18 de Abril de 2024 - Ano 10
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Mulher
05/03/2021

Pesquisa mostra que 51% das mulheres sofre preconceito no mercado de trabalho

Foto: Reprodução

Empresas que pautam diversidade penalizam mães e mulheres acima de 30 anos alegando “pouca disponibilidade” ou “incapacidade de detectar novidades”

A vendedora Aline Santana, 36, precisou deixar o mercado de trabalho assim que o isolamento social começou. A empresa em que atuava não trabalharia com home office e ela teve receio de ser infectada pelo novo coronavírus. Neste período, ela passava pelo puerpério depois de dar à luz a gêmeas.

 

Quando suas filhas completaram 8 meses, a vendedora retomou a busca por novas oportunidades e conseguiu a entrevista perfeita. “Eu preenchia todos os requisitos, tinha a graduação que pediam e experiência com o produto ofertado”, explica.

 

A conversa foi animadora e a entrevistadora demonstrou interesse, até que de repente fechou a cara. “Ela leu a ficha, olhou para mim e perguntou sobre as minhas filhas. A empolgação dela caiu na hora”, diz.

 

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Depois da entrevista mal sucedida, Santana conseguiu um emprego e, no período em que concedeu entrevista ao iG Delas, estava providenciando as documentações para começar. “Assim como excelentes profissionais que não têm filhos, aquela mulher precisa de trabalho, tem seus custos. Ser mãe não faz dela melhor ou pior profissional”, afirma.

 

A pedagoga Kátia Pereira de Souza, 49, está há mais de um ano desempregada e também enfrentou uma reação muito similar em uma entrevista de emprego, mas por um motivo diferente: sua idade. Em uma das entrevistas a qual foi chamada, passou na dinâmica em grupo e nas provas de conhecimentos gerais, mas afirma ter sido humilhada pelo entrevistador na entrevista final.

 

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“Ele disse que minha idade incomodava porque como a escola era direcionada para berçário e educação infantil. Disse que precisava de pessoas ativas para brincar, dançar, sentar no chão com as crianças e que não teriam tempo para ensinar isso”, diz.

 

O sentimento de Souza ao sair do local foi de indignação. “Tenho capacidade de trabalhar, tenho conhecimento, experiência e, principalmente, amor pelo que faço. Por que sequer me deram esperança, se não me contratariam?”, questiona.

 

Santana e Souza comentaram suas experiências desagradáveis em entrevistas de emprego em uma postagem na rede social LinkedIn que falava sobre mulheres que, por serem mães ou com mais idade, são desconsideradas em oportunidades de emprego. As queixas delas correspondem a 51% das mulheres que afirmam ter enfrentado preconceito no mercado de trabalho , segundo pesquisa realizada pelo site de empregos Infojob.

 

Não só no Brasil, mas em todo o mundo as mulheres que são mães lidam com uma série de desvantagens impostas pelo próprio mercado de trabalho, como pouca flexibilização de tempo, desvantagens de remuneração e desqualificação de suas capacidades em detrimento de sua condição como mãe. O nome desse fenômeno é Motherhood Penalty (em tradução livre, penalidade pela maternidade).

 

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De acordo com dados apurados pela empresa B2Mamy, que capacita e conecta mães ao mercado de tecnologia e inovação, uma nova mãe surge a cada 20 segundos no Brasil, o que resulta atualmente em 79 milhões de mães no País. A partir do momento em que se torna mãe, 48% decidem sair do mercado de trabalho e só voltam depois de 2 anos e têm suas carreiras profissionais atrasadas em ao menos 6 anos.

 

Dani Junco, CEO da B2Mamy, afirma que, atualmente, é preciso levar em conta os impactos causados pela pandemia, que fez com que 7 milhões de mulheres ficassem desempregadas durante o período de isolamento social, um número considerado 25% a 30% maior em relação aos homens. De acordo com pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o nível de participação das mulheres no mercado de trabalho se igualou ao de 1990.

 

“O motivo maior foi principalmente porque as mães teriam de ficar em casa cuidando dos filhos, já que as escolas estavam fechadas”, explica. De acordo com a pesquisa do Infojobs, a dupla jornada é rotina de quase 86% das mulheres.

 

Rafaella Bassetti, CEO e fundadora da Wishe, hub de investimentos de startups lideradas por mulheres, afirma que as empresas sentem que a falta de tempo das mães é um impeditivo para melhorar seu desempenho. Foi o que Santana sentiu durante sua entrevista de emprego.

 

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Fotos: Reprodução 

 

“Duvido que uma mulher que é mãe nunca ouviu a frase ‘com quem você vai deixar seus filhos para vir trabalhar?’. E não é dita em tom de preocupação com as crianças, mas com a empresa”, afirma a vendedora.

 

Segundo Bassetti, essa é uma pergunta clássica. “A questão da disponibilidade, tempo e dedicação é muito relevante para as empresas. É uma coisa que infelizmente existe”, diz. Esse é um pensamento herdado da maneira como o mercado organiza suas exigências atualmente, que pede dedicação total por parte dos funcionários.

 

“Isso pode funcionar para algumas pessoas, mas para outras não. Essa visão de dedicação da economia hard acaba penalizando essas mulheres, colocando-as no final da fila”, diz.

 

“É um grande desafio ser mãe e mulher nesse país, onde empresas não entendem que são dois papéis importantes na sociedade, não só para as nossas casas, mas também dentro de um cenário desafiador do polo econômico mundial”, afirma Junco.

 

Falsas limitações da idade


De acordo com Bassetti, as pessoas com mais idade, sejam homens ou mulheres , sempre foram penalizadas principalmente por empresas dos setores de ciências, tecnologia e inovação. O motivo seria uma suposta limitação para falar sobre novidades, função atribuída pelas empresas como mais adequada aos mais jovens.

 

“Para esses setores, as pessoas mais novas conseguem acompanhar com mais facilidade o que está acontecendo no mercado, principalmente quem acabou de sair da faculdade”, afirma Bassetti.

 

No entanto, a CEO afirma que essa é uma visão absurda, já que a idade não define a capacidade e o perfil profissional de um candidato. “Dá para a gente transpor esse caso e jogar para qualquer prática discriminatória. É uma percepção infundada que existe no mercado e, infelizmente, constituem o setor”.

 

Essa visão não existe apenas da perspectiva dos candidatos, mas segundo Bassetti, se estende até mesmo aos fundadores das startups. De acordo com ela, os investimentos de uma determinada empresa desse tipo caem à medida que seus fundadores vão envelhecendo. “Existe a percepção de que eles não são mais tão aptos a criar ou a conduzir a empresa por não serem jovens e não se dedicarem mais com tanto afinco”, afirma.

 

As penalidades sofridas pelas mulheres dessa maneira são capazes de deixar sentimentos de rejeição e de baixa autoestima , segundo a psicóloga Paula Dutra.

 

No caso das mães, o sofrimento é paradoxal. “Se por um lado ela tem receio em voltar ao trabalho e deixar seu filho em casa, por outro ela também tem receio em perder o seu trabalho ou não conseguiu se recolocar no mercado”, explica.

 

Já para as mulheres mais velhas, a reação das empresas é justificada como preconceituosa pela psicóloga. Para essas candidatas, todos os seus conhecimentos e sua capacidade de trabalho é desconsiderada por conta de visões muito presentes na cultura das empresas.

 

Mesmo que o setor de recursos humanos das empresas estejam tentando implementar mudanças em grandes corporações, na visão de Junco pouco mudou. “Ainda são replicados modelos da antiga economia que permitem a reprodução desses pensamentos”, diz. Segundo Bassetti, essa visão compromete até mesmo setores que propõem uma economia mais inclusiva, como é o caso das startups.

 

Mais diversidade


Junco sentiu na pela a rejeição do mercado de trabalho quando, em 2015, se reuniu com mulheres para compreender a transição de carreira e maternidade. “Quando fui a um evento de tecnologia e ecossistema de inovação, perguntei como eu poderia adotar ideias dos novos movimentos do mercado para esse público”, conta.


“A primeira frase que escutei é que startups e mães não poderiam estar no mesmo lugar, que são coisas de tempo integral, porque a mesma pessoa não conseguiria fazer as duas coisas ao mesmo tempo”. Um ano depois, ela fundou a B2Mamy. “Percebi como é difícil ouvir uma coisa dessas e como somos desdenhadas. A gente não se reconhece em outros lugares e é preciso que tenhamos um espaço seguro”, diz.

 

Como maneira de alcançar mudanças sobre essa visão, a CEO diz que é preciso criar ambientes de transformação para ouvir as necessidades dessas mulheres e, assim, entender as maneiras pelas quais é possível oferecer ajuda. Como exemplo Junco cita a iniciativa que criou para auxiliar mães com filhos a ter suporte na hora de trabalhar, a Casa B2Mamy Wishe, que busca incentivar mães a empreender.

 

Além disso, o projeto, fruto da parceria entre Junco e Bassetti, oferece conexões e redes de apoio. Atualmente, ele tem base no bairro de Pinheiros, em São Paulo. “Espaços físicos fazem muita diferença para que elas conversem e se sintam seguras. É preciso ter mais espaços no Brasil para apoiar mulheres a passarem por esses desafios”, diz.

 

Bassetti explica que a pressão exercida sobre o mercado para que forme equipes mais diversas também é um bom sinal. “Começa-se a abrir espaços para aqueles perfis que foram prejudicados e para corrigir o sistema, muitos são reinseridos em posições de liderança”, explica.

 

Ela acredita que a verdadeira transformação do mercado de trabalho acontecerá quando novas políticas e práticas forem adotadas; além do aumento da presença de mulheres em cargos altos de grandes empresas.

 

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“No fim das contas, quem manda é o dinheiro. A gente só vai ter transformação quando as métricas de resultados da implementação da diversidade estiverem bem claras, para quando formos questionadas, possamos colocar tudo em um slide e falar: ‘aqui, é isso que estamos fazendo”, diz. 

 

Fonte: iG 

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