Após a queda recente na popularidade, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem adotado uma nova linha de atuação, em busca de apoio de uma ampla fatia da população que não está alinhada nem ao petismo nem ao bolsonarismo e se incomoda com o acirramento político no Brasil.
O presidente evitou, nos últimos dias, assuntos espinhosos que poderiam dar combustível à oposição bolsonarista. Nessa mesma perspectiva, o governo começa a colocar em prática, nos próximos dias, uma nova campanha de comunicação, sob o lema “Fé no Brasil”, num claro aceno ao eleitorado religioso.
A viagem ao Rio de Janeiro nesta terça-feira (2), que inclui um ato de filiação da ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, ao Partido dos Trabalhadores, será o primeiro grande teste desta fase “pacifista” de Lula. Há previsão que o presidente faça um discurso diante da militância de esquerda.
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DESAFIO É CONTROLAR LULA
Auxiliares e conselheiros de Lula vêm defendendo desde o ano passado que o presidente modere o tom e evoque a postura de um estadista que quer cuidar da população de seu país. O problema, na avaliação dos interlocutores do Planalto, é o próprio Lula, que é difícil de ser controlado e costuma enveredar para um discurso mais inflamado.
Dois episódios recentes ilustram essa situação:
em 18 de março, numa reunião ministerial, Lula chamou Jair Bolsonaro de “covardão”, ao tratar da tentativa de golpe de 08 de janeiro de 2023;
dois dias depois, no jantar de aniversário do PT, voltou a afirmar que Israel comete um genocídio na Faixa de Gaza. As duas falas foram de improviso e contrariam a linha defendida por assessores próximos ao presidente.
Nos últimos dias, no entanto, Lula não fez qualquer menção à prisão dos suspeitos pela morte da vereadora Marielle Franco. Também não comentou a estadia de Bolsonaro na Embaixada da Hungria em Brasília, nem fez qualquer manifestação sobre os 60 anos do golpe militar.
Por fim, Lula mudou a postura em relação à Venezuela: primeiro, o Itamaraty emitiu uma nota com tom crítico ao governo de Nicolás Maduro. Depois, o próprio Lula endossou as críticas, ao responder a questionamentos de jornalistas.
No ato com Anielle hoje, a expectativa é que Lula fale sobre a morte de Marielle, mas a orientação é que a menção seja cautelosa, de modo a não abrir brechas para que a oposição bolsonarista faça uso da fala do presidente.
'FÉ NO BRASIL'
A previsão é que o novo mote da comunicação do governo, o “Fé no Brasil”, comece a ser veiculado ainda em abril. O slogan oficial do governo continuará sendo “União e Reconstrução”.
Esta é a quarta etapa da estratégia de comunicação do governo. No início do ano passado, o lema era “O Brasil Voltou”, em referência aos projetos que estavam sendo relançados. No segundo semestre, com a aprovação de medidas econômicas no Congresso, entrou em ação o mote “O Brasil no Rumo Certo”.
No final do ano, a percepção de que a polarização persistia fez o governo lançar a campanha “Um só povo, um só país.”
Auxiliares do presidente admitem que a ideia agora é ampliar a interlocução com o eleitorado evangélico, mas não só. “Fé é uma palavra muito significativa no Brasil, tem uma mensagem muito forte. Então dialoga com os evangélicos, mas também com o conjunto da população”, afirmou ao blog um interlocutor do presidente.
A proposta é vincular o novo lema com projetos do governo, como o Pé de Meia, na Educação, o Plano Safra, na Agricultura, o Minha Casa Minha Vida, nas Cidades, entre outros. O Planalto espera que os ministros, portanto, atuem como porta-vozes dessa nova estratégia de campanha.
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Aliados de Lula já tentaram convencê-lo da necessidade de fazer gestos mais enfáticos em direção a lideranças evangélicas, como um encontro com pastores, mas o presidente e a primeira-dama, Janja da Silva, resistem a essa ideia.
Fonte: G1