28 de Abril de 2024 - Ano 10
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30/11/2014

Pesquisador do Inpa diz que telas em árvores no Condomínio Ephigênio Sales contribuem para morte de periquitos

Foto: Reprodução/TV Amazonas

Periquitos costumam ficar presos em telas de palmeiras

Após a morte de 200 periquitos em Manaus, o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Mario Cohn-Haft, afirmou em entrevista ao portal G1-AM que as telas colocadas nas palmeiras do Condomínio Ephigênio Sales contribuem indiretamente para a morte dos animais.
 
Segundo o especialista em aves da Amazônia, o item deixa os periquitos mais vulneráveis a ataques. As telas foram instaladas em 2012 com a justificativa de que os animais estavam prejudicando a copa das palmeiras imperiais do condomínio ao dormirem no local. A estrutura deveria ficar um mês nas árvores, mas continua sendo usada após mais de dois anos.
 

Para Cohn-Haft, que é curador das Coleções Ornitológicas do Inpa e trabalha com pássaros da Amazônia desde 1987, a morte dos animais em Manaus parece ter sido acidental ou provocada por alguém. "Bandos enormes passam por cima da avenida no final da tarde, e no amanhecer são sujeitos a atropelamento, especialmente por caminhões e outros veículos mais altos. Mas também os indivíduos, centenas ou até milhares, que dormem nas árvores no meio-fio são facilmente alcançáveis por estilingue, arma ou talvez algum tipo de veneno", explicou.

 

O especialista apontou ainda que a maneira mais provável de envenenamento pode ser por pulverização. O motivo, segundo ele, é que os pássaros ficam nas árvores daquela região somente para dormir. "Eles não devem comer na hora de pousar nessas árvores onde dormem. Talvez algum tipo de pulverização por inseticida, por exemplo, mataria os periquitos que dormem ali", disse. Dos 200 periquitos mortos, 40 devem passar por análise para apurar as causas da morte.

 


Pesquisador afirma que periquitos costumam ir às

palmeiras somente para dormir (Foto: Divulgação/Inpa)


De acordo com o pesquisador, estes periquitos de asa branca (Brotogeris versicolurus) costumam ficar na Zona Centro-Sul de Manaus por conta da grande oferta de frutas, especialmente mangas, nesta área da cidade. No entanto, a espécie não é típica da zona urbana, e sim de áreas de várzea nos rios Solimões, Amazonas, Madeira e outros de água barrenta.


O aumento da "invasão" destes pássaros na zona urbana ocorreu em 2011, como aponta o especialista. "Essa e outras espécies costumam 'invadir' a cidade em épocas de safra há longa data, mas nos últimos anos números enormes desta espécie se habituaram a ficar na cidade aproveitando a abundância de frutas. Não acredito que esta invasão tem relação com desmatamento, pois a espécie normalmente habita a várzea das beiras do rios Solimões, Amazonas, Madeira e outros de água barrenta, e é pouco prejudicada por desmatamento desde que tenham algumas árvores e bastante fruto para comer. Não era uma espécie urbana e nem ocorre normalmente em áreas de terra firme, mas aprendeu a achar recursos na cidade", relatou Cohn-Haft.

 


Protesto reuniu mais de 100 pessoas (Foto: Marcos Dantas/G1 AM)


Para o especialista, a escolha dos pássaros pela área onde fica o Condomínio Ephigênio Sales se deve às condições seguras para dormir oferecidas pelas palmeiras imperiais. No entanto, com as telas instaladas nas árvores, a área passou a oferecer risco para os periquitos. "Eles não estão necessariamente comendo naquela região, mas aparecem para empoleirar e passar a noite. Assim, as palmeiras e algumas outras árvores nas proximidades servem como dormitório. Agora, devido ao excesso de periquitos, elas estão cobertas por telas", ressaltou. A utilização das telas teve início em 2012, e deveria ter durado um mês, mas segue até 2014. Na época da instalação, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semmas) deu aval por acreditar que os pássaros poderiam matar as palmeiras.


Cohn-Haft afirmou ainda que desconhece outros casos de grande índice de mortes de periquitos desta espécie em um só dia, como registrado na quinta (27). No entanto, segundo ele, a utilização das telas nas palmeiras que servem de abrigo para os pássaros tem facilitado a morte dos animais. No sábado (29), após protesto no local, os bombeiros resgataram pássaros que estavam presos nas telas. Alguns não resistiram. "As telas não devem causar mortes de forma tão direta, mas uma vez que os periquitos estão acostumados a dormir nas palmeiras, as telas os obrigam a procurarem outros lugares menos protegidos, inclusive as árvores de copa baixa no meio-fio, onde estão mais vulneráveis a vários tipos de ataque, até por pessoas mal intencionadas", afirmou o pesquisador.


O periquito de asa branca, segundo o especialista, é encontrado somente na Região Amazônica. Em áreas urbanas, além de Manaus, ele pode ser facilmente visto nos parques urbanos de Belém, no Pará.



Telas foram instaladas em palmeiras em frente a condomínio

de luxo em 2012 (Foto: Marcos Dantas/G1 AM)


Entenda o caso


Cerca de 200 periquitos foram encontrados mortos, na manhã de quinta-feira (27), na Avenida Efigênio Sales, situada na Zona Centro-Sul de Manaus. A suspeita é de que as aves tenham sido envenenadas. O Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (IPAAM) apura o caso.

 



Cerca de 200 periquitos morreram, segundo Ipaam 

(Foto: Patrick Mota/Amazonas FM)


Por volta das 10h30 desta quinta, os animais estavam caídos na pista, no sentido bairro/centro, e no meio-fio da avenida. Uma testemunha, que não quis ser identificada, relatou, ao G1, ter visto na noite da quarta-feira (26) um homem mexendo na árvore e no chão próximo ao local onde os animais estavam. Ela afirmou acreditar que se tratasse de veneno.


O IPAAM informou, por meio da assessoria de comunicação, que uma equipe do departamento de fauna será enviada ao local para apurar a situação e apontar um diagnóstico sobre o que resultou na morte dos pássaros. O resultado das investigações será divulgado após análise dos órgãos das aves mortas.


Telas de proteção


Os animais mortos foram encontrados nas proximidades do Condomínio Residencial Ephygênio Salles, onde, em janeiro de 2012, telas de proteções foram instaladas nas copas de palmeiras para evitar a morte das plantas.


Na época, o chefe da fiscalização da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semmas), Wellington Alzier, havia informado que a tela de proteção impedia que aves, que todos os dias pousam no local, destruíssem as copas das palmeiras.


A ação causou polêmica entre representantes de Organizações não governamentais (ONGs) de proteção dos animais. Na ocasião, a Semmas informou ainda que, após um mês, seria realizada a retirada das telas para verificar se as aves retornariam ao local ou se já estariam utilizando outras áreas como dormitório. Após dois anos, as telas permanecem nas palmeiras.


Após protesto no sábado (29), homens do Corpo de Bombeiros foram até o local verificar a situação das telas nas palmeiras. Eles abriram as telas e resgataram periquitos que estavam presos no local. No entanto, as telas não foram removidas.



Pássaros mortos estavam na via e no meio-fio da avenida (Foto: Diego Toledano/G1 AM) 

 

Fonte: G1-AM

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