09 de Maio de 2024 - Ano 10
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24/11/2014

Arquivo de Gabriel García Márquez vai para o Texas. Colombiano é considerado um dos mais importantes escritores do século XX

Foto: YURI CORTEZ / Agência O Globo

Material inclui manuscritos, cadernos de notas, fotografias, correspondências e objetos pessoais do escritor colombiano

Gabriel García Márquez, que morreu em abril aos 87 anos, foi um crítico ferrenho do imperialismo norte-americano impedido de entrar nos EUA por décadas, mesmo depois que o livro “Cem anos de solidão” lhe garantiu fama internacional e, em 1982, um prêmio Nobel de literatura. Mas agora García Márquez, que nasceu na Colômbia e passou boa parte da vida adulta na Cidade do México, terá sua obra abrigada no Texas.

 

 

O Centro Harry Ransom da Universidade do Texas, em Austin, vai anunciar nesta segunda-feira que adquiriu o arquivo de Garcia Márquez, com manuscritos, cadernos de notas, fotografias, correspondências e objetos pessoais, entre eles duas máquinas de escrever Smith Corona e cinco computadores Apple.

 

No Centro Ransom, um dos maiores arquivos literários dos EUA — e o único “na fronteira com a América Latina”, destaca Steve Enniss, seu diretor — a obra literária de García Márquez será preservada ao lado dos trabalhos de escritores como James Joyce, Ernest Hemingway, William Faulkner, Jorge Luis Borges e outras figuras de importância global.

 

O autor de 'Cem anos de solidão' morreu no dia 17 de abril (Foto: YURI CORTEZ / Agência O Globo)

 

“É quase como se James Joyce encontrasse Gabriel García Márquez, cuja influência do romance do século XX de certa forma se espelha nele”, disse Enniss. “É muito adequado que ele se junte a nossa coleção. É difícil imaginar em escritor com um impacto tão amplo.”

 

O arquivo, comprado de sua família, inclui material relacionado a todos os principais livros de Garcia Márquez, desde “Cem anos de solidão” — representado pelo texto datilografado final enviado ao editor com uma carta escrita a mão acompanhando e apenas umas poucas correções — até “Em agosto nos vemos”, seu romance final (e inacabado), que tem mais de dez versões. Tanto o Centro Ransom quando a família se recusaram a revelar o valor do negócio.

 

“Cem anos de solidão”, publicado em espanhol em 1967 e em inglês em 1970, pode ter transformado a literatura mundial e feito de García Márquez uma celebridade mundial, mas é nos rascunhos de seus livros seguintes que está o maior interesse dos estudiosos.

 

“É como uma janela aberta ao laboratório de um alquimista que não gostava que os outros soubessem as receitas de suas poções”, diz Jose Montelongo, especialista em literatura latino-americana da Universidade do Texas que visitou a casa de García Márquez na Cidade do México junto com Enniss para avaliar o material. “Elas mostram as fraquezas, as versões descartadas, as palavras eliminadas. Você realmente vê a luta em busca da criação.”

 

García Márquez certamente expressava cautela com a perspectiva de estudiosos acompanhando seus passos. "É como ser pego em sua roupa de baixo", disse à Playboy em 1983. Ele destruiu suas notas diárias e as árvores genealógicas de “Cem anos de solidão”, de acordo com uma biografia de 2009.

 

Gabriel García Márquez revelou para o mundo o realismo fantástico

 

Gabriel García Márquez deu forma ao realismo mágico que marcou a literatura latinoamericana. Mas ele mesmo nunca gostou muito desse título e costumava dizer o seguinte: "é só realismo. A realidade que é mágica. Não invento nada. Não há uma linha nos meus livros que não seja realidade. Não tenho imaginação".

 

García Márquez levou para os livros, as histórias dos avós com quem viveu e do amor mítico de seus pais. O trabalho como jornalista também deixou marcas no estilo que o consagrou, assim como a realidade dura da América Latina. Gabo, como era conhecido, costurou tudo isso com a genialidade de um grande contador de histórias.

 

Muitas das lembranças que se transformaram em histórias, vieram da pequena Aracataca, cidade colombiana onde nasceu. Na memória, ele nunca deixou escapar a valentia nem as aventuras de guerra contadas pelo avô, Coronel. Tampouco, a paixão da avó pelos rituais indígenas. Relatos da infância, que imaginação do jornalista, escritor e ativista político levou para as páginas de jornais e de inúmeros livros.

 


“Sou escritor por causa da timidez. Minha verdadeira vocação é ser mágico, mas

fico tão encabulado tentando fazer os truques que tive que me

refugiar na solidão da literatura”, disse Márquez

 

Os primeiros textos de García Márquez foram publicados em jornais colombianos. Brilhante repórter e crítico aguçado, trabalhou em Roma e Nova York como correspondente. A passagem pelos Estados Unidos durou pouco. A família teve temporadas em Barcelona, Caracas e Havana.

 

A dedicação aos livros foi ficando cada vez maior: ficção e não ficção, amores e desamores, um grito contra o narcotráfico colombiano. Mas é com ‘Cem anos de solidão’ que Gárcia Márquez revela ao mundo literário o realismo fantástico. A história da família Buendía na imaginária cidade de ‘Macondo’ é traduzida em quase todas as línguas. O planeta aplaude a obra, mas a preferência do escritor é por outro livro.

 

“’Cem Anos de Solidão’ não é o meu livro, Meu livro é ‘O Amor nos Tempos de Cólera’. Esse é um livro que vai ficar. ‘Cem Anos de Solidão’ é um livro mítico e eu não trato de tirar dele mérito algum. Mas ‘O amor nos tempos de cólera’ é um livro humano, com os pés na terra do que somos de verdade", declarou o escritor colombiano.

 

As aventuras e desventuras de Florentino Ariza e Firmina Daza, personagens de ‘O Amor nos Tempos de Cólera’, encantaram leitores e foram para as telas do cinema, com Fernanda Montenegro no elenco. Em 2004, ele publicou as aventuras de um senhor de 90 anos com uma adolescente em ‘Memórias de Minhas Putas Tristes’, outro sucesso.

 

Considerado um dos mais importantes escritores do século XX, quando recebeu o prêmio Nobel de Literatura pelo conjunto da obra, García Márquez disse: "A grande vantagem do Prêmio Nobel é que nunca mais serei candidato, o que me dá tranquilidade em todos os meses de outubro".

 

Gabriel García Márquez morreu nesta quinta-feira (17) anos 87 anos, na Cidade do México.  Nos últimos anos, mostrou sinais de demência e não publicou mais livros. Amigos suspeitam de que, como no realismo fantástico, ainda será encontrado algum texto inédito, daquele que nos deixou frases assim: “Não chores porque já terminou, sorria porque aconteceu”.

 

Fonte: The New York Times

 

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