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30/04/2016

Odílio Rodrigues Filho rompe silêncio: 'O que o pai do Neymar fez foi imperdoável'

Foto: Divulgação

Odílio Rodrigues Filho, com camisas de Neymar ao fundo

Expulso há 15 dias do Santos pelo Conselho Deliberativo por gestão temerária junto com outros 8 dirigentes, o ex-presidente do clube Odílio Rodrigues Filho rompeu o silêncio de mais de 1 mês. Desde que prestou depoimento de 4h30m sobre o caso Neymar na 5ª Vara Federal de Santos, em 16 de março, adotou um "silêncio obsequioso", como definiu seu advogado Luiz Eduardo Monteiro Lucas de Lima. Em entrevista exclusiva ao Panorama Esportivo, o médico falou por mais de 3 horas no escritório de seu defensor ao lado dele e de Luiz Claudio de Aquino Barbosa Perereira, ex-vice de sua gestão, também expulso do quadro santista. Os dois vão processar o Santos pela decisão. "Não tenho outra alternativa a não ser recorrer à Justiça", disse Odílio.

 

Ele concordou em dar a entrevista após o Panorama Esportivo obter o relatório da Comissão de Inquérito e Sindicância, que propôs somente pena de suspensão dele do quadro associativo pelo período de 1 ano, e de 9 meses para os demais envolvidos (veja no pé do post). Durante a conversa, seu advogado mostrou um documento comprovando que Odílio e Luiz Claudio assinaram como fiadores de R$ 21 milhões em contrato de prorrogação de empréstimo de um banco para o Santos já na gestão de Modesto Roma Júnior. O ex-presidente falou sobre o caso Neymar: "o que o pai dele fez foi reprovável e imperdoável".


Confira os principais trechos da entrevista:

 

Como foi o seu depoimento à Justiça Federal em Santos?

 

Foi dividido em dois blocos de perguntas. No primeiro, fizeram perguntas sobre a venda do Neymar do Santos para o Barcelona por € 17,5 milhões (mais € 2 milhões caso ele figurasse na eleição dos três melhores jogadores do mundo) e o pré-contrato que ele havia assinado com o clube espanhol. Na segunda parte, concentraram-se nos questionamentos sobre outros contratos: um de € 7,5 milhões, de cooperação técnica entre os dois times e a preferência de jogadores; e outro, de dois amistosos entre as equipes, com um jogo lá e outro aqui, e as bilheterias revertidas totalmente para cada mandante. A primeira partida já foi realizada. Como o Santos tinha medo que a segunda não o fosse, queria garantir os € 4,5 milhões de multas previstos no acordo.

 

Por que havia esse medo?

 

Em 2013, a CBF havia barrado a participação do Santos na Copa Audi sob a alegação que afetaria o calendário do Campeonato Brasileiro. O clube havia sido convidado para participar do torneio na Alemanha, com participação do Bayern de Munique. A entidade acabou liberando o São Paulo para jogar, e remanejou dois jogos do Brasileiro para isso. A partir daí, houve o receio de que a CBF pudesse vetar o amistoso com o Barcelona, por não ser um jogo oficial. Como o time espanhol não quer pagar a multa, está tentando marcar a segunda partida para este ano ainda.

 

E por que a DIS denunciou o senhor à Justiça da Espanha?

 

A empresa alega que esses dois contratos foram uma grande simulação para mascarar o valor real da transferência do Neymar. Como eram detentores de 40% dos direitos do jogador, reivindicam receber dinheiro sobre esses acordos também. Num ponto de vista de esperteza, querem apenas tirar uma casquinha disso. Mas estão interessados mesmo nos € 40 milhões que o Barcelona pagou pelo Neymar.

 

Como foi essa venda?

 

Tenho certeza de que o Santos fez o melhor negócio. O contrato do Neymar venceria em junho de 2014. O clube, preocupado com isso, fez uma proposta de renovação até 2016. Chamamos o pai dele para conversar, mas ele não aceitou. Falou que havia a janela de transferência para resolver: "se não venderem, assinarei um pré-contrato em janeiro de 2014". Fizemos as contas: no 2º semestre de 2013 teria a Copa das Confederações, e o Neymar iria jogar muito pouco pelo clube. Em 2014, era a Copa do Mundo, e ele faria um número pequeno de partidas também. Ele não estava numa fase muito boa e já havia sido vaiado na seleção brasileira. Era a pior situação possível: ou vendíamos em dois meses ou ele corria o risco de sair de graça. Uma vez, quase tomei porrada de um sócio quando falei isso. Ele perguntou, irritado: "como de graça? E todos os títulos que ele conquistou e tudo que fez pelo clube?!". Mas se,quiséssemos vender, tinha que ser naquele momento. Por isso, o Comitê Gestor decidiu vendê-lo. Neymar decidiu pelo Barcelona. Mas vendemos num cenário extremamente adverso sem saber que ele já estava acertado com o clube bem antes.

 

E como o senhor soube do pré-contrato de 2011 com o Barcelona?

 

Pela imprensa. Para nossa surpresa, saiu uma declaração do presidente do Barcelona dizendo que ele havia custado € 57 milhões. Isso gerou uma desconfiança muito grande. Enviamos uma carta para o clube e para a Fifa questionando o destino desse dinheiro, e foi nos respondido apenas que os outros € 40 milhões haviam sido pagos "aos protagonistas". O Fisco espanhol entrou em ação, e o pai do Neymar disse que havia recebido a diferença em contratos sigilosos. Mandamos um ofício para ele comparecer ao Santos, mas nunca respondeu. Entramos na Justiça para ter acesso aos documentos, mas perdemos. Contratamos um advogado na Espanha, e acabou o meu contrato.

 


Neymar e o pai após prestarem depoimento à Justiça da Espanha

(Foto: Reprodução / Internet)


O senhor concorda com o Ministério Público Federal, que acusa o pai de Neymar de ser o mentor de um grande esquema de irregularidades?

 

Penalmente não posso julgar. Mas, do ponto de vista ético, o pai dele cometeu um erro grave ao assinar contrato com o Barcelona sem o Santos saber. O que ele fez é altamente reprovável e imperdoável.

 

O senhor se sente traído?

 

O Santos e eu fomos traídos. Foi terrível! Eu não dormia! Escutei comentários de que muitos clubes não fizeram propostas porque já tinha conhecimento do pré-contrato com o Barcelona. O Santos negociou na boa fé como se fosse um livre mercado.

 

Acha que o Neymar tem alguma culpa nessa decisão?

 

Quem sempre geriu a carreira dele foi o pai. Tenho esperança de que o Neymar um dia volte para o Santos, pois foi o segundo maior ídolo da história do clube.

 

E o senhor tem esperança de voltar ao clube?

 

Sim. Vou ter que entrar na Justiça contra a decisão da expulsão, não há outra alternativa.

 

O senhor não esperava que isso pudesse acontecer?

Não. Até porque o parecer do Comissão de Sindicância e Inquérito decidiu pela minha suspensão e dos demais integrantes da minha gestão. Tive acesso ao relatório apenas no dia da votação no Conselho Deliberativo. E decidiram pela expulsão no grito, porque sequer estava prevista essa pena.

 

E como o senhor recebeu a notícia?

 

Estava em casa com a minha mulher, e amigos conselheiros começaram a me mandar mensagens avisando e ligando para prestar solidariedade.

 

Como se sentiu?

 

É um sentimento misto de injustiça, indignação e revolta. Foi uma decisão política sem fundamentação. Aceitamos o convite para formar um comitê de gestão quando o ex-presidente Luís Álvaro se licenciou do cargo. O Santos vivia uma crise muito grande. Recebemos o clube com mais de R$ 100 milhões de dívidas trabalhistas e com fornecedores, sem patrocinador master, com uma folha de pagamento de mais de R$ 6,3 milhões, fora encargos. As pessoas fizeram o que era possível, mas foram condenadas e expulsas, acusadas de gestão temerária. Temerário é ser da diretoria. Esse linchamento moral vem desde a época que saímos do clube. Me senti envergonhado de ser tratado como bandido. Isso causou um sofrimento enorme à minha família. Fomos ofendidos aos sermos considerados indignos de fazer parte do clube. Como explicar para meus netos, que são sócios, que fui expulso?

 

E por que o senhor se calou por tanto tempo?

 

Quem cala também se indigna. Sempre tive a maior discrição. A exposição excessiva não é uma coisa boa. Não queria transformar a imprensa num tribunal, como fizeram comigo. Por isso, aguardei calado até o fim do processo.

 

Por que acha que foi tomada essa decisão?

 

Em agosto de 2013, quando aceitamos assumir o clube até o fim do mandato, numa situação adversa, de maneira voluntária, sabíamos que teríamos que reduzir os custos administrativos e atividades meio. Despedimos alguns gerentes que que ganhavam salários altos, por necessidade. Essas pessoas voltaram para o Conselho Deliberativo e, no dia seguinte, viraram nossos adversários. Nunca tive otimismo com o que eles fariam. Tenho amigos conselheiros que diziam que era impossível nos defender.

 

Mas e as contas reprovadas na sua gestão, em 2014?

 

As contas foram aprovadas com ressalvas por uma auditoria externa. O parecer do Conselho Fiscal é viciado. Não há nada sobre dano patrimonial que justifique nossa expulsão. Ninguém falou em geração de prejuízo material ao Santos, únicos motivos para expulsão de acordo com o estatuto.

 

Parecer de comissão de sindicância (Foto: Divulgação)

 

Fonte: O Globo

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