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09/01/2021

Inspirado em Hamilton, Hyuri abraça luta contra o racismo e deseja mais vozes ativas no futebol

Foto: Divulgação

O piloto britânico Lewis Hamilton, o responsável por abrir seus olhos e perceber que o mundo a redor poderia ser mudado.

Aos 29 anos, Hyuri é uma voz ativa no futebol. A pouca idade chama a atenção, ainda mais quando o próprio atacante do CRB admite que só passou a se interessar por assuntos relacionados a causas sociais nos últimos anos.

 

A inspiração? O piloto britânico Lewis Hamilton, o responsável por abrir seus olhos e perceber que o mundo a redor poderia ser mudado. Ser voz ativa, por sinal, se tornou sinônimo do atleta.

 

Ao EXTRA, Hyuri admite que tem três temas de maior interesse: a luta antirracista, a defesa pelas cotas estudantis nas faculdades e o espaço da mulher na sociedade. O atacante também fala sobre a pandemia da Covid-19, que o fez perder dois amigos de infância após testarem positivo para a doença.

 

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De onde vem a sua consciência social?

 

Basicamente começou quando vi o meu redor. O que acontece no mundo, no meu país e comecei a me informar. Para ter opinião, tenho que entender o que está acontecendo. Não me senti obrigado a isso como jogador, mas me senti obrigado como ser humano. Sou uma pessoa comum como você e como seu pai é. Para aceitar o que está rolando na sociedade é preciso entender a sociedade melhor.

 

Quem são as suas inspirações no esporte?

 

Fiquei muito inflamado pelo Lewis Hamilton. Pelos atos que ele tem, pelas atitude. Foi a única pessoa que conseguiu tocar no meu lado social e fazer pensar "vai saber um pouco do que está acontecendo para se posicionar sobre diversos assuntos". Pensei que seria muito bom buscar informações.

 

Fora dele?

 

Tem o Mario Sergio Portela, que as frases dele batem e nos fazem pensar muita coisa. Acompanhei diversas palestras, ele sempre dá um toque para que eu pense nos meus atos.

 

Como foi a sua criação?

 

Nasci no Rio de Janeiro. Em Freguesia, Jacarepaguá. Fui criado na maior parte da minha vida enquanto estive com meus pais. Eles se separaram. Éramos quatro, ela separou, meu irmão casou. Meu pai me deu uma educação para saber viver no mundo. Me sinto muito bem educado por tudo que ele passou e acredito que posso passar bem dentro da minha casa.

 

Houve dificuldade?

 

Meu pai era corretor de plano de saúde e tinha dificuldade dentro de casa. Por muitas vezes ficamos sem energia elétrica, sem água. Meu pai dava um jeito de comprar um botijão para poder cozinhar. Quando não tinha condição, ele comprava marmita de empada para a gente não passar fome. São experiências que lembro como se fosse ontem. Lembro que quando queria comer um pão quentinho e tinha que acender uma vela pra tostar ele um pouco. Nunca falou nada, mas sempre foi no limite.

 

Por que você acha que tem poucas vozes ativas para causas sociais no futebol?

 

Acho que é por medo. Medo da exposição, de tocar em assuntos que mexem com a sociedade de forma geral. Quando você fala de futebol, você fala do futebol. Quando fala de sociedade, mexe com o senhor de 70 anos e com o jovem de 14 anos. Você pode ter divergência de opiniões que podem te afetar. Mas eu não tive medo quando pensei em me posicionar. São diversos pontos, mas acho que esse é o principal.

 

Megan Rapinoe é uma das que cobra que atletas como Messi e Cristiano Ronaldo deveriam ter mais voz ativa. Você concorda?

 

Plenamente, 100%. Porque muitas pessoas esperam essas vozes. Além de jogadores, eles são influenciadores. Eles esperam e aguardam. Já conversei com pessoas que disseram que se Messi e Cristiano Ronaldo se posicionassem seria melhor. Muitas crianças esperam que ele se posicionem. Eles têm que dar o pontapé para que as pessoas se posicionarem ou se inspirarem também.

 

Quais temas você mais procurou?

 

De um ano para cá eu procurei entender mais o lado social e, com isso, entender mais as informações para não sair falando qualquer coisa que eu pense. Um ponto que seria encorajador é falar do espaço da mulher, de cotas na faculdade e do racismo.

 

O que você pensa sobre o espaço da mulher?

 

Parto do princípio que mulheres e homens são seres humanos. Não gosto de pensar que separam os dois por gêneros. Mulheres tem medo de sair na rua, são taxadas de menos capazes e conheço muitas mulheres que são capazes de tudo na vida. Não é o gênero que vai dizer se você é certo ou errado, capaz ou não.

 

Sobre cotas?

 

É um assunto que a pouco tempo atrás eu procurei ouvir os lados de quem era a favor e contra. As cotas nas faculdades oportunizam as pessoas de menos poder aquisitivo. Elas dão mais oportunidades para pessoas que tem menos condições financeiras. Oportuniza o morador de comunidade carente, o negro estar no mesmo espaço do branco que tem mais oportunidade. Não é para tirar lugar do branco, porque parece que o lugar já é dele.

 

Sobre racismo?

 

Assunto muito delicado. Eu digo porque eu já sofri diversas vezes com isso. Eu sei a dor que é ser atacado por um racista. Dificilmente ele vai sentir essa dor até o final da vida. É preciso um planejamento básico nas escolas, nas crianças. Essas coisas não vão mudar do dia pra noite. Tem que começar com um atendimento social melhor, colocar o preto e o branco no mesmo lado e mostrar que a cor não vai definir quem é melhor. Isso vai começar na educação.

 

Você disse que viveu situação de racismo. Pode falar sobre?

 

O tipo de racismo que já sofri com frequência foram piadinhas de companheiros de profissão. Foi mais no passado quando o tema ainda era muito escondido. Era chamar de macaco ou dar apelidos mais pesados. Quem é da pele preta, identifica na hora. Quem não é, acha que é só mais uma frase. Já me senti machucado, mas muita gente já sentiram muito mais que isso. Pessoas que são proibidas de entrar em estabelecimentos, que são monitoradas por medo de furto, etc...

 

Viu isso fora do Brasil também?

 

Morei na China por três anos e fora de lá há um preconceito que é muito doloroso. Eles se incomodam muito com o "olho puxado". Isso dói muito neles. No Brasil, vi que vai muito além disso. Eu comecei a dar uma atenção mais especial para qualquer tipo de discriminação. Argentino, chinês...

 

Algum jogador já conversou com você sobre isso?

 

Não. Já falei com conhecidos, amigos, mas nunca tive a chance de explicar de forma mais aprofundada. Mas acho que não é algo que tenho que impor a alguém.

 

Você perdeu dois amigos de infância por causa da Covid-19, correto?

 

Me resguardei muito na pandemia. Tenho meus princípios e ia ficar preocupado de que, se fosse contaminado, ia perder a chance de trabalhar. Pessoas morreram em uma velocidade muito grande. Cansei de ver pessoas que estavam furando a quarentena. Cheguei no Rio na época da quarentena, fomos dispensado do clube. Fui para casa e não pude ver meu pai por medo. Não podia trazer esse risco para ele.

 

A gente viu um movimento grande do Black Lives Matter na NBA. O que falta para termos isso no Brasil?

 

Já me fiz essa pergunta e não consegui achar uma resposta. A gente fica procurando respostas de por que as coisas acontecem lá e não aqui. As pessoas tem medo de morrer, de serem atacadas? Por mais que ambos os países tenham pessoas pretas e brancas, por que lá até movimento com astros da NBA tem e aqui não? Tanto que na época que aconteceu, eu fiquei inflamado de que eu teria que fazer algo aqui. Você fica esperando, vê só minuto de silêncio, as pessoas deixam pra lá, postam stories só para dizer que concordam e é isso. As pessoas podem fazer mais que curtida em rede social.

 

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Você tem um filho. Que valores você quer ensinar para ele?

 

Primeiramente conviver em sociedade e respeito. Educação é a base. Quando você pensa em respeitar o próximo, você deixa um monte de coisas ruins para trás. Essa parte de respeito em sociedade. Honestidade também. No país como o nosso, quem tem malandragem acaba usando onde não precisa.

 

Fonte: Extra

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