18 de Maio de 2024 - Ano 10
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18/07/2018

No centenário de Mandela, luta contra racismo continua atual

Foto: Reprodução

O líder sul-africano, com seu rosto tranquilo e voz calma, ensinou as pessoas que o racismo deveria ser substituído pelo amor

"Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar". Nelson Mandela, o homem que pregou o amor ao invés do racismo faria 100 anos nesta quarta-feira (18), se estivesse vivo.


Em função disso, a África do Sul está em festa nesta quarta-feira. Em sua homenagem ao "Tata" (Pai, em tradução livre do xhosa), diversas celebrações estão acontecendo durante toda a semana.


Mandela, nasceu no interior do país, em Mvezo. Se tivesse continuado na vila, "hoje seria um chefe muito respeitado, sabe? Teria uma barriga bem grande, muitas vacas e carneiros", escreveu em seu livro de memórias "Conversas que tive comigo".


Essa, no entanto, não foi a vida que Mandela escolheu para si mesmo. Ele preferiu partir em busca da cidade grande, onde tornou-se um dos maiores nomes do século XX.


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A trajetória de Mandela, ainda hoje, é marcada pela luta contra o preconceito racial. Ele se deu conta da brutalidade do racismo na juventude, quando já estava vivendo em Joanesburgo. Foi então que entrou para o CNA (Congresso Nacional Africano).


Para o professor de Relações Internacionais da UERJ, Maurício Santoro, a figura de Mandela continua a ser representativa na luta contra o racismo, por mais que ela tenha assumido novas formas.


Na época em Mandela surgiu como símbolo, estava acontecendo na África a luta contra os colonizadores europeus, em busca da independência. Mesmo que a África do Sul já se encontrasse em outro patamar, Mandela tornou-se um ícone desta luta.

 

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Mandela é um dos grandes símbolos da luta contra o racismo

no mundo (Foto: Scott Barbour / Getty Images)


"A luta contra o racismo ainda tem um impacto muito grande, mas agora ela está mas voltada para questões de imigração", ressalta o professor.


Santoro acredita que na atualidade, o racismo não está presente de formas institucionalizadas, como foi o caso do Apartheid. Agora, ele se manifesta através "de questões relativas a lacunas de poder, da brutalidade policial e da diferenças de salário" entre pessoas brancas e negras.


O regime do Apartheid

 

Apartheid: perseguição constante ao povo negro (Foto: Reprodução)


A África do Sul foi colonizada pelos britânicos e pelos holandeses. A presença dos colonizadores era pequena, se comparada, à da população local, mas isso não impediu que no começo do século XX, leis que dividiam o país entre negros e brancos, favorecendo o segundo grupo, fossem aprovadas.


A primeira lei deste período estipulava que as pessoas brancas teriam o domínio da maior parte da terra cultivável do país, cerca de 92,7% da terra era de posse dos brancos. Para os negros ficava reservado apenas 7,5% da terra. Pessoas consideradas “mestiças” não tinham direito à terra.


Leis semelhantes continuaram a ser aprovadas, até que em 1948, o Apartheid foi definido como política institucional do país.

 


Mandela fugiu da vida na aldeia para ganhar o mundo

(Foto: Christopher Furlong / Getty Images)


Nesta África do Sul dividida, brancos e negros não tinham acesso aos mesmos serviços de educação, saúde e nem mesmo podiam se casar.


Foi neste país partido pelas desigualdades que Mandela viveu. Mas ele não se conformou e lutou contra elas.


Após recusar se tornar um líder estudantil na Universidade Fort Hare, a primeira que frequentou, Mandela se mudou para Joanesburgo.


Foi ali, na capital do país que teve contato com o CNA. E começou a atuar na militância.

 

Mandela marcou a história ao unir brancos e

negros, derrotando o regime do apartheid


No início, Mandela fazia parte da ala que defendia a não violência. No entanto, à medida que aumentava a violência do Estado contra as pessoas negras, ele se viu obrigado a mudar de posição.


Mandela ajudou a fundar e participou ativamente da criação do Umkhonto we Sizwe (Lança de uma Nação, em tradução livre do xhosa), o braço armado do CNA, também conhecido pela sigla MK.


Sua liderança chamou tanta atenção que assim como os líderes dos movimentos de direitos civis nos EUA, Martin Luther King, Malcolm X e Medgar Evers, Mandela passou a ser vigiado pela CIA.


Santoro destaca que a figura de Mandela surgiu no mesmo momento em que os Estados Unidos também viviam uma política de segregação racial. Por isso, os líderes negros norte-americanos estavam observando atentamente tudo o que se passava na África, em busca de inspiração.


Portanto, Mandela pode ser considerado "uma das grandes referências na luta antirracista no século XX", segundo o professor.


Prisão perpétua

 

No dia 16 de junho de 1964, oito homens, entre eles Nelson Mandela, foram 

sentenciados à prisão perpétua no julgamento de Rivonia. Eles deixam

o Palácio da Justiça em Pretória com os punhos erguidos

através das janelas gradeadas do carro da prisão


Em 1964, Mandela já estava acostumando a viver na clandestinidade. Fugitivo, ele já havia viajado para outros países da África e até mesmo para o reino Unido para denunciar a situação vivida pelos negros sul-africanos.


Então chegou a decisão que fez com suas denúncias internacionais fossem interrompidas. Uma condenação à prisão perpétua por traição.


Na cadeia, Mandela foi confinado e mal podia receber visitas. Sua própria mãe morreu acreditando que ele fosse um criminoso.


Sua esposa na época, Winnie Mandela — uma mulher tão atuante quanto ele na luta contra a segregação racial, ela mesma presa diversas vezes — também não conseguia vê-lo mais que uma vez por ano.


Ele não estava autorizado sequer a receber informações do mundo exterior e jornais não chegavam até a prisão.

 

O papa João Paulo II recebe ao presidente sul-africano , Nelson Mandela, em

audiência privada no Vaticano, em junho do 1998 (Fotos: Reprodução)


Com o tempo, Mandela se interessou por aprender o africâner, idioma falado principalmente pelos brancos na África do Sul. As pressões do governo contra ele também foram diminuindo, ao mesmo tempo que a pressão de instituições internacionais pela sua liberdade, aumentavam e ele recebia homenagens em vários lugares do mundo, mesmo estando preso.

 


A imagem de Mandela saindo da prisão com o punho erguido se tornou

universal (Foto: Pete Marovich / Getty Images)


Enquanto isso, a intolerância em relação ao Apartheid em todo o mundo crescia. A ONU chegou a aprovar sanções contra a África do Sul na esperança de que o sistema de segregação acabasse.


Mas foi apenas quando o CNA, que estava proibido no país, ameaçou aumentar o nível de violência que os governantes brancos decidiram negociar.


Neste momento, Mandela parecia o interlocutor ideal, já que a cadeia tinha reduzido seu radicalismo e ele possuía até mesmo um diploma de curso superior.


Com a chegada de Frederik de Klerk ao poder, em 1989, as negociações para a soltura de Mandela avançam. No ano seguinte, o líder é posto em liberdade.


O professor da UERJ define que Mandela é um líder completo. "Ele foi um militante de base, que estava ali organizando greve, passou pela luta armada, foi preso e chegou a presidência do país. É uma vida que passou por todos os ciclos da trajetória política", garante.


Legado

 

Mandela se tornou um dos líderes mais conhecidos do planeta


Após ganhar o Nobel da Paz, em 1993 e ser eleito presidente no ano seguinte, Mandela se tornou um dos líderes mais conhecidos do planeta.


Sua morte, em 2013, consternou o mundo inteiro. Mandela, com seu rosto tranquilo, ensinou as pessoas que o racismo deveria ser substituído pelo amor.

 

Mandela, com seu rosto tranquilo, ensinou as pessoas que o racismo

deveria ser substituído pelo amor (Fotos: Reprodução)


Ainda assim, Santoro acredita que Mandela seja menos conhecido do que deveria e por isso é ainda mais necessário estudar a contribuição dele como político, bem como de todo o continente africano.


"Temos no Brasil uma lei (a lei 10639/3) que determina o ensino de cultura africana e afro-brasileira nas escolas, mas que não é cumprida por falta de profissionais qualificados. Aqui mesmo na UERJ, onde dou aula, temos agora um cartaz em homenagem ao Mandela, mas é apenas o cartaz. Nenhuma conferência sobre ele ou sobre a África foi anunciada".

 

R7

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