03 de Maio de 2024 - Ano 10
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24/04/2023

Chico, Lula e um Camões em Queluz são o Brasil que renasce em sua grandeza

Foto: Reprodução

Foi uma longa espera que se estendeu por quatro anos. A tarde ensolarada dourava toda a paisagem de jardins e as paredes e colunas que fundem uma arquitetura rococó e neoclássica no Palácio Nacional de Queluz, em Sintra, nos arredores de Lisboa.

 

Chico Buarque de Hollanda finalmente receberia seu Prêmio Camões, o maior galardão da literatura em língua portuguesa do mundo, concedido em 2019 ao icônico cantor, compositor e escritor brasileiro, mas que nunca lhe entregaram. Chico foi vítima da mesquinhez e da irracionalidade torpe de um acidente histórico da política brasileira.

 

De fato, o bolsonarismo não cabe naquele ambiente. Um artista de máximo reconhecimento e um estadista carismático, ambos brasileiros, num palácio que já foi real e hoje é símbolo de uma consolidada democracia, celebrada todos os anos no 25 de abril, são efetivamente o sinal de que o Brasil renasce em sua grandeza para o mundo após um apagão vexaminoso e “funesto”, como disse o próprio Chico em seu discurso, sofrimento que vigorou “por longos quatro anos”.Em vez de levar o nome do Brasil ao mundo pelo culto abjeto à tortura, nesta tarde o que nos fez ganhar as manchetes foi a literatura.

 

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No lugar do apego às armas e à violência, a música. Hoje não foram os gritos com os jornalistas, de um descontrolado irascível, que renderam reportagens. Foram os aplausos de pé a uma figura mítica da cultura nacional que, acompanhado de seu chefe de Estado, elevou a brasilidade ao patamar mais alto e deu-nos um orgulho que há muito não dava as caras.

 

O presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, anfitrião sorridente e agradabilíssimo com seus convidados, começou sua fala com uma frase emocionante. “Neste dia (24 de abril), há 49 anos, tínhamos nosso último dia de ditadura”. Foi em 25 de abril de 1974 que Portugal deixou para trás o Estado Novo salazarista, o infame regime de exceção que ficou conhecido por ser o mais longevo do Ocidente, durando 41 anos (1933-1974).Rebelo é um gentleman.

 

Como chefe de Estado, e não de governo, sequer aplaudia qualquer menção de ordem política ou ideológica, apenas sorrindo. Um sorriso cúmplice, mas não da esquerda, ou da direita. Uma cumplicidade com a democracia, com a civilidade e com a decência. Sua referência à Revolução dos Cravos na abertura da sessão foi uma espécie de senha para todos, que a partir dali sabiam que Chico e Lula abririam a boca para pôr o Brasil de volta em seu lugar.

 

Lula levantou-se e fez questão de declarar, sem rodeios, que aquela era “uma oportunidade de corrigir um dos maiores absurdos cometidos contra a cultura brasileira nos últimos anos", e que “finalmente a democracia havia vencido no Brasil e que por isso estava ali”. Pela terceira vez nesta viagem, lembrou os portugueses de se manterem vigilantes com sua sociedade plural, advertindo-os sobre o perigo da extrema direita que ronda muitos países.Na vez de Chico, as piadas e o bom humor tiveram lugar.

 

Uma crítica ácida à sem-vergonhice dos que veem crime numa mulher comprar uma gravata para o marido, como foi o caso de Janja, apedrejada por atravessar a rua e comprar a peça de seda numa loja de grife, foi bem encaixada pelo artista. O compositor lembrou que também havia ganhado a gravata que usava de sua esposa. O grande homenageado da tarde arrancava gargalhadas leves da plateia, que o olhava com a admiração dedicada unicamente aos gênios singulares.

 

Recordar que Jair Bolsonaro teve um único rompante de “finesse” na vida, ao negar-se a assinar seu diploma do Prêmio Camões, para assim “não o sujar”, foi mais um sinal da sutileza crítica de um dos mais célebres e celebrados brasileiros do nosso tempo.Numa cerimônia com muitas figuras gigantes da arte, da música e da literatura, como Mia Couto, Carminho e Fafá de Belém, quem saiu muito maior do que entrou foi o Brasil.

 

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Chico, que falou do pai e de sua árvore genealógica tão plural quanto sua obra, para além de sua relação de proximidade absoluta com Portugal, fez aqueles brasileiros ali presentes se sentiram no Brasil e, paradoxalmente, fez com que portugueses se sentissem ainda mais em Portugal. O que promoveu essa sensação confusa e aparentemente paradoxal foi a língua portuguesa, falada dos dois lados do Atlântico e ali representada (e premiada) na figura de homem insubstituível em sua grandiosa obra. 

 

Fonte: Revista Fórum

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