E executivos das quatro big techs já avisaram, ao divulgarem seus balanços financeiros do último trimestre, que extravagância de gastos com IA continuará em 2025
Há três meses, Wall Street puniu as maiores empresas de tecnologia do mundo por gastarem quantias enormes para desenvolver inteligência artificial, apenas para entregar resultados que não justificaram os custos.
A resposta do Vale do Silício neste trimestre? Planos para investir ainda mais. Os investimentos das quatro maiores empresas de internet e software — Amazon, Microsoft, Meta (dona de Facebook, Instagram e WhatsApp) e Alphabet (holding do Google) — devem totalizar bem mais de US$ 200 bilhões (R$ 1,13 trilhão) neste ano, uma quantia recorde para esse grupo de grandes gastadores.
Executivos de cada empresa alertaram os investidores nesta semana que a extravagância continuará no próximo ano, ou até mesmo aumentará.
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Essa farra destaca os custos e recursos extremos consumidos pelo boom mundial em IA desencadeado pela chegada do ChatGPT. As gigantes da tecnologia estão correndo para garantir os escassos chips de alta tecnologia e construir os vastos data centers que a tecnologia exige. Para isso, as empresas fecharam acordos com fornecedores de energia para alimentar essas instalações, chegando a reativar uma notória usina nuclear.
Cada uma delas está tentando convencer Wall Street de que esses enormes investimentos tornarão seus negócios futuros mais lucrativos do que os atuais, que vendem anúncios digitais, produtos e softwares.
Em uma teleconferência com investidores na última quinta-feira, Andy Jassy, CEO da Amazon, chamou a IA de uma "grande oportunidade realmente fora do comum, talvez única na vida", evidenciada pela projeção de sua empresa de um recorde de US$ 75 bilhões em gastos para 2024.
— Acredito que nossos clientes, o negócio e nossos acionistas se sentirão bem com isso a longo prazo — afirmou.
Analistas da MoffettNathanson chamaram os gastos da Amazon de “verdadeiramente impressionantes”.
Um dia antes, o CEO da Meta, Mark Zuckerberg, prometeu intensificar os investimentos em modelos de linguagem de IA e outros projetos futuristas, que ele agora define como essenciais para o futuro da empresa. Os gastos da Meta podem chegar a US$ 40 bilhões este ano.
Enquanto isso, o orçamento de despesas de capital da Alphabet superou as expectativas de Wall Street, e sua diretora financeira, Anat Ashkenazi, projetou aumentos “substanciais” para 2025.
A Apple também se comprometeu a investir em inteligência artificial, introduzindo um conjunto de serviços, como uma Siri mais avançada, chamada de Apple Intelligence. Mas seus resultados financeiros relativamente fracos neste trimestre não foram ajudados por seus novos produtos de IA, que em grande parte ainda não haviam sido lançados.
Os resultados financeiros das gigantes de tecnologia nesta semana foram variados. As ações da Amazon e da Alphabet, empresa controladora do Google, dispararam depois que as empresas superaram as expectativas de lucro, principalmente devido ao crescimento de suas unidades de computação em nuvem.
Mas as ações da Meta e da Microsoft caíram, após o plano de gastos da Meta gerar preocupações e as perspectivas de crescimento da receita da Microsoft no setor de nuvem desapontarem.
Alphabet, Microsoft e Meta subiram ligeiramente nas negociações pré-mercado na sexta-feira, enquanto a Amazon teve alta de 6,7% antes da abertura das bolsas de Nova York. A Apple caiu cerca de 1,1% no início das negociações.
Para a Microsoft, seu desempenho trimestral decepcionante não ocorreu porque os clientes não estavam dispostos a pagar por seus serviços de nuvem e IA, mas porque a empresa não conseguiu expandir a capacidade suficientemente rápido.
— Toda essa demanda surgiu bem rápido — disse o CEO, Satya Nadella, aos investidores em uma teleconferência na quarta-feira, acrescentando que data centers “não são construídos da noite para o dia”.
A Microsoft gastou US$ 14,9 bilhões no trimestre, um aumento de 50% em relação ao ano passado — e um valor maior do que a empresa já havia gasto em propriedades e equipamentos em um único ano antes de 2020. A diretora financeira Amy Hood disse aos investidores que a Microsoft trabalhará para colocar o fornecimento de seus data centers em uma “posição mais equilibrada”.
Os analistas estavam amplamente otimistas de que as dificuldades de fornecimento de data centers da Microsoft eventualmente serão resolvidas. O problema irá “restringir modestamente” os negócios de nuvem da Microsoft, mas os investimentos da empresa, especialmente sua grande participação na OpenAI, estão “plantando sementes para o sucesso no longo prazo”, escreveram analistas do JPMorgan em uma nota após os resultados da empresa.
A preocupação de Wall Street com o excesso de gastos não vai desaparecer. Esta semana, a Meta relatou US$ 4,4 bilhões em perdas operacionais para o Reality Labs, sua divisão que fabrica óculos de realidade aumentada e outros dispositivos longe do sucesso comercial. A empresa também gastou pesadamente para desenvolver seus modelos Llama, que visam competir com o Google e a OpenAI.
Na chamada de resultados da Meta, Zuckerberg argumentou que esses investimentos em IA estão melhorando o principal negócio da empresa de venda de anúncios no Facebook e Instagram.
Mas os investidores continuarão apreensivos com quaisquer sinais de fraqueza no negócio de anúncios “enquanto aguardam um retorno das grandes apostas em IA da Meta”, disse Jasmine Enberg, analista principal da Emarketer.
Ainda assim, as ações da Meta subiram 60% este ano. E alguns analistas afirmaram que os grandes gastos de Zuckerberg trarão retorno no futuro.
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"Claro, a história está a seu favor”, escreveu a MoffettNathanson em seu relatório, “e agora os investidores foram treinados para entender que paciência aqui é uma virtude.”
Fonte: O Globo