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03/02/2020

Acusado de matar Marielle negociou retirada de caça-níqueis com o chefe de investigações

Foto: Reprodução

Jorge Luiz Camillo Alves, preso na operação, é acusado pelo Ministério Público de ter

A relação entre o sargento reformado da PM Ronnie Lessa — acusado de assassinar a vereadora Marielle Franco (PSOL) e o motorista Anderson Gomes — e o ex-chefe de investigação da 16ª DP (Barra da Tijuca), Jorge Luiz Camillo, é definida pelo Ministério Público do Rio (MPRJ) como “promíscua”. De acordo com a denúncia do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MPRJ, os dois trocaram diversas mensagens por telefone entre setembro e outubro de 2018. Através delas, Lessa teria negociado com Camillo a liberação de máquinas caça-níqueis apreendidas em um bingo clandestino do sargento reformado por policiais do 31º BPM (Recreio) em 25 de julho de 2018 e levadas para a 16ª DP.

 

As conversas foram descobertas a partir da quebra do sigilo telefônico de Lessa, que teve o celular apreendido em março do ano passado, data em que foi deflagrada a Operação Lume, que resultou na prisão do sargento reformado e do ex-PM Élcio de Queiroz, também acusado de matar Marielle e Anderson. Com a análise do aparelho, o Gaeco descobriu o vínculo entre Lessa e Camillo. Os diálogos mostram que os dois se encontravam na 16ª DP ou nas imediações da unidade.

 

Segundo a denúncia, Lessa e Camillo se encontraram pelo menos duas vezes para tratar da liberação das máquinas. Num dos diálogos, Lessa diz que os caminhões estão chegando à unidade para retirar os equipamentos. Camillo, que foi preso na semana passada por suspeita de favorecer milicianos que deveria investigar, responde com um emoji, com uma mão fazendo sinal de positivo.

 

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O MP do Rio ressalta num dos trechos da denúncia: “A toda evidência o denunciado Camillo utilizava a 16ª Delegacia de Polícia como palco de seus intentos criminosos, demonstrando, de forma cabal, que não só nutre verdadeiro desprezo pela instituição, como é divorciado de qualquer princípio ético e valor moral”. E prossegue dizendo que a conduta do ex-chefe de investigação é “incompatível com a reputação ilibada que se espera de um agente policial”.

 

Camillo era responsável por investigar milícia na Muzema


Preso nesta quinta-feira durante a operação Os Intocáveis II, o policial civil Jorge Luiz Camillo Alves é chefe do Setor de Investigações (SI) da 16ª DP (Barra da Tijuca). O cargo de Camillo era o mais importante da delegacia, pois ele chefiava o Grupo de Investigação Complementar (GIC), ou seja, todas as investigações complexas passavam por ele. Ele tratava direto com a delegada, sem intermediários.

 

Ele era responsável pelas investigações sobre as construções irregulares na Muzema, na Zona Oeste do Rio. A área é dominada por uma milícia que lucrava com construção de imóveis e empreendimentos comerciais. Segundo o Ministério Público (MP), Camillo daria apoio a esse grupo paramilitar. Dois edifícios construídos por milicianos desabaram em abril do ano passado no local, deixando 24 mortos.

 

O Gaeco pediu à Justiça que Camillo seja investigado pela Corregedoria de Polícia Civil. Também pediu a suspensão de seu porte de arma, estendendo o requerimento aos outros policiais civis e militares denunciados pela Intocáveis 2. A promotoria justifica o pedido na denúncia: "A natureza profissional dos agentes, a quem o Estado conferiu o legal porte de armas, corrobora a imprescindibilidade do resguardo da ordem pública. Isso porque, armados e detentores de um poder de fato constituído inquestionável, os denunciados não conhecerão dificuldades maiores em manejar o material probandi que se pretende amealhar, sendo certo que se em liberdade e em pleno gozo de sua função pública, continuarão a afrontar, ante a certeza da impunidade, deveres funcionais, bem como valores sociais e morais".

 

De acordo com o MP, Camillo — preso em casa — foi flagrado em uma "intensa sequência de diálogos" com Ronnie Lessa, acusado de executar a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes junto com Élcio de Queiroz. O MP chegou a esse policial civil graças à análise de um telefone celular apreendido na Operação Lume, durante a qual Lessa e Queiroz foram presos.

 

O policial era tratado por Lessa como o Amigo da 16, em referência à delegacia da Barra da Tijuca, informou o MP. Segundo o órgão, o tratamento se repetia em "em vários trechos dos diálogos".

 

Durante as investigações da Intocáveis 2, o Gaeco chamou atenção para o fato de o núcleo da milícia de Rio das Pedras ter sido denunciado pelo MP do Rio, conseguindo a condenação dos três principais integrantes da organização criminosa em 2009. Mas, em 2015, eles deixaram a cadeia favorecidos por um recurso interposto na 6ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio. Com isso, segundo a promotoria, o grupo criminoso só se fortaleceu cada vez mais, contando com o apoio de agentes públicos, principalmente policiais da ativa, para manter os negócios ilícitos. Um trecho da denúncia diz que: "os diálogos interceptados através de medida cautelar de quebra de sigilo de dados telefônicos e telemáticos, inclusive interceptação telefônica, indicam que a organização criminosa atualmente funciona a pleno vapor. Seus integrantes vivem do crime e para o crime, menosprezam os poderes constituídos, contam com facilitado acesso a armas de fogo e com a participação de agentes públicos da ativa e inativa, restando patente que recebem informações privilegiadas de forma a garantir a impunidade das atividades criminosas praticadas".

 

Confira conversas entre Lessa e Camillo


Dia 21 de setembro de 2018, diálogo iniciado às 16h30m. Lessa faz o primeiro contato com o chefe de investigação da 16ª DP (Barra da Tiujca) e marca um encontro:

 

Lessa: Boa tarde, meu amigo. É o Lessa, tudo bem? Estará pela sua base hoje? Se estiver, e não estiver enrolado, vou passar aí rapidinho para te dar um abraço.

 

Camillo: Tô aqui

 

Camillo: Boa tarde, amigo.

 

Lessa: Está ocupado? Estou na escola do meu mlk (moleque), pertinho, passava aí rapidinho.

 

Camillo: (responde com sinal de positivo)

 

Lessa: Tô aqui fora, estou de bermuda.

 

Camillo: Vou aí.

 

Lessa: ok.

 

Dia 12 de outubro de 2018, diálogo iniciado às 14h27m. Camillo procura por Lessa e diz que "tmj", gíria que significa "estamos juntos":

 

Camillo: Hoje não estou por casa

 

Camillo: Mas

 

Camillo: Precisa de algo?

 

Camillo: Vou até você

 

Lessa: Ok, se quiser vou ao seu encontro

 

Camillo: Fala onde

 

Camillo: Tmj

 

Lessa: Mas se vier para a Barra eu já estou

 

Camillo: Então 15h na minha base fica bom para você?

 

Lessa: Ótimo, estarei lá

 

Camillo: (responde com sinal de positivo)

 

Lessa: (responde com sinal de positivo)

 

Dia 12 de outubro de 2018, em mais uma conversa no dia, iniciada às 14h36m, entre Ronnie Lessa e um interlocutor identificado como Leandro R, convidado para a reunião com o agente da Polícia Civil:

 

Lessa: Fala, meu brother, o amigo da 16 (que a promotoria identificou como sendo Camillo) marcou às 15h

 

Lessa: (reproduz a foto na qual aparece a marcação do encontro com Camillo)

 

Leandro R: Bom dia, amigo.

 

Leandro R: Estarei lá.

 

Leandro R: Será no mesmo local?

 

Lessa: Ok, vamos nos falando. Estarei lá também.

 

Leandro R: Na esquina?

 

Lessa: Em frente à DP, dentro do restaurante.

 

Dia 12 de outubro de 2018, em outra conversa do dia, com início às 17h49m, um novo encontro entre Camillo e Lessa:

 

Camillo: Já cheguei

 

Camillo: Almoçando na Tia Maria (restaurante próximo à delegacia)

 

Lessa: Encostando

 

Camillo: Quando chegar me avisando (avisa)

 

Camillo: (responde com sinal de positivo)

 

Lessa: É no canto da oficina, né?

 

Dia 12 de outubro de 2018, coversa começa às 17h52m:

 

Lessa: Cheguei aqui

 

Leandro R: Estou aqui na frente da delegacia

 

Leandro R: No restaurante

 

Dia 15 de outubro de 2018, diálogo com início às 13h03m, uma nova reunião da dupla, desta vez, mudando o local. Para o MP do Rio, seria o acerto dos detalhes para a retirada das máquinas da delegacia:

 

Lessa: Bom dia, irmão, já estou aqui. Estou aguardando o rapaz chegar (responde com sinal de positivo)

 

Camillo: Estou no Camacha (lanchonete localizada na Barra da Tijuca, próximo à delegacia).

 

Dia 18 de outubro de 2018, iniciando às 14h07m. Depois de duas tentativas frustradas de buscar os seus equipamentos da delegacia, segundo o Gaeco, Lessa consegue o transporte e avisa a Camillo que o caminhão chegou:

 

Lessa: Estamos saindo de longe, mas esse horário estaremos aí

 

Camillo: (responde com sinal de positivo)

 

Lessa: Irmão, o caminhão está aí

 

Lessa: Aliás, o rapaz me disse que está no local

 

Camillo: (responde com sinal de positivo)

 

Dia 19 de outubro de 2018, início da conversa às 15h49m. Camillo diz que está à disposição de Lessa:

 

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Camillo: Se cuida aí, irmão

 

Lessa: Olha isso, estou em carne viva (referindo-se à perna esquerda, na qual usa uma prótese)

 

Camillo: Qq (qualquer) coisa estamos às ordens 

 

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