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29/06/2021

Brasil tem 'legião de bebês prematuros' com alta de covid em grávidas

Foto: Reprodução

Filhas de Expedito nasceram com 26 semanas, mas se recuperam bem na UTI neonatal

O casal ficou surpreso, mas feliz quando soube que teria gêmeas. Aline tinha três filhos de um relacionamento anterior e Expedito seria pai pela primeira vez. O dinheiro para manter a família era pouco, mas eles contavam com a ajuda de parentes.

 

"Minha irmã falou para eu morar na casa dela durante a gravidez, enquanto eu construía a nossa própria casa. Aqui é todo mundo vizinho, é uma vilinha", conta o servente de pedreiro.

 

Mas os planos mudaram de repente, quando Aline, de 31 anos, começou a sentir dor de cabeça, febre e fraqueza. Fez o teste de covid, mas, antes mesmo de receber o resultado positivo, começou a sentir falta de ar e deu entrada no Instituto de Saúde Elpídio de Almeida (ISEA), em Campina Grande.

 

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Três dias depois, sofreu uma parada cardiorrespiratória e os médicos iniciaram uma cesárea de emergência. Foram seis horas tentando salvar mãe e bebês. As meninas nasceram sem respirar, foram reanimadas e levadas para a UTI neonatal. Mas a mãe morreu no mesmo dia, em 30 de maio.

 

Expedito e Aline

Aline estava grávida se seis meses quando pegou covid. Em poucos

dias, teve uma parada cardiorrespiratória e morreu

As bebês, gêmeas, estão internadas

 

As duas filhas, que nasceram com 26 semanas de gestação, continuam internadas sem previsão de alta.

 

"Foi um choque muito grande perder Aline assim. A gente não esperava", diz Expedito. Ao ver as filhas na incubadora pela primeira vez, tão pequenininhas, ele sentiu um misto de emoções.

 

"Fiquei de coração aliviado de ver minhas filhas e de coração partido, porque perdi minha esposa."

 

UTIs neonatais lotadas com 'legião de prematuros'


Casos como o de Aline e as gêmeas prematuras estão se tornando rotina na vida de obstetras e pediatras em todo país. A epidemia de covid-19 no Brasil já matou pelo menos 1.461 grávidas, sendo 1.007 apenas neste ano, segundo dados oficiais compilados pelo Observatório Obstetrício Covid-19.

 

Mas o número é bem maior, segundo especialistas, porque muitos casos de Síndrome Respiratória Aguda (Sars) acabam não sendo testados para covid.

 

Além disso, as altas nos casos de infecção pelo coronavírus em 2021, com a variante P.1 como cepa prevalente, tem provocado uma "avalanche" de nascimentos de bebês prematuros, lotando maternidades e UTIs neonatais em diferentes cidades do país, segundo neonatologistas e obstetras ouvidos pela BBC News Brasil.

 

A P.1, primeiro identificada em Manaus e rebatizada de Gamma pela Organização Mundial da Saúde (OMS), é mais transmissível e capaz de driblar parcialmente anticorpos produzidos pela vacina ou por infecções anteriores de covid.

 

Enquanto em 2020, foram reportados 6.805 casos de grávidas infectadas pelo coronavírus, só nos primeiros cinco meses de 2021, o número foi de 7.679.

 

incubadora

Aumento no número de gestantes com covid em 2021 tem

provocado 'legião de prematuros' nas maternidades

 

"Estamos enfrentando um problema terrível de superlotação, principalmente nos leitos de UTI neonatal covid, porque a gente não pode misturar. É uma legião de prematuros e, muitas vezes, órfãos de mãe", diz à BBC News Brasil a obstetra Melania Amorim, do Instituto de Saúde Elpídio de Almeida, hospital que realiza cerca de 600 partos por mês na Paraíba.

 

"Houve aumento muito grande esse ano de internações e casos de covid-19 em gestantes. Se têm aumento em gestantes, também temos número maior dos nascimentos prematuros."

 

Pesquisas apontam qque a covid-19 aumenta o risco de morte neonatal e de parto prematuro. E, em alguns casos, quando a grávida desenvolve quadro muito grave da doença, os médicos precisam fazer cesárea de emergência e antecipar a gestação, como ocorreu com Aline.

 

"A gente tenta levar a gestação adiante, mesmo com a grávida intubada, estabilizando o quadro dela. Mas em alguns casos, é necessário interromper prematuramente, para tentar salvar a vida da mãe e dos bebês", explica Melania Amorim.

 

A obstetra paraibana coordena uma pesquisa que envolve sete hospitais em três Estados do Nordeste - Pernambuco, Ceará e Paraíba. Entre esses hospitais estão o ISEA, em Campina Grande, a Maternidade Frei Damião, em João Pessoa, e o hospital da Universidade Federal do Ceará, em Fortaleza.

 

"Posso dizer com toda certeza que em todos esses centros a taxa de nascimentos prematuros disparou por conta da covid-19", diz.

 

"Já aconteceu de ter que recorrer a hospitais de cidade vizinha para arrumar leito para bebê prematuro nascido em cesárea de emergência."

 

Superlotação no Sul


E o problema não é localizado no Nordeste. O principal hospital de Porto Alegre está com a UTI neonatal lotada por causa da disparada no número de prematuros nascidos de mães com covid.

 

"A gente nunca tem leito agora na UTI neonatal. Houve um aumento de nascimentos prematuros em função da covid materna. Diria que a situação está pior mesmo desde abril", diz à BBC News Brasil Rita de Cássia Silveira, diretora da UTI neonatal do Hospital das Clínicas de Porto Alegre (HCPA).

 

bebê prematuro

Quanto mais prematuro o bebê, maiores os riscos de

ter complicações após o nascimento

 

Por ser um hospital de referência, o HCPA costuma receber casos graves de bebês com problemas genéticos que chegam de diferentes cidades do Rio Grande do Sul e até de outros Estados.

 

Mas, devido à superlotação causada pela covid-19, transferências foram suspensas.

 

Segundo Silveira, houve um aumento de 20% do número de partos prematuros no hospital emmaio, na comparação com o mesmo período do ano passado.

 

"Estamos lotados, mas tivemos outro dia que produzir uma vaga, porque chegou um bebê transferido por determinação judicial", conta a neonatologista, que também é professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

 

Outras maternidades sofreram superlotação de UTIs com bebês prematuros e grávidas em estado grave entre março e abril, no pico da segunda onda de covid.

 

Foi o caso da Maternidade de Campinas, no Estado de São Paulo, que ultrapassou 100% de ocupação nesses dois meses. Nesse período, três mulheres morreram ainda grávidas ou logo depois de dar luz aos bebês.

 

"Chegamos a ter um grande número de internações de gestantes e puérperas suspeitas ou infectadas pelo coronavírus entre março e abril", disse o diretor do hospital, Marcos Miele.

 

Parto na UTI e múltiplas mortes por dia


Melania Amorim diz que perdeu as contas do número de grávidas intubadas que teve que operar com urgência para salvar os bebês em 2020 e 2021.

 

Tanto no ISEA, na Paraiba, quanto no Hospital das Clínicas de Porto Alegre, partos prematuros tiveram que ocorrer nas UTIs, porque transferir a mulher para o centro cirúrgico significaria risco adicional de queda da oxigenação.

 

"Nossas interrupções, o obstetra tem feito na CTI quando é urgência urgentíssima e a gestante não tem condição de transferência dado seu comprometimento pulmonar", diz Rita de Cássia Silveira, diretora de neonatologia do Hospital das Clínicas de Porto Alegre.

 

"Outro dia operamos uma mãe grávida de gêmeos que entrou em trabalho de parto na CTI. Fizemos a cesárea lá mesmo por causa da gravidade. A mãe continua internada em estado grave. As gêmeas se recuperam bem, mas nasceram com 29 semanas."

 

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Fonte: BBC Brasil

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