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09/08/2020

Bruno Gagliasso sobre luta antirracista: 'Não quero que os meus filhos sejam os únicos negros em um restaurante'

Foto: Reprodução

Ator posou com Títi, Bless e Zyon no dia dos pais

Uma pilha de madeira começou a se formar no jardim da casa de Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank nos últimos dias. Dali sairão as bases e as paredes de uma casa na árvore que o ator constrói para os três filhos do casal: Chissomo, a Títi, de 7 anos; Blessings, o Bless, de 5; e o recém-chegado Zyan, que completou 1 mês de vida ontem. “Tenho lidado com memórias afetivas fortes. Enquanto dou vida a esse projeto, lembro-me de uma das coisas que mais brinquei durante a infância, quando fiz uma casa na árvore com o meu pai, no sítio de uma tia, no interior de Minas.”

 

A influência da figura paterna parece reverberar no que hoje transformou-se na principal ocupação do ator, de 38 anos: “pai de três”, como ele se apresenta para 18 milhões de seguidores no Instagram. “Tive duas grandes referências, o meu pai biológico (Paulo César) e o meu padastro, Fernandão, que também esteve muito presente na minha infância. Então, desempenhar esse papel sempre foi uma vontade e um desafio para mim”, diz. “Não existe algo mais forte e potente para um homem do que ser pai. Nada pode ser maior do que educar e formar um ser humano.”

 

A construção da família, porém, não foi planejada. Primeiro, veio a adoção de Títi, em 2016. “Foi fruto de um encontro durante uma viagem a trabalho (ao Malawi, na África) da minha mulher. O convite partiu das duas e, por meio dessa proposta, pude me sentir pai”, recorda-se Bruno. A menina, então, passou a pedir dois irmãos, “um da barriga e outro do coração”. Os pais decidiram acatar, ao menos em parte, o desejo e partiram para outra adoção. “Dessa vez, fomos conhecer o nosso filho”, conta, sobre Bless, que nasceu no mesmo país de Titi. Ele chegou à família no ano passado, poucos meses antes de o casal ser surpreendido com a gravidez de Zyan.

 

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Giovanna Ewbank e Bruno Gagliasso mostram primeira foto com o filho, Zyan. VEJA

 

Nasce Zyan, 3º filho de Giovanna Ewbank e Bruno Gagliasso. VEJA FOTOS

Apesar das diferentes histórias de cada criança, Bruno afirma que os sentimentos ao recebê-los foram muito parecidos. “A chegada é igual. Não importa como é feita, a emoção é a mesma. A Giovanna não teve desejo durante a gestação e só ficou sensível algumas semanas atrás, como foi quando a Títi e o Bless chegaram. Estou vivendo o puerpério ao lado dela, mas não é a primeira vez que experimento essa sensação”, comenta. “O que muda são os processos. Tem a amamentação, o choro do bebê, mas o sentimento e as emoções são os mesmos.”

 

Bruno Gagliasso, Bless, Títi e Zyan na sala de casa no Rio Foto: Fotos: Wendy Andrade. / Styling: Deborah Ewbank. Edição de moda: Patricia Tremblais. Tratamento de imagem: Stúdio Miquéias Souza. Agradecimentos: Hugo Boss e Paola Da Vinci.

 

Os próprios nomes dos filhos carregam um pouco da maneira como as coisas aconteceram na vida da família. No caso dos dois primeiros, os pais decidiram manter como foram chamados no Malawi. Quando souberam que esperavam mais um menino, viram-se numa situação peculiar. “Não dava para ser Chissomo, Blessings e José, por exemplo”, justifica o pai. Optaram, então, por Zyan, que agradou pela sonoridade.

 

Bruno Gagliasso, Títi, Bless e Zyan Foto: Wendy Andrade

 

Os nomes pouco familiares aos brasileiros, porém, não interferiram na forma como as crianças caíram nas graças do público. Bruno conta que, frequentemente, a família é abordada por fãs que pedem fotos com os pequenos. “Em geral, não deixamos, porque ainda são novos. Mas, às vezes, a Títi e o Bless escutam e dizem: ‘Eu quero’. Eles adoram!” Foi assim no ensaio desta edição, em que a família abriu, pela primeira vez, a casa para uma revista. Os dois irmãos mais velhos estavam à vontade, fazendo poses, diante de uma equipe enxuta, paramentada com aventais, máscaras e mantendo distanciamento. Tudo organizado em função dos horários de Zyan, que tirava uma soneca. O bebê só deixou o quarto depois de acordar, já com o set armado para os cliques em que apareceria, com direito a pausa para mamar.

 

Parte da família Ewbank-Gagliasso Foto: Wendy Andrade

 

A sintonia entre os irmãos impressiona. Em um determinado momento, Títi pediu para pegar o mais novo no colo, e passou alguns minutos aproveitando o irmãozinho. “Estamos curtindo muito essa fase, em que eles estão se descobrindo. Isso faz a gente se emocionar”, comenta Bruno. “Antes de o Zyan nascer, parecia que, além da minha mulher, eu e os meus filhos estávamos grávidos. Era uma expectativa em família.”

 

Bruno Gagliasso no dia dos pais Foto: Wendy Andrade

 

Bruno afirma que ele e Giovanna optaram pela exposição dos filhos logo nos primeiros anos para que tudo fluísse de maneira natural. É assim desde a chegada de Títi, cuja adoção foi descoberta pela imprensa. “Seria melhor mostrarmos uma foto tirada por nós do que ter paparazzi na nossa porta. Então, esconder o Zyan não faria sentido. Não adianta, somos pessoas públicas. Se andasse com uma sacola na cabeça do meu filho, a curiosidade só aumentaria.”

 

Títi e Bless Foto: Wendy Andrade

 

A questão esbarra nas dores e nas delícias de uma família célebre. Recentemente, fotos do casal com o bebê na maternidade expuseram os pais ao tribunal da internet. Bruno e Giovanna foram criticados por levarem uma fotógrafa ao quarto, em meio à pandemia, o que não teria sido permitido a anônimos. “Fiz o que todo pai faz, pedi um fotógrafo, e eles (o hospital) autorizaram. Não fiz nada de errado. Não posso ser acusado de ‘privilégio’ se não sabia que era proibido”, argumenta o ator.

 

Títi e Bless Foto: Wendy Andrade

Fotos: Reprodução

 

A agenda do ator segue reservada à paternidade até o fim do ano. A volta à interpretação está programada só para 2021, quando grava duas séries para a Netflix, uma no exterior e outra no Brasil, cujos detalhes não pode revelar. Ele também está no elenco de dois filmes finalizados, mas ainda sem data de lançamento: “Loop”, uma ficção científica dirigida por Bruno Bini e com o próprio Gagliasso como produtor associado, além do aguardado “Marighella”, de Wagner Moura (ambos pela Globo Filmes). No longa sobre o guerrilheiro que liderou um dos maiores movimentos de resistência contra a ditadura militar no Brasil, na década de 1960, o ator interpreta um delegado torturador. “Faço um personagem extremamente racista, fascista, um homem que é a escória do mal. Ele é bem atual. Muita gente vai se identificar, infelizmente.”

 

Cada vez mais interessado em atuações densas, Bruno afirma não ter sido fácil encarnar o personagem, feito logo após a chegada de Títi. Ao falar sobre isso numa coletiva para a imprensa no Festival de Berlim, onde o filme foi exibido no ano passado, ele chegou a chorar diante dos repórteres. “Mexeu muito comigo, mas quero isso para a minha vida. Sempre tive papéis importantes, que me influenciavam como ser humano. Com a chegada dos meus filhos, vi que é realmente o que desejo fazer”, diz.

 

O delegado de “Marighella” surgiu num momento em que Bruno se engaja ainda mais na luta antirrascista. “Preciso fazer isso para poder ensinar aos meus filhos. Fui aprender Rosa Parks e Malcolm X (ambos líderes do movimento negro americano já falecidos) estudando, lendo, e vou continuar fazendo isso. Não estou pronto e vou estar sempre em busca, principalmente ouvindo. Isso é primordial. Precisamos escutar as pessoas pretas.”

 

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O ator também se aproximou de personalidades como Djamila Ribeiro, filósofa, e Luana Génot, diretora executiva do Instituto Identidades do Brasil e cronista da ELA, e segue ampliando essa rede. “Eu me questiono muito sobre as pessoas presentes nos lugares onde vou. Não quero que os meus filhos sejam os únicos negros dentro de um restaurante. O racismo nos coloca numa bolha que, se nos acomodarmos, nunca será estourada”, comenta. “Se você perguntar ao meu filho de 5 anos quem é Obama, ele sabe. Rosa Parks, também. E o Zyan também vai saber. Ele crescerá ouvindo histórias de heróis negros, que não ouvimos nas escolas. E acredito que os três vão ser adultos incríveis. Senão, não vou ter cumprido o meu papel como pai. É minha obrigação.”

 

O Globo

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