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10/09/2021

Ainda alvo de críticas, VAR tem menos interrupções e menor tempo de jogo parado na Série A

Foto: Pedro Alves

Tempo de jogo parado pelo VAR segue em trajetória de queda no Brasileirão

"Máxima eficiência e mínima interferência". Aos poucos, a elite do futebol brasileiro tenta se alinhar ao lema do uso do VAR (video assistant referee - árbitro assistente de vídeo, em inglês). Ainda alvo de muitas críticas de torcedores, jogadores e dirigentes, o VAR mostra no Brasileirão de 2021 números melhores do que em 2020 nas mudanças de decisão, paralisações e tempo de bola parada.

 

Com o fim do 1º turno do Campeonato Brasileiro, o Espião Estatístico* analisou o desempenho do VAR nos 183 jogos disputados até o momento e comparou com o 1º turno de 2020 e 2019. Em sua 3ª edição, o árbitro de vídeo apresenta evoluções graduais.

 

A competição ainda registra um número alto de interrupções de jogo para escuta do árbitro de vídeo. No entanto, a quantidade de interrupções já é menor do que na edição passada. Foram 371 paralisações de jogo pelo VAR no Brasileirão de 2021 contra 475 da edição passada e 345 em 2019. Em relação a 2020, o número de paralisações diminuiu 22%. Porém, o número de aumentou 8% em relação a 2019. Já o tempo de jogo parado pelo VAR está cada vez menor:

 

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2021 - 1min16s (07h48min43s no somatório das 371 paralisações)
2020 - 1min18s (10h18min49s no somatório das 475 paralisações)
2019 - 1min35s (09h06min55s no somatório das 345 paralisações)

 

- Não é só uma vitória da arbitragem brasileira. Acho que do futebol brasileiro como um todo. O futebol teve um tempo para entender como o árbitro de vídeo funciona e, acima de tudo, respeitar essas decisões. Hoje me parece uma coisa mais organizada. Me parece que as pessoas já sabem quando o árbitro de vídeo vai intervir ou não. Isso se reflete nos números - analisou Leonardo Gaciba, presidente da Comissão de Arbitragem da CBF.

 

Sandro Meira Ricci, membro da Central do Apito, percebe evolução no uso do VAR, mas destaca que ainda há bastante coisa a ser melhorada. O ex-árbitro diz que o número de paralisações e o tempo gasto nelas, mesmo tendo evoluído, ainda são muito altos.

 

- O VAR está sendo menos utilizado, o que é um bom sinal. Acredito que ainda há espaço para evoluir se os árbitros forem profissionalizados e treinarem todos os dias. Em competições Fifa e Uefa, onde o treinamento é contínuo durante o torneio, a média de mudanças de decisão dos árbitros costuma ser ainda menor (uma a cada três jogos) e consequentemente se perde menos tempo com VAR.

 

Outro ponto que precisamos melhorar é quanto à demora nas checagens e revisões no monitor, que têm interrompido demais os jogos. Com o passar do tempo, o uso de melhores tecnologias e o aprimoramento do protocolo do VAR, acredito que o processo será naturalmente mais rápido.

 

A opinião de Grafite, ex-jogador e comentarista do Grupo Globo, é parecida com a de Sandro. Grafite afirma que o VAR no Brasil tem um protagonismo ruim e fica bem atrás em comparação com os principais campeonatos europeus, o que atinge também o psicológico dos jogadores e técnicos que estão em campo. Veja a análise do comentarista sobre o uso do VAR:

 

As linhas de impedimento


Para Gaciba, a experiência com a ferramenta tem auxiliado na evolução do trabalho. Outro fator fundamental foi a inclusão de mais três câmeras da CBF nos jogos da Série A para calibração da linha de impedimento. Com isso, a análise é feita de maneira mais rápida porque, dependendo do ângulo, é mais fácil de traçar a linha. Nas últimas semanas, porém, houve dois problemas com a linha em competições organizadas pela CBF: Athletico-PR x Santos, pela Copa do Brasil, e Vasco x Brasil de Pelotas, pela Série B.

 

- A gente tem um grupo que já está com duas temporadas de trabalho. O cara conhece mais a ferramenta. Hoje, o árbitro de vídeo demora muito menos para achar a câmera decisiva pela experiência adquirida. Ele olha uma jogada que antigamente ele olhava de 3 a 5 ângulos para achar o decisivo. Hoje ele já acerta na primeira câmera, que vai mostrar o que ele quer ver. E sabe se comunicar com o operador de replay para pedir esse replay. Então, esse entrosamento entre o operador de replay e os árbitros de vídeo acelera muito o processo.

 

Leonardo Gaciba explica que o trabalho na cabine do VAR ganhou mais agilidade com o tempo de uso da ferramenta — Foto: Lucas Figueiredo/CBF

Leonardo Gaciba explica que o trabalho na cabine do VAR ganhou mais

agilidade com o tempo de uso da ferramenta (Foto: Lucas Figueiredo)

 

Na visão de Sandro Meira Ricci, um dos maiores problemas do VAR no Brasil é justamente a análise dos impedimentos. O ex-árbitro acredita que falta transparência no processo, e falhas humanas fazem com que a tecnologia perca credibilidade nos lances de posição duvidosa.

 

- Ainda temos algumas situações em impedimentos difíceis que a decisão da arbitragem não convence o público, mesmo com a tecnologia. Parte dessa desconfiança se deve ao desconhecimento da ferramenta/tecnologia pelo público, mas outra parte se deve a erros humanos e falta de transparência no processo, que comprometem a ferramenta.

 

Pelo fato de o impedimento ser na maioria das vezes um lance objetivo, ou seja, o jogador estará ou não estará adiantado, acredito que o comando da arbitragem deveria ter uma postura mais autônoma e transparente em lances de impedimento. Deveriam ser disponibilizados, depois dos jogos, áudios e vídeos da sala do VAR no momento da elaboração da linha.

 

Outra coisa que afeta o uso do VAR nos impedimentos é a análise nos lances milimétricos. Nessas situações, segundo Sandro, deveria ser respeitada a decisão de campo do auxiliar, sem querer transformar a tecnologia em algo infalível, o que já se mostrou não ser possível.

 

- A marcação do bandeira em impedimentos milimétricos deveria ser respeitada, a exemplo do que já acontece na Premier League (Campeonato Inglês) e na Major League Soccer (Campeonato Americano). Esse procedimento agiliza o jogo, reconhece que a tecnologia pode ser imperfeita em lances milimétricos e, por fim, respeita o espírito da regra de impedimento que consiste em punir o atacante que ganha vantagem da sua posição adiantada, o que, na prática, não acontece em lances milimétricos. A atuação do VAR em lances de impedimento milimétricos parte da premissa que a tecnologia é infalível, o que já descobrimos ser uma premissa equivocada.

 

Especialização dos árbitros de vídeo


Gaciba revelou que a CBF capacitou mais 100 árbitros para vídeo e já está incluindo estes novos especialistas nas cabines dos jogos como auxiliares do VAR. A Comissão de Arbitragem fez um estudo da performance dos árbitros de vídeo nas duas primeiras temporadas para criar uma "tropa de elite" de juízes para atuar na função.

 

A partir dos nomes com melhor atuação como VAR foi formado esse grupo. Na Série A de 2021, 24 pessoas diferentes foram escaladas para a função. Em 2020 foram 31, e em 2019, 34. Daniel Nobre Bins (12 jogos), Igor Junio Benevenuto (11), Adriano Milczvski (10), Carlos Eduardo Nunes Braga (10), Emerson de Almeida Ferreira (10) e Rodrigo Carvalhaes de Miranda (10) foram os mais escalados para atuar como VAR no atual Brasileirão até aqui.

 

- Cada vez mais a especialização está chegando. Nós cada vez temos menos pessoas que estão dividindo campo e vídeo. Nós temos cada vez mais especialistas na função de árbitro de vídeo. Todo o treinamento que é feito diversas vezes vai fazendo a melhora acontecer. É pegando experiência. Vai passando por situações e vai aprendendo. A partir daí, a coisa vai se tornando mais rápida e mais automatizada - concluiu o chefe da arbitragem da CBF.

 

Menos mudanças de decisão


As mudanças de decisão caíram em relação aos anos anteriores. Nos primeiros turnos de 2019 e 2020, foram 95 em cada, com uma média de 0,5 por partida. Ou seja, a cada dois jogos, aconteceu pelo menos uma mudança na decisão inicial do árbitro.

 

Já na atual edição do Brasileiro, junto com o número de intervenções, também caiu o número de mudanças de decisão. Em 2021, foram 75 em 183 jogos (sete jogos do primeiro turno ainda não foram disputados), com uma média de 0,41 por jogo.

 

Na última Eurocopa, foram registradas 18 mudanças de decisão em 51 jogos, uma média 0,35. Próximo ao cenário atual no Brasileirão. De acordo com a ESPN americana, desde que o VAR foi implementado pela Uefa até a final da última Liga dos Campeões, foram 139 mudanças registradas no total. Uma a cada 3,25 jogos.

 

Análise de pênalti na tela do VAR em jogo da Eurocopa — Foto: Getty Images

Análise de pênalti na tela do VAR em jogo da Eurocopa

(Foto: Getty Images)

 

- Tem algumas coisas que a gente tem que incluir nessa soma de fatores. O futebol brasileiro começa a entender como o VAR funciona. Eu acho que isso é importante. Não só a arbitragem. Para mim, essa diminuição da interferência se dá por uma melhora do campo, tomando mais decisões corretas, o árbitro de vídeo entendendo quando é uma imagem clara e óbvia de erro e chamando menos para revisões - afirmou Gaciba.

 

- O índice de acertos nas decisões finais é bem maior que na temporada de 2019 e 2020. Não adianta eu diminuir o número de revisões se meus erros continuam iguais. O número que nós estamos comemorando é esse. O número de erros cada vez menor.

 

O chefe de arbitragem da CBF acredita que a mudança de determinados comportamentos dos jogadores contribui para essa melhora.

 

- Os jogadores têm procedimentos muito claros de preocupação com as mãos para não cometer infrações. Nós tivemos nesse turno até seis pênaltis sancionados após mão. Outra coisa: defensores não agarram mais dentro da área. Muitas infrações se marcavam por isso. O jogador duvidava que a ferramenta fosse ser utilizada. Hoje já se tem respeito por isso. Isso é muito bom.

 

Se no primeiro turno de 2021 foram apenas seis pênaltis marcados pelo VAR por motivo de mão na bola, os números foram bem mais altos nos anos anteriores: 14 em 2019 e 15 em 2020.

 

Para Grafite, além da necessidade de evolução no próprio uso do VAR, é preciso que as outras pessoas envolvidas no futebol também amadureçam. Segundo o comentarista, o mau uso da tecnologia influencia no comportamento dos jogadores, assim como o comportamento ruim dos atletas atinge o uso do VAR.

 

- Nós estamos evoluindo, há uma melhora, as chamadas diminuíram um pouco, e as decisões têm sido mais respeitadas. Com o tempo, com o passar dos anos, mudando o comportamento de atletas, dirigentes e treinadores também, o VAR vai ser uma ferramenta importante, trazendo mais justiça ao futebol. Mas hoje o VAR ainda é um protagonista que influencia negativamente em alguns resultados e no andamento das partidas, tanto no lado técnico quanto no mental dos jogadores.

 

Árbitro Dyorgines Jose Padovani de Andrade (ES) analisa lance no monitor do VAR — Foto: Marlon Costa/Pernambuco Press

Árbitro Dyorgines Jose Padovani de Andrade (ES) analisa lance no

monitor do VAR (Foto: Marlon Costa)

 

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Por fim, destaca-se que o tempo médio nas paralisações quando uma decisão é mudada não melhorou em 2021. No Brasileiro de 2020, o jogo ficava parado em média 2 minutos e 15 segundos, enquanto em 2021 esse tempo é de 2 minutos e 19 segundos. Na primeira edição do Brasileirão com VAR, em 2019, as paralisações com mudança de decisão duravam em média 2 minutos e 39 segundos.

 

Fonte: GE

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