Exército isralense é acusado de abrir fogo contra cidadãos desarmados na fronteira
O saldo de palestinos mortos nos protestos da semana passada na fronteira entre Gaza e Israel subiu para 18 na segunda-feira, disseram autoridades, enquanto Israel rejeitou acusações de uso ilegal de armas letais contra manifestantes desarmados Mais de 750 palestinos foram feridos por tiroteios israelenses no protesto de sexta-feira, disseram autoridades de saúde em Gaza, tornando-se o dia mais sangrento da Faixa de Gaza desde a guerra Hamas-Israel em 2014.
O Hamas, organização extremista que governa Gaza, não disse se o objetivo final dos protestos, que devem ocorrer várias vezes ao longo de seis semanas, é uma tentativa de violar a fronteira. O líder do Hamas, Ismail Haniyeh, insinuou no domingo uma escalada dos conflitos, dizendo que os protestos de sexta-feira tinham "um limite", mas que "da próxima vez não saberemos onde está a linha".
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Israel acusou a organização islâmica de tentar atacar sua fronteira sob a cobertura dos protestos. Autoridades disseram que Israel tem o direito de defender sua fronteira e que as tropas têm instruções para se concentrar no que o exército descreveu como "os principais instigadores". No entanto, o uso de políticas de força foi questionado depois que dois vídeos amadores supostamente mostraram dois palestinos sendo baleados - um morto e um ferido - no momento em que não representavam ameaça para os soldados.
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Em um dos vídeos, um homem identificado apenas como Ibrahim Abu Shanab é visto ajoelhado no chão na primeira das duas fileiras de pessoas orando na sexta-feira, de frente para a fronteira a uma distância de 150 a 200 metros. De repente, ele se levanta, manca alguns metros, desmaia e é levado por um jovem gritando "Deus é grande!".
Adli Abu Taha, que gravou a cena com seu celular, afirmou que Abu Shanab atirou pedras perto da fronteira antes de se juntar ao grupo de orações na sexta-feira. O incidente ocorreu a leste da cidade de Rafa e os paramédicos disseram que Abu Saban foi baleado na perna.
Em outro vídeo nas redes sociais, um jovem é morto por trás quando fugiu da fronteira carregando um pneu. Grupos de direitos humanos afirmam que é ilegal abrir fogo contra palestinos que não representam uma ameaça à vida dos soldados.
As forças armadas israelenses, por sua vez, acusam o Hamas de publicar vídeos incompletos, editados ou "completamente falsos" e disseram que suas tropas cumprem rígidas regras de combate.
Nesta segunda-feira, milhares de pessoas continuam ocupando tendas de acampamento perto da fronteira, mantendo o protesto chamado de Marcha do Retorno, que, segundo os organizadores, durará por seis semanas, até 15 de maio — o dia em que, há 70 anos, teve início a guerra de 1948, data seguinte à criação do Estado de Israel. A ocasião é conhecida entre os palestinos como "Nakba" ou "Catástrofe", marcando o deslocamento de centenas de milhares de palestinos no conflito que envolveu a criação de Israel.
O número de manifestantes, no entanto, já se reduziu em comparação ao primeiro dia, quando houve mortes e a maior parte dos feridos. A maioria deles encontra-se a uma distância segura da fronteira, onde permanecem soldados israelenses.
O protesto foi inicialmente convocado por um ativista palestino das redes sociais, Ahmed Abu Artena, que é politicamente independente, mas foi encampado pelo grupo islâmico Hamas, que governa Gaza desde que venceu as eleições de 2006, as últimas realizadas nos territórios palestinos. O Hamas, que historicamente pregou a destruição de Israel, é considerado um grupo terrorista pelos israelenses.
A promessa dos palestinos é manter os protestos por seis semanas, e acampamentos foram montados na região. As manifestações desta sexta-feira coincidem com o Dia da Terra para os palestinos, homenagem anual a seis árabes-israelenses mortos em 1976 em manifestações contra o confisco de terras por Israel. Também estão previstos tributos na Cisjordânia ocupada e na comunidade árabe-israelense. De acordo com o jornal "Times of Israel", outras mais de 60 pessoas ficaram feridas em protestos paralelos, que levaram às ruas 900 pessoas na Cisjordânia.
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a Marcha do Retorno (Foto: Khalil Hamra / AP)
Os manifestantes também reivindicam o direito de retorno de centenas de milhares de palestinos, que foram expulsos das suas terras ou fugiram da guerra com os vizinhos árabes que seguiu à criação de Israel, em maio de 1948. Os palestinos há muito exigem que até 5 milhões de compatriotas tenham o direito de retornar. Israel descarta a movimentação, temendo um fluxo de árabes que eliminaria sua maioria judaica.
Desde 2008, Israel e Hamas já se enfrentaram em três guerras no enclave palestino. A última delas aconteceu em 2014 e, desde então, os dois lados observam um tenso cessar-fogo. Logo antes do início da concentração para a Marcha do Retorno, o embaixador israelense para as Nações Unidas, Danny Danon, escreveu ao secretário-geral da ONU, António Guterres, e ao Conselho de Segurança da organização para advertir sobre "um perigoso esforço dos líderes palestinos para provocar um conflito, organizando uma série de confrontações em massa" e argumentando que Israel tem o direito de se defender.
O Globo