O ministro da Educação, Milton Ribeiro, e o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, assinaram nesta quarta-feira uma portaria que fixa diretrizes para o retorno às aulas presenciais.
O documento, que será publicado no Diário Oficial, reforça medidas previstas em protocolos anteriores já divulgados pelo governo. Entre elas, estão o distanciamento entre os alunos em sala de aula, a utilização de máscaras e aumento da frequência da limpeza das unidades escolares.
O governo não explicou se a portaria implica em alguma alteração das diretrizes lançadas em outubro do ano passado. As pastas não disponibilizaram a íntegra da portaria e os ministros também não responderam a perguntas da imprensa.
Veja também
Queiroga diz ter certeza de que aulas podem voltar com segurança
MEC divulga lista de pré-selecionados para Fies do segundo semestre
A orientação é que os estudantes troquem máscaras de tecido a cada três horas de uso e, no caso das máscaras cirúrgicas, façam a substituição a cada quatro horas; ou quando estiverem sujas ou úmidas. Além disso, a portaria reafirma outras orientações anteriores como a realização das refeições em sala de aula e distanciamento de pelo menos um metro entre as carteiras, seguindo marcações colocadas no chão. O governo também recomenda escalonamento no horário de entrada e saída dos alunos e dos intervalos entre as turmas. A temperatura de quem entrar na escola também deve ser medida.
O governo tem sido alvo de críticas por não promover ações contundentes para reduzir os danos causados pela pandemia no acesso à educação. Desde março de 2020, quando a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou pandemia global as aulas presenciais foram interrompidas em todo os estados do país.
O guia produzido pelo Ministério da Saúde, que consta na portaria, indica que em caso de estudantes com sintomas de Covid-19 a escola deve encaminhá-lo para atendimento em Unidade Básica de Saúde (UBS). Com a confirmação do diagnóstico, o ministério orienta que haja desinfecção imediata do ambiente e as atividades presenciais devem ser reavaliadas.
Durante o evento de assinatura da portaria, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, defendeu a abertura de escolas como um dever constitucional e disse que não é possível postergar a volta às aulas presencial. O Ministério da Saúde afirmou que destinou R$ 454 milhões aos municípios para garantir que escolas da educação básica comprem materiais necessários à prevenção da Covid-19.
— O tema é estratégico para o país. A vida vem sendo importunada de várias formas. As crianças têm sido muito penalizadas, sabemos que o advento da tecnologia traz possibilidade de aulas à distancia, mas uma aula à distância nunca vai suprir as presenciais, principalmente no ensino básico — afirmou Queiroga, repetindo o argumento que tem usado frequentemente de que a escola é importante, entre outros pontos, para garantir a segurança alimentar dos estudantes.
O ministro disse ainda que a vacinação de toda a comunidade escolar "não é imperiosa" para o retorno presencial. De acordo com dados da pasta, o ministério enviou doses suficientes para imunizar com a primeira dose da vacina 100% dos trabalhadores da educação. Na semana passada, o Ministério da Saúde anunciou que adolescentes serão incluídos na vacinação contra Covid-19 após a distribuição da primeira dose para toda a população adulta do país. Mas, alguns estados, como São Paulo, já anunciaram a inclusão desse grupo.
Durante sua fala, Milton Ribeiro reforçou a posição de Queiroga e aproveitou para alfinetar o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, que defendia o distanciamento social.
— Hoje já temos praticamente as vacinas necessárias para os professores distribuídas em todos os estados, não sei se devidamente aplicadas — disse. — Ele (Queiroga) não é daquele tipo que manda ficar em casa e espera as coisas acontecerem, é do tipo que vai em frente e faz as coisas acontecerem.
O governo vem defendendo reiteradamente o retorno às aulas presenciais mesmo antes de a vacinação de todos os profissionais de educação ser concluída. Gestores estaduais e municipais criticam, no entanto, a falta de coordenação do MEC durante a pandemia e a ausência de medidas para reduzir o risco de contágio nas escolas quando as aulas retornarem. Além disso, o governo federal não viabilizou acesso ao ensino remoto por parte dos estudantes. Em julho, o presidente Jair Bolsonaro entrou com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) para barrar uma lei que determina garantia de internet a alunos e professores. Em pronunciamento também no mês passado, Ribeiro classificou o retorno às atividades presenciais como uma "necessidade urgente".
Fotos: Reprouduções
A defesa contundente do retorno presencial, no entanto, não foi revertida em medidas práticas para viabilizar a volta às aulas, de acordo com pessoas da área. Um relatório feito pela Câmara e revelado pelo GLOBO mostrou, por exemplo, que até junho o MEC não havia usado um centavo do cerca de R$1,2 bilhão disponível para estruturar escolas de educação básica para a volta às aulas.
Curtiu? Siga o PORTAL DO ZACARIAS no Facebook, Twitter e no Instagram.
De acordo com o Ministério da Educação (MEC), o governo vai oferecer apoio técnico a estados e municípios por meio do Programa Saúde na Escola e disponibilizará informações sobre os protocolos na plataforma Avamec e nos sites de ambos os ministérios. A portaria oficializando as diretrizes para o retorno às aulas foi divulgada com três semanas de atraso em relação à previsão inicial.
Fonte: O Globo