto / O Globo)


Tanto suingue que o apelido da bateria não poderia ser outro: a "swingueira de Noel". A alcunha é recente, vem da década passada. Mas as características que fizeram jus ao nome já eram cultivadas há décadas, com mestres como Ernesto e Mug. Com eles, ganharam força as características tão próprias da Vila Isabel.


- Olha, eu tenho uma primeira (parte do samba) mais alta e tenho uma segunda mais caidinha - explicou certa vez Mestre Mug, com toda sua simplicidade, sobre a diferença da bateria da Vila para as outras.


Tão peculiar que, na recente passagem do mestre Átila (que fez fama no Império Serrano) pela azul e branca, ele não conseguiu tanto sucesso quanto já tinha obtido com a verde e branca de Madureira.

 

Sabrina Sato é a rainha de bateria da Vila (Foto:Roberto Moreyra / Agência O Globo)


Desde 2012, é outro filho da casa, o Mestre Wallan, sobrinho de Mug, que comanda os ritmistas da azul e branca. Ao lado dele, como rainha, a musa da Vila tem os traços orientais de Sabrina Sato. Simpática, bela e carismática, ela arrasa corações na Avenida. E não tem dúvidas quando é perguntada sobre o que uma rainha precisa ter para ser tão popular quanto ela.


- É preciso ter personalidade e amar a comunidade - afirma.


Velha guarda

 


A velha guarda musical da Vila na formação de 2005 (Foto: Camilla Maia / O Globo)


É o Sr. Aladir quem preside a velha guarda da Vila Isabel, fundada em agosto de 1964, com os componentes mais antigos e experientes da azul e branca. A proposta é manter viva a tradição da escola. E o grupo conta ainda com um segmento musical.


O grupo em questão é a Velha Guarda Musical, formada no início da década de 2000 por Adilson da Vila. O objetivo era resgatar a história do bairro de Vila Isabel, numa época em que explodiam os casos de violência na região.


- Queríamos fazer um evento perto da comunidade que todo mundo pudesse ir e voltar com segurança. Nossa ideia era resgatar o brilho das pessoas, cantando e contando a história do bairro - explica Adilson.


Dito e feito. A Velha Guarda Musical de Vila Isabel, formada por componentes de diversos segmentos da escola, já rodou o Brasil com suas apresentações e já tocou, inclusive, na Rússia e na China. Além disso, o grupo realiza mensalmente o Passeio Musical, projeto que já recebeu milhares de visitantes. A proposta é andar pelo Boulevard 28 de Setembro, descobrindo as 20 músicas em partitura espalhadas nos dois lados da calçada.
O primeiro CD foi lançado em 2005, "Sou Velha-Guarda, muito prazer", com produção de Martinho da Vila.


Comunidade

 


A quadra da Vila lotada no campeonato de 2013 (Foto:  Alexandre Cassiano / O Globo)


Uma escola que se confunde com o bairro. Assim é a Vila Isabel. No início, porém, os componentes da azul e branca eram, na sua grande maioria, do Morro dos Macacos e seu entorno. Foi na entrada da favela, na casa 3 da Rua Senador Nabuco 248, onde vivia Seu China, a primeira sede da Vila. E foi muito aos poucos que o asfalto, do bairro dos boêmios e artistas, começou a se integrar à agremiação. Quando isso aconteceu, misturando morro e asfalto, estava dado o perfil definitivo da escola.


Hoje, com a quadra na principal via do bairro, o Boulevard 28 de Setembro, a azul e branca é o ponto de encontro da região. Mesmo ano passado, num momento de crise administrativa na agremiação, o povo da Vila a abandonou. Agora, com uma nova administração, que assumiu em 2014, novos projetos sociais para os moradores da região estão em andamento, englobando, entre outras, a comunidade do Morro dos Macacos, onde em novembro de 2010 foi instalada a 13ª Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do estado do Rio de Janeiro.


Atualmente, cerca de 400 pessoas, entre crianças e adultos, são beneficiadas pelas atividades desenvolvidas na escola. Sandra Arueira, diretora de projetos sociais, conta que a adesão às oficinas e ações por parte da comunidade tem sido ótima:


- Eles querem muito mais. A fila de espera é grande e nós já estamos com novos projetos prontos, só aguardando a liberação.

 

Foto:  Alexandre Cassiano / O Globo


Dentre os projetos em andamento, destaca-se o Dia do Samba, em que cerca de 150 crianças já envolvidas na escola mirim participam de oficinas ligadas à música e aprendem a tocar instrumentos. Além disso, por meio do programa Memória da Palavra, jovens de 12 a 16 anos, que já compõem para a escola mirim, desenvolvem a parte literária do carnaval, em especial a fotografia, a pesquisa e a leitura do samba.


- Fazemos com que as crianças entrevistem os compositores, de modo a incentivá-las a fazer sambas - explica Sandra.


Outras ações do departamento envolvem um trabalho junto às baianas e à velha guarda, por meio de um coral. Ao fim do projeto, a Vila Isabel terá um show com convidados especiais e a apresentação do grupo. Além disso, a escola de samba está desenvolvendo um acervo sobre a própria escola e o bairro onde está localizada. Trata-se do Memórias do Samba, com apoio do Ministério da Cultura, que deve ser inaugurado ainda em 2015.


Personalidades - Martinho da Vila

 


Martinho da Vila no desfile de 2013: escola foi campeã pela terceira vez - Fábio Rossi / O Globo

 

O cantor, compositor e escritor nasceu num sábado de carnaval, em 1938, e hoje é baluarte da Unidos da Vila Isabel. Já aos 15 anos de idade, Martinho da Vila compôs seu primeiro samba, intitulado “Piquenique”, que foi cantado no G.R.E.S. Aprendizes da Boca do Mato, agremiação da qual fez parte até o início da década de 1960. Um pouco depois, Martinho foi convidado a ingressar na ala dos compositores da Vila Isabel e, a partir de então, começou a fazer história. Martinho reformatou o samba-enredo, trazendo versos mais concisos e música de compasso mais acelerado.

 

Seu China

 

Assim era conhecido Antonio Fernandes da Silveira. Em 1946, vendo um desfile do Bloco Acadêmicos da Vila, que passava com os seus componentes fantasiados e isolados por uma corda, Seu China teve a ideia de fundar uma escola de samba em Vila Isabel. Foi em sua homenagem, aliás, que decidiram pelas cores azul e branco para a Unidos da Vila Isabel, pois eram as cores da Escola de Samba Azul e Branco do Salgueiro, de que Seu China fazia parte antes de se mudar para o Morro dos Macacos, em Vila Isabel.

 

Paula Brazão

 

Autor de 15 sambas-enredos da Unidos de Vila Isabel, Paulo Brazão foi um dos fundadores da escola e membro da ala dos compositores, que também contava com Tião Graúna, Severo Gomes de Aquino (seu irmão, mais conhecido como Birica), Ciro Baiano, Paulinho da Vila, Aílton Rocha, entre muitos outros. “Três Épocas” (1956), “A imprensa através dos tempos” (1961), “Três fatos históricos” (1963) e “Invenção de Orfeu” (1976) são alguns de seus sambas.

 

Mestre Mug

 

Amadeu Amaral. Esse é o nome do mestre Mug, mestre de bateria que já foi campeão em 1988, seu primeiro ano à frente da Swingueira de Noel – nome da bateria da escola –, com o marcante desfile "Kizomba, a festa da raça". Foram 20 anos no comando dos ritmistas e hoje mestre Mug é presidente de honra da bateria, tendo recebido das mãos do vice-presidente Luciano Ferreira o certificado “Sou da Vila e não tem jeito”, como parte de uma série de homenagens preparada pelo departamento cultural da escola de samba.

 

André Diniz

 

Refrões fortes, que mexem com a arquibancada. Essa é a marca dos sambas de André Diniz, “o baluarte dos tempos modernos da Vila Isabel”. Com 15 conquistas na disputa de sambas-enredo da agremiação, André já foi rival e parceiro de Martinho da Vila e outros grandes compositores. Sua paixão pelo samba também está nas salas de aula. Professor de História, André Diniz costuma fazer curtos sambas de improviso em sala de aula e usa trechos de composições para abordar períodos históricos.


O grande desfile

 


O abre-alas da Vila em 1988: desfile histórico - Arquivo / O Globo


A presidente Ruça pediu licença aos orixás para entrar na Avenida. Martinho convocou toda a massa a vibrar. Na bateria, os mestres Mug e Ernesto deram o comando para os ritmistas. E quando a voz de Gera começou a entoar o samba de Rodolpho, Jonas e Luis Carlos da Vila, já estava traçado: que noite divina o povo de Vila Isabel proporcionaria! Naquela madrugada de segunda para Terça-Feira Gorda de 1988, a Vila Isabel faria "Kizomba, festa da raça" na Avenida. Seria uma das maiores apresentações da História do carnaval. Mais que um desfile: no ano do centenário da abolição da escravatura no Brasil, seria militância política na passarela, grito contra o racismo e sede de destruição do regime de segregação do apartheid na África do Sul. Também seria celebração, do brilho dos bambas da branca e azul. Congraçaria “gente de todas as raças”, muitos negros, brancos e quem mais chegasse, africanos, baianos, de todo o Rio ou dos Macacos. Todos imbuídos de um mesmo objetivo, festejar a raça!


Sem o brilho de strass, espelhos ou lantejoulas, mas com o fosco da África, palha da costa e búzios, a Vila surpreendeu a todos. Conscientizou, emocionou e pôs para sambar. Desbancou as favoritas e conquistou o primeiro campeonato no grupo principal. Tudo lindo, sem dúvidas. Mas não foi fácil. Primeiro, o carnavalesco Miltinho, ao descobrir ter o vírus do HIV, teve de se afastar dos preparativos do carnaval no barracão. A escola estava sem quadra, ensaiava na rua, na garra. Faltava dinheiro. Mas aí tudo começou a conspirar a favor.


O enredo era inspirado nos festivais Kizomba, que Martinho da Vila promovera anos antes no Rio. Vários representantes dos movimentos negros se juntaram à festa: o Kimbanda, do mestre Geraldo, de Angola, o Ilê Aiyê, os Filhos de Ghandi... Guerreiros africanos vinham na comissão de frente. Num dos carros, os atores do filme "Quilombo", de Cacá Diegues. Uma ceia de verdade, feita por uma cozinheira da comunidade, encerrava o desfile. E, a cada minuto, a apresentação crescia em emoção.


"Valeu, Zumbi! / O grito forte dos Palmares / Que correu terras, céus e mares / Influenciando a abolição / Zumbi, valeu! / Hoje a Vila é Kizomba / É batuque, canto e dança / Jongo e maracatu / Vem menininha pra dançar o caxambu", dizia o samba.


Não deu outra: a Vila conquistou seu tão sonhado campeonato. Um desfile que, literalmente, não se repetiu. Choveu nas vésperas do desfile das campeãs, que acabou cancelado. Ou seja, quem viu, viu. Quem não viu... Nunca mais!


A escola em 2015

 


Sabrina Sato é a rainha de bateria da Vila (Foto:Roberto Moreyra / Agência O Globo)


A Vila aposta no carnavalesco Max Lopes para se credenciar ao título do carnaval carioca. O "Mago das Cores" retorna à agremiação após 19 anos, cheio de disposição. Ele investe num enredo que mistura o clássico e o popular na Avenida: "O Maestro brasileiro na terra de Noel... Tem partitura azul e branca da nossa Vila Isabel", inspirado no talento e regência do maestro Isaac Karabtchevsky.


Outra novidade deste desfile na azul e branca é a estreia de Dandara Ventapane, neta de Martinho da Vila, no lugar da porta-bandeira Natalia Pereira, com problemas no joelho. Com samba na veia e uma história com o carnaval, ela comemora a escolha da escola e promete dedicação total ao lado de Diego Machado.


Sob a liderança do mestre Wallan Amaral desde 2012, a bateria Swingueira de Noel esquenta os tamborins para homenagear a música clássica. À frente dos ritmistas, a rainha Sabrina Sato participa ativamente dos ensaios e, desde 2010, exibe toda sua simpatia e carisma na Sapucaí.


Em comemoração aos 80 anos do maestro Isaack Karabtchevsky, a escola será a quarta a desfilar no primeiro dia de desfiles do Grupo Especial (15 de fevereiro). Para isso se prepara para um grande desfile nos ensaios que acontecem aos sábados às 22h na quadra da escola, Avenida 28 de Setembro 382, e nos ensaios de rua as quartas-feiras às 21h na Boulevard Vinte e Oito de Setembro, no bairro que dá nome à escola.


Conheça a letra do samba que homenageia o músico famoso por popularizar a música clássica no Brasil, de autoria de Carlinhos Petisco, Serginho 20, Machadinho, Paulinho Valença e Henrique Hoffman.

 

Veja aqui a ficha técnica de todas as escolas de samba do Grupo Especial para o carnaval 2015.

 

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Fonte: oglobo.com.br

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