Com croata no comando, pólo aquático levou bronze na Liga Mundial.
A delegação brasileira que começará a disputar os Jogos Pan-Americanos de Toronto, a partir de sexta-feira, será composta por 600 atletas e outros tantos idiomas que não só o português.
Dos 48 esportes previstos no calendário, o Brasil será representado em 46. Deste total, o país contará com técnicos estrangeiros em 38 deles, entre equipes masculinas e femininas. A estratégia tem surtido efeito e colaborado na mudança de forças no mapa esportivo brasileiro. A invasão estrangeira no país que receberá a próxima Olimpíada já resultou em feitos antes muito pouco prováveis em esportes que sempre ocuparam papel de figurante no cenário mundial.
O técnico dinamarquês Morten Soubak foi peça-chave na conquista do Mundial Feminino de Handebol, ao passo que o espanhol Jesús Morlan ajudou Isaquias Queiroz a subir duas vezes no degrau mais alto do pódio do Mundial de Canoagem. A última façanha dos “pequenos notáveis” foi na piscina. Sob a batuta do croata Ratko Rudic, dono de quatro medalhas de ouro olímpicas como treinador, a seleção de polo aquático saiu da Liga Mundial com um bronze.
Além de chefiar e supervisionar o trabalho de outros técnicos, os estrangeiros são, em muitos casos, responsáveis por direcionar um planejamento estratégico para a modalidade, e suas atribuições não se limitam ao que acontece apenas dentro de ginásios, campos e piscinas.
— Meu trabalho é passar uma visão geral, para jogadores e técnicos, as direções para todos trabalharem. O que faço é analisar o contexto e traçar os caminhos por onde vamos passar para atingir nossos objetivos — disse o técnico francês Jean René-Mounie, um dos responsáveis pela ascensão de Hugo Calderano, no tênis de mesa.
A contratação dos técnicos é facilitada por recursos oriundos da Lei Agnelo Piva, que destina 2% do prêmio pago aos apostadores das loterias federais ao Comitê Olímpico do Brasil (85%) e ao Comitê Paralímpico Brasileiro (15%). A previsão para este ano é que o COB repasse diretamente R$ 82,3 milhões às suas confederações. A estimativa de distribuição dos recursos (tabela ao lado) leva em consideração os critérios técnicos e resultados. Além da transferência de conhecimento, eles podem significar dinheiro nos cofres.
Política incentivada
A contratação de técnicos estrangeiros é vista pelo COB como um dos pilares fundamentais para o desenvolvimento dos esportes olímpicos no Brasil. A crença na importação de conhecimento é tamanha que a entidade banca integral ou parcialmente os salários dos treinadores Vitaly Petrov (atletismo), Rubén Magnano (basquete), Morten Soubak (handebol), Jean Maurice Bonneau (hipismo saltos), Oleg Mikhailov (tiro esportivo), Sergio Santos (triatlo) e Javier Torres del Moral (vela).
— A participação de treinadores qualificados no processo de preparação de atletas e equipes é condição básica e fundamental para o sucesso de uma campanha em competições como Jogos Pan-americanos, Campeonatos Mundiais e Jogos Olímpicos — defende Marcus Vinícius Freire, superintendente executivo de Esportes do COB, que acrescenta:
— Geralmente como são referências em seus países, estes profissionais têm a missão de agregar qualidade ao esporte nacional e ainda transferir conhecimentos para seus pares nacionais.
Um dos beneficiários da estratégia encampada pelo COB e difundida pelas confederações, o mesatenista Hugo Calderano vem colhendo os frutos do trabalho com o francês Jean René-Mounie. Além de poder se dedicar exclusivamente ao esporte, já que recebe bolsas do Ministério do Esporte e da Confederação Brasileira de Tênis de Mesa (CBTM), o carioca conta com o diferencial de ser orientado por um profissional de uma escola com representatividade no esporte.
— Temos um planejamento de médio e longo prazo, além de contarmos com o apoio de outros profissionais com muita experiência para trabalharmos a parte psicológica e física — disse o medalhista de bronze da última Olimpíada da Juventude.
Fonte: Extra