29 de Marco de 2024 - Ano 10
NOTÍCIAS
05/07/2015

O movimento que mudou a face do Oriente Médio e do Islã

Foto: AP/1979

Revolução iraniana mudou todo o país persa e acirrou disputas entre xiitas e sunitas. De volta. O aiatolá Khomeini, após 14 anos de exílio, retorna ao Irã.

Dentro do Irã, a impressão é de que se parou no tempo. É o que revelam as reportagens sobre a Revolução Islâmica, publicadas em 1979, e as atuais. “Mulheres do Irã saem às ruas contra islamização”, na capa de O GLOBO de 9 de março de 79. “Iranianas questionam o uso do hijab com campanha na internet”, foi a reportagem que abriu a edição dominical da seção O Mundo, de 8 de junho do ano passado, sobre a obrigatoriedade de usar o véu religioso. Já a edição de 18 de fevereiro de 79 dizia: “Irã pode executar outros acusados de ‘traição’”. Enquanto o Segundo Caderno de 5 de março último publicou: “Memórias do cárcere iraniano”. Em comum, prisões arbitrárias e torturas, dentre outras violações dos direitos humanos.


— Há mais execuções hoje do que na época do presidente Mahmoud Ahmadinejad — enfatiza o professor de Direito Internacional Payam Akhavan, da McGill University, nascido em Teerã, e que se mudou com a família para o Canadá por causa da revolução. — Mesmo com o presidente Hassan Rouhani, o compromisso com a questão nuclear não se traduz em distensão dentro do país.

 

Já se vão 36 anos da revolução que tirou a palavra “xiita” do dicionário e lançou-a no dia a dia, transformada em sinônimo de radicalismo. No Irã, isso se reflete na repressão a quem não segue a interpretação da lei muçulmana da sharia imposta pela elite religiosa. Ao mesmo tempo, foi inspiração para movimentos fundamentalistas.

 

— A revolução de 1979 mudou fundamentalmente o Oriente Médio — afirma Akhavan, fundador do Centro de Documentação dos Direitos Humanos no Irã. — Aprofundou-se a politização entre xiitas e sunitas, persas e árabes. Principalmente pela disputa entre Irã e Arábia Saudita, reflexo dessas divisões.

 

O GLOBO seguiu de perto a crise da monarquia e a queda do xá Reza Pahlevi e a ascensão de Khomeini de janeiro a abril de 1979. O aiatolá prometeu, na capa de 2 de fevereiro: “Khomeini ameaça Irã com banho de sangue”. E cumpriu, na capa de 14 de março: “Fuzilados mais 13 que colaboraram com o xá”, ou, como se escrevia na época: “Foram passados pelas armas”. Nesse meio tempo, ameaçava “lançar a jihad”, a guerra santa.

 

Perseguição às minorias

 

Aos 37 anos, a correspondente Any Bourrier, baseada em Paris, entrevistou Khomeini em seu exílio na cidade francesa de Neauphle-le-Chateau:

 

— Estava diante de um homem sem nenhum carisma, falando uma língua que eu não entendia. De uma religião que não tem respeito pelas mulheres. Só queria que aquilo acabasse rápido: eu não queria estar ali — lembra Any, hoje com 72 anos.

 

A revolução não persegue só mulheres. Gays e seguidores de outras crenças também sofrem com o regime. “Seis foram fuzilados, acusados de delitos homossexuais ilegais”, foi publicado em 8 de março daquele ano.


— Percebemos logo: prenderam e mataram bah’is. A Guarda Revolucionária invadiu nossa casa. Meu pai e meu irmão foram presos — recorda Kamran, que pertence à fé baha’i, aos 11 anos fugiu de Teerã e hoje mora no Rio Grande do Sul. — Ver vizinhos e amigos serem mortos, sem julgamento, levou nossa família a fugir.

 

Kamran ressalta que, ainda hoje, o regime tenta sufocá-los pela via econômica, fechando lojas de baha’is. Mas, apesar das dificuldades, tem “certeza de que o futuro da nação é brilhante, mas o caminho a percorrer vai passar por momentos difíceis”. Percalços que, segundo o professor Akhavan, ainda podem se agravar, com o aumento do jihadismo:

 

— A luta por supremacia entre Irã e Arábia Saudita já teve terríveis consequências na Síria, Iraque e outros lugares, e pode ser ainda mais desastrosa.

 

 

Fonte: O Globo

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