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17/11/2017

Walter admite vergonha da barriga: 'Olho para o espelho e penso: putz, tá brabo'

Foto: Reprodução

Walter é sincerão, transparente mesmo. A vida o ensinou a encarar tudo e todos de frente. “Eu acho que sou sincero demais, né?

Walter sofreu com as privações. De carinho, de abraços, de apoio. Sente falta do pai que não conheceu, do irmão mais velho assassinado na porta de casa, do outro irmão que entrou e saiu da cadeia ao longo de 12 anos.

 

Relembra a comida que demorava a chegar quando a mãe saía para trabalhar e voltava sabe-se lá que horas.


Era tanta coisa que precisou dar um drible na vida para compensar. E transformou as ausências em excessos. Superlativo mesmo.

 

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É muita gula, muito peso, muita sinceridade, muito coração. Fala o que pensa, doa a quem doer.

 

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Não leva desaforo para casa, nem foge da briga. Muito talento com a bola nos pés, também.


Walter é a soma desses dois extremos. É o cara que se atrasa por 1h para a entrevista.

 

Mas mantém o bom humor por horas debaixo do sol escaldante de Goiânia.

 

É o garoto humilde que chegou ao sucesso mas nunca se esqueceu das raízes.

 

Se você quiser entender um pouco mais quem é ele, leia a entrevista feita um pouco antes de ele sair do Atlético-GO.


O super sincero 


Walter é sincerão, transparente mesmo. A vida o ensinou a encarar tudo e todos de frente. “Eu acho que sou sincero demais, né?

 

Sou um jogador que fala o que pensa. Tem jogador que aqui é uma coisa, fora é outra, entendeu? E eu não sou assim".


"A maioria dos assessores de imprensa chega para você e diz: 'Ó, tem que falar isso, tem que falar aquilo'. Todo lugar tem isso.

 

'Se perguntar isso, faz isso'. Mas eu falo o que eu penso, falo o que eu quero. Eles nem chegam perto de mim”.


“Eu sou muito esquentado. Se eu perceber uma coisa com que não me sinta bem, estouro rápido.

 

Se me falar uma coisa e eu não gostar, também me estouro rápido. Eu sou uma pessoa sossegada, mas se mexer comigo eu estouro”.


E isso já trouxe bastante dor de cabeça. "Tem vez que eu me atrapalho muito porque no meio do futebol você não tem que ser muito sincero.

 

De vez em quando, você tem que mentir um pouco, porque parece que a imprensa gosta assim. Ser muito sincero dá rolo”.


O Walter é melhor gordo ou magro?

 


A luta contra a balança vem desde a infância. Mas a pergunta que não quer calar é se Walter joga melhor magro ou acima do peso.

 

Ele tem convicção que não pode emagrecer demais. “Muito magro, o Walter não rende. Porque, querendo ou não, o meu jogo é segurar a bola.

 

Se eu emagrecer muito, eu fico sem força. Aí não dá. Perco a bola. Por isso é que tem que ter uma carninha a mais”.


“No Fluminense eu me senti muito fraco. No Atlético-PR também.

 

No Atlético-GO também teve um jogo em que fui me pesar e vi que emagreci muito e, no jogo, não rendi.

 

Estava me sentindo fraco, entendeu?”.


Mas isso não quer dizer que prefira estar gordo. “Eu, com o peso mais alto, também me sinto um pouco mais preso. Não consigo correr muito.

 

Mais magro, eu me mexo mais, corro mais, me sinto melhor”.


Eu não sou um jogador igual aos outros. Onde eu passar, tem que ser diferente”.


“Jogador com meu peso não joga. Tem jogador que, quando está com mais dois ou três quilos, fica travado.

 

E eu às vezes jogo com dez quilos acima e dou conta. Corro. Porque estou acostumado com este corpo. Meu percentual de gordura é maior.

 

Só que a minha massa magra é muito boa. São 85 kg de massa magra. Tipo, é muito grande”.


Eu gosto de comer massa. Só coisa leve, light. Massa, churrasco, doce. Pergunta se eu como salada. Nunca.

 

Eu gosto de comer cachorro-quente, hambúrguer. Um pastel com caldo de cana é bom demais. Eu gosto muito.


Bullying

 


Tem tanto torcedor que pega no meu pé no estádio. "Ô gordinho, tá gordo, baleia". Eu só fico pensando: "Vou fazer o gol e vou calar a boca".

 

Tem coisa que a imprensa diz que pega muito pesado também.


Sobre o bullying que sofre pelo peso


Quando fui para o Fluminense, falaram que eu não tinha futebol, que eu era uma vergonha e não tinha condição de vestir a camisa do clube.

 

Fiquei machucado porque ninguém sabe da minha vida, da minha história.


Melhor fase tinha aposta para emagrecer.


Enderson Moreira percebeu isso quando comandava o Goiás, em 2013, e teve a ideia criativa de fazer apostas com o atacante.

 

Quem perdesse mais peso, ganhava dinheiro. Deu certo: Walter teve o melhor ano da carreira e se tornou um filho do treinador.


“Para você ver, o momento em que eu fiquei mais gordo foi em 2013, que foi o meu melhor ano.

 

Por isso que eu agradeço ao Enderson Moreira. Ele entendia. Às vezes, a gente apostava e quem perdia mais peso pagava.

 

Mas ele é malandro demais. Na cabeça dele, com a aposta, eu ia dar a vida para não perder dinheiro.

 

Se eu perdesse 2 ou 3 kg, já ajudava. E era isso mesmo. Eu perdia peso e ele não perdia nada. Aí me pagava R$ 50.

 

Por isso que eu tenho um carinho muito grande por ele. Chamo ele de pai, porque foi um pai para mim.

 

E me deixou jogar, me deu confiança e foi aí que eu estourei para o Brasil”.


Walter teve muitos outros técnicos na carreira. Para ele, nem todos tiveram a mesma sensibilidade.

 

“No Cruzeiro, o Celso Roth chegou e falou: ‘O Walter não tem perfil, não está magro e não vai jogar comigo’.

 

E eu estava mais magro que no Goiás. Acho que foi o único técnico que falou isso, que eu não ia jogar por causa do peso.

 

No Atlético-GO, quando o Doriva assumiu, falou que se eu não emagrecesse eu não ia jogar”.


Walter na seleção de Felipão? Teve gente pedindo

 


Walter chegou ao ápice em 2013, pelo Goiás. Naquele Brasileirão, marcou 13 gols e ganhou a Bola de Prata teve gente até sonhando com uma convocação para a seleção, então comandada por Felipão: "Se no Brasileiro você faz gols em jogos seguidos, você é muito visto.

 

E aí teve um jogo contra o Grêmio em que eu fiz dois gols. Ganhamos por 2 a 0. Foi aí que o torcedor pediu Walter na seleção", lembra.

 

"Mas o peso me atrapalhou, né? Porque eu acho que se eu fosse um jogador que estivesse bem com o peso naquele momento poderia virar uma dúvida para o Felipão.

 

Seleção, querendo ou não, é momento, né? E eu estava muito bem. Mas só o gostinho de o torcedor gritando já valeu a pena".


"Vale a pena investir no Walter por causa do peso?"

 


O pecado capital da gula se tornou um problema real na carreira de Walter: "Até hoje muita gente não me contrata por isso.

 

É um risco muito grande. O investimento, graças a Deus, é alto porque eu não sou um jogador livre. Sou do Porto, da Europa.

 

Tem que pagar uma multa. Será que vale a pena investir no Walter, por causa do peso?

 

Por isso que, de vez em quando, os times ficam meio com medo de me contratar, entendeu? Mas eu estou dando a volta por cima", diz.

 

"Com todo o respeito ao Atlético-GO, se eu tivesse com o peso sempre bem, poderia estar num time bem maior.

 

Se tivesse bem poderia até estar na Europa. Podia estar na seleção brasileira. Porque muita gente fala isso, né?"


Conselho de Tite para fechar a boca

 


Quando Tite me vê, sempre fala: "Você tem uma qualidade muito grande.

 

Só cuida do seu peso para ganhar dinheiro, para continuar muito tempo no futebol". Eu falo: "Pode deixar, professor.

 

Pode deixar que eu vou fazer de tudo". É uma pessoa que tem um carinho muito grande por mim.

 

E eu tenho um carinho muito grande por ele.


Sobre o relacionamento com técnico da seleção


O Tite é uma pessoa que merece muito estar na seleção. Não é à toa que eu fechei a boca e estou aí trabalhando cada vez mais forte.

 

É difícil, é complicado. Quem sofre com peso, sabe que é muito difícil.

 

Mas sempre penso em dar o meu melhor para, quem sabe, chegar à seleção, que é um dos meus sonhos também.

 

Filha no hospital fez Walter treinar virado e voltar ao Brasil


Walter realizou o sonho de jogar na Europa em 2010 quando foi vendido ao Porto por 3 milhões de euros.

 

Teve bons momentos e jogou com Falcao García, Hulk e James Rodriguez. Mas foi lá que ele viveu um dos maiores dramas de sua vida adulta.

 

Sua filha Catarina Vitória nasceu prematura, com apenas seis meses, e lutou muito para sobreviver.


“O médico falou que foi uma coisa de Deus. Entre dez, acho que morrem oito. Foi um milagre. A minha cabeça não ficou focada no Porto.

 

Imagina eu ver a filha por três meses internada? O pulmão estava com os tubos ainda.

 

Eu ia para o treino de manhã e passava a noite toda no hospital. A mesma coisa no outro dia, a noite toda no hospital. Não tinha cabeça.

 

Eu tinha medo que, a qualquer momento, a minha filha pudesse morrer. Por isso que o nome dela é Catarina Vitória”.


Catarina venceu a batalha e teve a ajuda de uma pessoa especial: o atacante Hulk.

 

“No momento em que ela passou mal, ele foi lá e trocou para um hospital melhor.

 

Ele levou ela e pagou uma entrada, junto com o meu empresário.

 

Porque eu não estava no momento, estava com o time reserva que tinha ido jogar. Ele sempre me tratou muito bem. É um irmão, irmão, irmão.

 

Tenho um carinho muito grande”.


Mesmo com a situação controlada, Walter decidiu voltar para o Brasil.

 

“Comecei a ficar chateado com o que estava acontecendo com a minha filha e pedi para ir embora.

 

Disse que queria cuidar da minha filha no Brasil. É o lugar que eu conheço, é o lugar que eu tenho confiança. Foi aí que voltei.

 

Hoje, Vitória está ótima. Uma sapequinha com sete anos”.


"Esse menino é jogador ou lutador de sumô?" 

 

Fotos: Reprodução


Walter dormia e acordava com a bola como qualquer garoto da sua idade. Entre idas e vindas, passou pela base do Sport e do Santa Cruz até que um empresário gostou do seu futebol e o levou para o Vitória.

 

O agente não aceitou o valor oferecido pelo time baiano de R$ 800, que estava caindo para a terceira divisão, e o levou para o São José.

 

Mas a realidade era muito pior do que ele imaginava ele acabou ganhando apenas R$ 250.


Walter não se abalou. Chegou quietinho, mas logo arrebentou. Principalmente nos jogos que fez contra Grêmio e Inter.

 

Logo recebeu uma proposta dos dois grandes. O presidente do São José, colorado, preferiu o Inter. Mas o início também foi difícil.


“Eu estava desse tamanho”, diz, fazendo o gesto de bola. “Gordo, gordo, gordo.

 

Aí o presidente chegou e falou: ‘Quem contratou esse menino aqui? Esse menino é um jogador ou um lutador de sumô?’.

 

Gordão, sabe? Aí eu já fiquei bravo. Como um presidente fala isso?”


O atacante, porém, estava valorizado: o contrato era curto, de quatro meses, apenas para o Campeonato Brasileiro Sub-20 e a Copa São Paulo, mas o aumento salarial era grande, saindo dos R$ 250 do São José para os R$1500 que sonhava na época do Vitória.

 

“No Brasileiro fui mais ou menos, não fui tão bem. Mas na Copa São Paulo eu estourei.

 

Aí o presidente falou: ‘Agora é meu jogador. Agora sim’. Aí renovei por mais cinco anos pelo Inter e comprei o apartamento pra minha mãe.

 

Meu sonho realizado”.

 

Walter quer dar o pulo do gato em 2018. Quem sabe na China?


O que falta para Walter ser, finalmente, feliz no futebol? Ele ainda quer dar o “pulo do gato”: uma grande guinada antes de pendurar as chuteiras.

 

Para isso, promete chegar em 2018 com a faca nos dentes. “Eu estou num momento, com 28 anos, em que tem que acontecer agora.

 

Com 29, 30 anos. Tem que acontecer algo igual ao que aconteceu em 2013. Pronto. Esse é o momento do Walter, com 29 anos. É um pulo.

 

Quem sabe um contrato bom aí pra China”.


Walter deixou o Atlético-GO na semana passada e ainda faz mistério sobre o próximo destino.

 

Para aumentar as chances de sucesso no novo clube, está disposto até a abrir mão das guloseimas nas férias.

 

“Eu fico quase um mês, 40 dias, só aqui”, diz, apontando para a barriga e rindo. “Mas esse ano de 2018 vai ser diferente.

 

Onde eu tiver, vão falar: ‘Nossa, Walter, é você mesmo?’. Eu não quero passar sofrimento mais não.

 

Já combinei com a minha noiva que por 15 dias a gente dá uma largadinha, mas os outros 15 dias vão ser só trabalho.

 

Quero chegar bem em 2018.”


O sonho de vestir a camisa da seleção brasileira se mantém vivo. “Eu tenho uma história bonita na Sub-20.

 

Tenho uma história bonita na seleção, posso falar isso. Quem sabe uma convocação para a principal?

 

Eu te falei que meu sonho era jogar no Sport e falo para todo mundo que um dos meus sonhos também é vestir a camisa da seleção.

 

Quem sabe um dia?”

 

Uol

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