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Política
14/03/2020

Mandei carta a Bolsonaro reclamando de 'energia do ódio', disse Bebianno em sua última entrevista

Foto: Divulgação

Bebianno no pré-lançamento de sua candidatura à Prefeitura do Rio pelo PSDB

Em sua última entrevista, a primeira como pré-candidato do PSDB à Prefeitura do Rio, o advogado Gustavo Bebianno, ex-ministro da Secretaria Geral da Presidência, que morreu neste sábado aos 56 anos depois de sofrer um infarto, se apresentou como um candidato de centro para as eleições, falou da expectativa de uma união contra a polarização possível entre Marcelo Crivella (PRB) e Marcelo Freixo (PSOL) e disse ter deixado cartas para um dia o presidente Bolsonaro ler.


Na conversa com o GLOBO, há uma semana, ele afirmou não ter guardado mágoa do ex-aliado, mas admitiu ter medo. Em entrevista ao Roda Viva, há dez dias, Bebianno afirmou que Carlos Bolsonaro, filho de Bolsonaro, montou uma Abin paralela no Palácio do Planalto, para espionar aliados.

 

Otimista, Bebianno deu a entrevista em seu QG de pré-campanha, onde já marcava compromissos na Zona Oeste do Rio. Estava montando um conselho de pré-campanha. O lançamento formal da pré-candidatura estava marcado para o dia 4 de abril, com a presença do governador de São Paulo, João Doria.

 

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— Vou convidar o Wilson Witzel — disse então Bebianno, que sonhava com o apoio do governador do Rio. — Gosto dele. Estamos em campo.

 

O que havia em 2018 era uma grande rejeição ao PT. E uma polarização extrema. O que imagina para o cenário eleitoral no Rio neste ano?

 

Eu sou conservador. Sou radicalmente contrário a essa coisa fundamentalista na política. Acho indecente usar a fé politicamente. Eu dizia isso ao presidente. Esssa pauta eu não tenho. Essa polarização de costumes não cabe na campanha municipal. São Paulo é a locomotiva do Brasil.

 

É uma união importante. Quais são as lideranças do Rio hoje?

 

Reconheço no Eduardo Paes, reconheço no Wilson Witzel. Mas o PSDB nunca teve essa força no Rio de Janeiro. Com todo o dinamismo que o Doria tem, essa aproximação com o Rio é benéfica. A relação dos dois governadores é boa, estão sentados na mesma mesa, pensando no agora.

 

Como essa sua visão da política, e a entrada no cenário do PSDB nacional, não fica clara uma tendência a uma fragmentação do centro?

 

É bem possível. E o Paes também quer o apoio do Wilson Witzel. Eu também quero o apoio do Witzel. O que interessa é a sinergia entre Rio e São Paulo. O Rodrigo Maia [presidente da Câmara] tem se mostrado uma pessoa madura. À altura para o cargo. Vou procurá-lo. Acho que a conversa com os governadores fortalece esse desejo por um centro político no Rio. Se for para o bem, amém.

 

O senhor acha possível uma aproximação com o Paes?

 

Nunca vou dizer dessa água não beberei. Eu concordo que o segundo turno no Rio não pode ser Crivella e Freixo. Essa polarização será uma desgraça. O Rio não será discutido. A questão é saber quem será o nome do centro.

 

O Eduardo é um cara de quem eu gosto. Tem uma bagagem imensa em relação ao Rio, e ao mesmo tempo carrega um vínculo do passado que se mostra bem pesado, especialmente o Sérgio Cabral. Estou examinando mais a fundo as finanças do Rio. Mas simpatizo muito com ele. Me parece que o Paes também decidiu se lançar diante desse cenário tenebroso do Rio

 

O Eduardo não acredita que pudesse haver uma fissura nesse centro. Não vamos entrar na campanha para bater no Eduardo Paes.

 

Como vai lidar com uma campanha que promete trazer uma rede pró-Bolsonaro contra você?

 

Eu trago para essa campanha essa experiência intensa. Não me importa o adversário. Vou dedicar meu tempo e energia a uma disputa porque acredito que se eleito for não vou depender de ninguém. No domingo do carnaval consegui marcar com o Doria e com o Witzel. O Rio e São Paulo precisam se unir. Precisamos pensar o Rio.

 

Não tem receio?

 

A questão é que não tem cerimônia alguma em colocar minha integridade física em risco. As redes estimulam isso. E ele estimula as redes. A maioria são valentões de internet.

 

Quem me garante que não tem um maluco ali que vai me agredir? Mas não dá para entrar em um nível de paranoia que não saio de casa. A minha relação com ele não é de mágoa.

 

É de medo. Do que ele possa fazer com o governo. E comigo. A mágoa ficou para trás. A raiva dele é de não ter me dobrado. Só me dobro para meu pai e para o universo, que sei que sou um grão. Nas redes sociais, estão mirando a pessoa errada. Vou apresentar minhas propostas.

 

O senhor conversou com ele depois do rompimento?

 

Não se constrói nada de positivo na vida com o ódio. Fiz uma carta. Um dia vou publicar essa carta. Uma carta linda, de irmão. E entreguei nas mãos do Carlos Vereza, para que entregasse ao Jair. Entreguei também ao Onyx e ao general [Maynard] Santa Rosa [ex-secretário de Assuntos Estratégicos, que se demitiu em dezembro].

 

O senhor chegou no ápice, eu disse. Mas toda a energia que eu sinto do senhor é a do ódio. O fato é que quero que o governo dê certo, mas dentro de um ambiente democrático, saudável, respeitando as instituições.

 

Que legado ficou do Bolsonaro para você?

 

O muito do pouco que aprendi na política foi com o Jair. Eu via verdade no que ele dizia. Ao longo de toda a campanha eu enxergava essa verdade: ele não se preocupa com o adversário, estratégia, pesquisa. Eu sou mais estratégico que o dele. A grosso modo, meu estilo era de trator também. Eu fui o único cara do nosso grupo que ficou com ele até o fim.

 

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A tropa no final do primeiro turno já estava toda com mandato. Eu fiquei abraçado ao Jair até o fim do segundo turno. Depois de ele ter me achincalhado nas redes sociais. Ele nunca teve ao lado dele o nível de lealdade que eu tinha. Ele tem a força das redes sociais contra mim. Minha experiência com o Bolsonaro foi muito traumatizante. Ele caiu no paraquedas e me deixou no precipício.

 

O Globo

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