24 de Abril de 2024 - Ano 10
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Geral
30/11/2015

Na chacina de jovens, policiais mentiram e montaram cenário do crime

Foto: Júlio César Guimarães / UOL

No sepultamento das vítimas dos policiais, o desespero de mãe e protesto na bandeira nacional

Os policiais militares presos pelo fuzilamento de cinco jovens em Costa Barros, no subúrbio do Rio de Janeiro, disseram em depoimento que foram checar uma denúncia de roubo de caminhão quando criminosos atiraram contra eles. Para a Polícia Civil, no entanto, essa versão é mentirosa.


Os quatro policiais estão presos e podem ser expulsos da PM. O RJTV (telejornal local) teve acesso ao depoimento deles. O soldado Antônio Carlos Gonçalves prestou depoimento no domingo à tarde. Ele disse que ele, o cabo Fábio Pizza Oliveira da Silva, o soldado Thiago Viana Barbosa e o sargento Márcio Darcy dos Santos foram checar uma denúncia de roubo de caminhão de bebidas na rua José Arantes de Melo, perto do morro da Lagartixa, em Costa Barros. E que, quando chegaram lá, foram recebidos a tiros. O caminhão estava sendo saqueado.


Ainda de acordo com o soldado Antônio Carlos, dois homens, em uma motocicleta, atiraram de fuzil contra os policiais, que revidaram. Em um carro, o carona estava armado e também disparou contra os policiais. Os dois homens na motocicleta conseguiram fugir. Um deles era irmão de Wilton Júnior, um dos cinco rapazes mortos. A perícia encontrou a arma citada no depoimento do policial perto dos corpos.


Mas, para o delegado responsável pelas investigações, os policiais mentiram. A mãe de um dos meninos também acredita nessa versão. Ela disse que viu quando um dos policiais colocou a arma dentro do carro.

 

 

Estado do carro ocupado pelos cinco rapazes no Rio

(José Lucena / Futura Press / Estadão Conteúdo)

 

 

Mãe viu toda a montagem da farsa


“Ele botou a luva na mão, ficou abaixadinho lá, mexendo no rapaz que estava no carona. Deu a volta por trás, por outro lado, pegou a chave, botou no porta-malas. Por isso que ele não estava deixando eu chegar perto, porque não queria que eu visse que eles estavam fazendo aquilo, mas eu estava vendo tudo. Eu vi tudo”, disse a mulher.


Questionada se chegou a ver o policial colocar a arma dentro do carro, ela afirmou que sim. “Eu vi e eles colocaram a outra arma no chão, ali perto da roda. Eles botaram, eu vi, eu vi tudo”, afirmou.


Os quatro policiais militares foram presos em flagrante e levados ao Batalhão Prisional, em Niterói. Três deles vão responder por homicídio doloso, quando há intenção de matar. E todos por fraude processual, por alterar a cena do crime. Eles podem ser expulsos da PM.


O secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, condenou a atitude dos policiais. “A ação que esses policiais fizeram é uma ação trágica, indefensável, que transcende qualquer capacitação. É uma demonstração do caráter que eles têm. Desnecessária e exagerada e essas pessoas já estão presas, vão responder criminalmente e administrativamente e acredito que, pelo que está no indiciamento, possivelmente, tem processo todo aí, poderão sem dúvida nenhuma ser excluídos da corporação”, disse.

 

Caso é repetição de ato covarde e criminoso


Os cinco jovens voltavam do parque Madureira. Foram comemorar o primeiro salário de Roberto Souza Penha, de 16 anos. Carlos Eduardo Souza, também de 16, Cleiton Corrêa de Souza, de 18, Wilton Domingos Júnior, de 20, e Wesley Castro, de 25, eram amigos de infância. Dois deles tinham passagem pela polícia. Wesley respondia por tráfico e associação para o tráfico. Cleiton, por furto.


O caso lembra o do jovem morto no morro da Providência, em setembro, onde um vídeo feito por morador mostrou policiais militares colocando uma arma na mão de um rapaz, quando ele ainda agonizava. Os policiais estão presos.


No fim de outubro, outro caso parecido foi registrado. Policiais atiraram contra dois rapazes em uma motocicleta, na Pavuna. Eles disseram ter confundido um macaco hidráulico com uma arma. Os policiais eram do mesmo batalhão do caso deste fim de semana.

 

Comandante do batalhão da Polícia Militar é tirado do cargo


O comandante do batalhão, coronel Marcos Netto, foi exonerado. Mais cedo, em entrevista ao telejornal Bom Dia Rio, ele disse que este foi um caso isolado.


Em nota, a secretaria de Segurança Pública afirmou que exonerou o comandante por causa dos últimos lamentáveis acontecimentos envolvendo policiais sob o seu comando, que conflitam com as orientações da corporação.


O governador Luiz Fernando Pezão disse que vai cobrar punição rigorosa ao caso. “Muito dolorido, abominável, triste ver 50 tiros no carro. Pedi apuração muito séria, que nossa Procuradoria-Geral do Estado, defensoria de assistência social, ofereça apoio mínimo. Não repara, é dolorosa, mas quero o estado muito presente e que, se tiver que punir, que puna imediatamente”, afirmou.


Enterro das vítimas, emoção e revolta


Para as famílias das vítimas, esta segunda-feira foi de despedida. Os corpos de quatro dos rapazes mortos foram velados em capelas vizinhas no cemitério de Irajá, na zona Norte do Rio.


Wesley Castro tinha 25 anos e um filho de 2 anos. Wilton Esteves Domingos Júnior, de 20 anos, ia se formar como técnico em administração. Carlos Eduardo da Silva Souza e Roberto de Souza Penha tinham 16 anos. A família diz que Roberto estava feliz por ter recebido o primeiro salário como aprendiz em um supermercado.


Antes dos cortejos começarem, uma bandeira do Brasil foi aberta e nela havia furos, como se fossem de balas. As famílias misturam sentimento de revolta e de tristeza por eles terem partido tão cedo e de forma tão violenta.


Até o começo da noite, o corpo de Cleiton Correia de Souza, que tinha 18 anos e procurava um emprego com carteira assinada, ainda não havia chegado ao cemitério de Irajá. A mãe dele estava revoltada com a demora e reclamava da burocracia imposta pelo IML para liberação do corpo. A Polícia Civil, no entanto, afirmou que a liberação havia ocorrido às 22h de domingo.


“Eu não posso beijar, eu não posso abraçar, eu não vou poder mais ver meu filho falar assim: ‘mãe, me dá um cafuné’. Foi a ultima coisa que o meu filho me pediu, no dia que ele morreu, senhora. O meu filho tinha 18 anos, mas era uma criança. Ele deitou no meu colo e falou: ‘mãe, me faz um cafuné’, como se fosse um bebê”, desabafou Mônica Aparecida, mãe de Cleiton.


A administração do cemitério de Irajá informou que Cleiton Corrêa de Almeida deveria ser enterrado ainda na noite desta segunda-feira.

 

Fonte: G1
 

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