19 de Maio de 2024 - Ano 10
NOTÍCIAS
Esportes
26/09/2020

Único a `vencer` Borrachinha, Márcio Lyoto lembra luta no TUF e vê Adesanya como favorito

Foto: TV Globo

Peso-médio destaca evolução de Borrachinha na trocação e no fator psicológico, mas entende que nigeriano leva a melhor num duelo de estilos opostos. Lyoto assinou com o Taura neste mês

20 de abril de 2014. Talvez você não lembre a data, mas deve conhecer o episódio: neste dia foi ao ar a histórica edição de The Ultimate Fighter: Brasil em que Chael Sonnen e Wanderlei Silva perderam a linha e caíram aos socos. Para uns, apenas armação. O fato é que teve algo ainda mais relevante naquela noite de domingo. O catarinense Márcio Lyoto venceu Paulo Borrachinha, um mineiro de 22 anos, cabelo descolorido, cara de garoto, sempre bem trajado e vaidoso. Com o tempo ele removeu as madeixas, agora imprime mais seriedade, continua estiloso e neste sábado disputa o cinturão peso-médio do UFC. Tem mais: carrega a marra de um cartel cheio de nocautes rápidos e sem nenhuma derrota, pois os duelos do TUF não são oficiais. Ainda assim, há um homem no mundo que pode dizer ter superado Borrachinha.

 

— Foi uma luta que me deixou muito orgulhoso, na época tinha sido a mais relevante da minha carreira, com uma pessoa que eu sabia que seria difícil. E hoje muita gente comenta comigo que é a única derrota do Borrachinha. Para mim é gratificante ter ganhado de um cara que está nesse nível, despontou, teve a humildade de refazer a carreira dele e chegou no UFC, desbancou todo mundo e vai disputar o cinturão. Esse êxito me deixa feliz. Só que são águas passadas. O tempo era outro, a “vibe” e a nossa experiência eram outras. Éramos muito jovens, eu tinha 24. Estávamos naquela fase de formação ainda, vislumbrando o UFC, e nós dois evoluímos muito – disse Márcio Lyoto, em entrevista exclusiva ao Combate.com.

 

O orgulho do catarinense em ter participado do TUF permanece após quase sete anos. Para a nossa conversa, por chamada de vídeo, por exemplo, ele vestiu a camisa do reality. Já os caminhos dele e de Borrachinha inverteram a lógica inicial. Após a luta, Lyoto chegou à final do torneio e assinou contrato com o UFC, mas perdeu a decisão para Warlley Alves e também os outros dois desafios que teve no evento. Acabou dispensado por Dana White no final de 2015. Borrachinha, por sua vez, quando eliminado do TUF, continuou a carreira no Brasil, onde foi campeão do “Face to Face” e do “Jungle Fight” antes de ingressar no UFC.

 

Veja também


Em mais uma eliminação, falhas individuais e elenco limitado atormentam o Fluminense


 

Funcionário que tirou foto de jogadores sem máscara em avião é demitido pelo Flamengo


— A estrela dele brilhou mais, por mérito total dele de voltar para a academia e treinar. A gente sabe que a vida de atleta quando está em evento nacional é muito na garra, na raça, com questão de apoio, patrocínio, então ele deve ter sofrido com isso quando teve de voltar para a cidade dele. Fico muito feliz de ver ele disputando o título do UFC, saber que fiz parte da história dele. A gente fez uma luta e, naquele momento, eu teria sido o campeão. Fui a primeira escolha do Sonnen e ele a segunda do Wanderlei, então era um confronto muito aguardado. Desde aquela época o Borrachinha já era um atleta promissor e de bom nível técnico. Apesar de ele ter evoluído, já tinha o poder de trocação, só faltava a confiança que tem hoje. E, pelo fato de eu ser um striker, os técnicos dele fizeram uma estratégia muito focada em luta agarrada de solo, para ele me botar no chão e trabalhar o “ground and pound” buscando a finalização. Na luta para entrar na casa ele fez muito bem isso contra um atleta da Team Nogueira. Então foi o que os técnicos viram nele e pediram para fazer comigo – comenta Lyoto.

 

Pelas regras do TUF, a luta só iria para o terceiro round caso os dois primeiros terminassem empatados. Foi o que aconteceu: nos cinco minutos iniciais, Borrachinha conseguiu imprimir a estratégia prevista, derrubou Lyoto e, depois, quase encaixou um mata-leão. Sorte do catarinense, que escapou e no segundo assalto manteve a luta em pé, conectando bons golpes e defendendo as tentativas de queda do mineiro. No terceiro round a história se repetiu e Lyoto saiu vencedor na mão dos juízes – ainda que em decisão dividida. Ele entende que a falha de Borrachinha foi justamente não fazer o jogo de trocação que o consagraria no MMA.

 

 

E errado também está quem pensa que eles poderiam não gostar um do outro.Em dezembro de 2017, Borrachinha, até então com três lutas no UFC, foi à Grande Florianópolis, em Santa Catarina, para realizar um curso organizado por um primo, que mora na região. O local também é casa de Lyoto, e o antigo companheiro de TUF logo recebeu o convite para reencontrar o colega.

 

— Quando terminamos de lutar na casa (TUF) a gente trocou uma ideia, brincamos demais lá. No final do programa ele até comentou: “Estou torcendo por você, perdi mas foi para o campeão, hein”. A gente tinha esse lado de amizade e acabei indo no curso dele. Ele me chamou na frente de todos, conversamos e depois a gente saiu para jantar. Falamos de coisas da vida de atleta, dia a dia, é natural. “O que você está fazendo?”. “Estou trabalhando, treinando duas vezes por dia”. “Está lutando qual evento?”. “E no UFC?”. “Estou bem, indo para os Estados Unidos treinar”… ele falou um pouco da família dele, eu da minha. Teve um dia em que fomos à praia, também treinamos um pouco de muay thai na academia do mestre Rangel, inclusive o Borrachinha gostou tanto do treino do Rangel que levou ele para fazer um camp. Tivemos uma conversa sadia, trocamos telefone, foi bem amistoso e legal, tanto para um lado como para o outro.

 

Paulo Borrachinha e Márcio Lyoto em dezembro de 2017. Mineiro disputa cinturão do UFC neste sábado — Foto: Guga Borba

 

Na disputa de cinturão entre o “meio invicto” Borrachinha (13 vitórias no cartel) e o também ileso Israel Adesanya (19 triunfos), Lyoto diz torcer pelo brasileiro, mas entende que o nigeriano é favorito. Ele cita as duas últimas lutas de Borrachinha, contra Yoel Romero e Uriah Hall, como exemplos de que o mineiro pode sofrer os reveses de seu estilo de jogo, baseado no encurtamento da distância para os adversários e num forte ímpeto ofensivo desde o primeiro minuto – o que faz com que Borrachinha leve muitos golpes diretos e possa cansar no decorrer do combate. Já Adesanya é caracterizado justamente por ser um atleta de bom controle físico e estratégico nos embates. Em resumo, um confronto de opostos que para Lyoto tende a favorecer o atual campeão a partir do terceiro round (veja a resposta completa ao final).

 

Paulo Borrachinha após luta contra Uriah Hall, no UFC 226 — Foto: Josh Hedges/Getty Images

Fotos: Josh Hedges/Getty Images

 

No início deste mês, Lyoto fechou contrato de três lutas com o Taura MMA, mas ainda não tem data nem adversário definidos para a estreia, uma vez que se recupera de contratura muscular nas costas e está impedido de realizar boa parte dos treinamentos - focado nos trabalhos de fisioterapia, quiropraxia e massoterapia. Em agosto de 2018, o catarinense teve a oportunidade de voltar ao UFC por meio do Contender Series, a peneira de Dana White. Ele até venceu sua luta de forma positiva, por finalização em menos de dois minutos do primeiro round, mas não foi o suficiente para convencer o chefe do Ultimate.

 

Em 2019, Lyoto teve mais duas lutas, com uma derrota e uma vitória, acumulando 16 triunfos e cinco reveses no cartel. Desde que saiu do UFC, em 2015, o peso-médio também fez bons números no Brasil, com seis vitórias em oito duelos. No momento, Lyoto divide a carreira de atleta com uma graduação em Administração, que faz desde a época do Ultimate. Como o ensino é presencial, o catarinense foi concluindo pouco a pouco, mas já começou a se dedicar ao trabalho de conclusão de curso.

 

Confira mais trechos da entrevista:

 

Evolução de Paulo Borrachinha dentro e fora do cage


— O atleta hoje tem que se ver como um produto para a organização. O Borrachinha faz isso muito bem. É forte, é bonito, sabe falar inglês, sabe se vestir, sabe fazer o “trash talk” e toda organização quer isso, porque vive de luta e (da venda de) pay per view. O Borrachinha está sabendo vender luta. Neste aspecto, com certeza ele amadureceu, está sabendo se vender como atleta e como homem. O psicológico dele melhorou tanto fora como dentro do octógono. E a evolução técnica dele também é fenomenal, dá para ver que no boxe, que é o que ele sente mais confiança em fazer, evoluiu muito. Mas voltando àquele assunto, se você analisar as lutas dele antes de entrar no TUF, ele já tinha trocação boa, chutava e socava forte, tinha um ground and pound agressivo. Então por mais que ele tenha evoluído na época do Jungle Fight e nas primerias lutas pelo UFC, já era um atleta agressivo.

 

Uma dica para Adesanya…


— Como bom brasileiro minha vibração vai ser toda para o Borrachinha. Mas é uma luta bem difícil para os dois e acredito que o Adesanya é favorito. Adesanya é um bom controlador de distância, um cara que joga em linha muito bem, vem do kickboxing e conseguiu adaptar a luta dele muito bem para o MMA. E esse é um jogo que é o tendão de aquiles do Borrachinha. Ele errou muito na luta contra o Uriah Hall. O Hall começou controlando bem a distância, trabalhando muito golpe em linha, principalmente o jab, e o Borrachinha como é um atleta que vai muito para frente, sufocando o adversário, tomou muito aqueles jabs sem necessidade, a ponto de tomar um down. Essa é uma falha do Borrachinha. Ele não controla a distância, não joga fake para ver o que o adversário tem a dar para ele. Ele já vai com um ímpeto físico muito forte e está ganhando de todo mundo assim. Essa é realmente a chance que ele tem de bater o Adesanya, mas, ao mesmo tempo, é o que o Adesanya pode usar a seu favor. Se o Borrachinha não corrigiu o defeito que teve contra o Hall, pode ser o início da tragédia. Porque o Adesanya sabe controlar a distância, usar golpes em linha, movimentar no octógono… O Borrachinha até saiu com os lábios inchados de tanta porrada que ele tomou contra o Hall. Foram golpes em linha, principalmente jab.

 

Luta de 25 minutos


— Muitas pessoas falam é que o Adesanya não é pegador. Eu já acho o contrário. Ele nocauteou o Robert Whittaker, um atleta que quase ninguém conseguia dar um down... como é que você vai falar que o Adesanya não é pegador? Ele é duro, nocauteou um campeão. E tem condições de nocautear o Borrachinha com essa maneira de lutar (resposta anterior), principalmente a partir do terceiro round, quando a luta se torna do Adesanya. É claro que o Borracinha tem chance de ganhar, tem vigor físico, explosão, é pegador, pode decidir no primeiro minuto. Mas se a luta for passando pode se tornar do Adesanya. Na luta do Borrachinha com o Romero a gente percebeu que ele começa muito forte mas vai decaindo ao passar da luta. O atleta cansa, é normal, principalmente da maneira como o Borrachinha luta, dando tudo desde o primeiro golpe, sem economizar nada. A tendência é que com o passar do tempo você vá cansando, mas o Adesanya não é assim. Ele controla, caminha, respira, cadencia a luta. Então ele tem a tendência de ter mais gás e ser melhor durante os cinco rounds. O começo é do Borrachinha e o final, do Adesanya. E lembrando também da parte fisiológica. O Borrachinha é muito forte e o Adesanya muito magro. Então músculo pesa. No decorrer da luta a tendência é o Borrachinha ficar mais cansado por ter de carregar todo aquele músculo em 25 minutos.

 

Contrato com o Taura MMA


— Estou bem feliz de ter assinado. A gente vem numa situação bem adversa no planeta inteiro por conta da pandemia. Com exceção das principais organizações do planeta, está bem ruim de evento para todo mundo. Eu estava sem contrato e fiquei muito feliz quando chegou a possibilidade. Quero cumprir as três lutas no evento. Estamos com material humano muito bom aqui na Grande Florianópolis, acredito que consigo fazer um camp ótimo para essas três lutas no Taura. Tenho condições de chegar entre os tops da categoria de médios e é um evento que está crescendo, pelos atletas que estão sendo contratados, pela organização, pelos locais que estão sendo marcados os eventos, então também é questão de tempo para se tornar um dos maiores do mundo. Com certeza estou feliz por fazer parte dessa história.

 

Carreira e meta de evento internacional


— Estou com 31 anos hoje e bem maduro. A vida de atleta é feita de altos e baixos. O importante é se manter focado e treinando. O próprio Borrachinha é exemplo disso. Quando a gente participou do TUF ele não foi contratado pelo UFC, teve de refazer a carreira e nesse final de semana vai disputar o título. Eu cheguei na final do programa, assinei contrato com o UFC, não tive uma boa sequência e saí,.Depois fiz boas lutas no cenário nacional, ganhei uma luta no Contender mas não fui contratado… minha carreira está em altos e baixos. Não tive estabilidade ainda mas sei que tenho potencial para chegar aonde quero, que é ser campeão de um grande evento internacional. Se vier essa oportunidade pelo UFC novamente, com certeza vou voltar e fazer uma boa carreira. Mas no momento eu quero lutar. Tenho que mostrar muito ainda do meu potencial e da minha evolução, Às vezes percebo que consigo fazer melhor no treino do que na luta, então vejo que tenho muito o que mostrar ainda. Não consegui assinar contrato naquela época (Contender), no momento você fica triste mas Deus sabe o que faz.

 

O UFC 253 acontece neste sábado, dia 26 de setembro. A transmissão do Combate terá início às 19h30 (horário de Brasília), com o "Aquecimento Combate". O card preliminar, que começa às 20h, terá narração de André Azevedo e comentários de Luciano Andrade. Já o card principal, marcado para as 23h, será comandado por Rhoodes Lima, com os comentários de Ana Hissa. O SporTV 3 e o Combate.com transmitem o "Aquecimento" e as duas primeiras lutas. O site acompanha todo o evento em Tempo Real.

 

Curtiu? Siga o PORTAL DO ZACARIAS no FacebookTwitter e no Instagram. 

Entre no nosso Grupo de WhatsApp.

 

UFC 253


26 de setembro de 2020, na Ilha da Luta, em Abu Dhabi


CARD PRINCIPAL (23h, horário de Brasília):


Peso-médio: Israel Adesanya x Paulo Borrachinha


Peso-meio-pesado: Dominick Reyes x Jan Blachowicz


Peso-mosca: Kai Kara-France x Brandon Royval


Peso-galo: Ketlen Vieira x Sijara Eubanks


Peso-pena: Hakeem Dawodu x Zubaira Tukhugov


CARD PRELIMINAR (20h, horário de Brasília):


Peso-leve: Brad Riddell x Alex Leko


Peso-meio-médio: Diego Sanchez x Jake Matthews


Peso-pena: Shane Young x Ludovit Klein


Peso-meio-pesado: William Knight x Aleksa Camur


Peso-pesado: Juan Espino x Jeff Hughes


Peso-meio-pesado: Khadis Ibragimov x Danilo Marques 


G1

LEIA MAIS
DEIXE SEU COMENTÁRIO

Nome:

Mensagem:

publicidade

publicidade

publicidade

publicidade

publicidade

Acompanhe o Portal do Zacarias nas redes sociais

Copyright © 2013 - 2024. Portal do Zacarias - Todos os direitos reservados.