O primeiro-ministro britânico Boris Johnson apresenta seu plano de negociação comercial com a União Europeia
BRUXELAS E LONDRES - O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, e o negociador chefe da União Europeia, Michel Barnier, apresentaram sua posições iniciais para um novo acordo comercial entre o bloco europeu e o Reino Unido, três dias após o Brexit.
As duas partes têm 11 meses para negociar, e, na abertura do diálogo, embora tenham elogiado o livre comércio, deixaram nítido que há posições fortemente contrastantes, o que derrubou a libra.
Johnson disse que deseja um acordo no mesmo estilo do que o bloco europeu tem com o Canadá, e prometeu que o seu país não aceitará regras sobre proteções sociais e o meio ambiente.
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O acordo comercial entre a UE e o Canadá é considerado o "mais ambicioso que a UE já celebrou", e isenta de impostos cerca de 98% de todas as mercadorias comercializadas entre o país norte-americano e os europeus.
Barnier disse que Bruxelas oferece um acordo comercial “altamente ambicioso como pilar central desta parceria” com o Reino Unido, o que inclui isenção de tarifas e cotas. A condição para isso, afirmou, é de que “a competição permaneça aberta e justa”, sem “vantagens competitivas injustas”. Segundo Barnier, isto significa que os britânicos precisarão atender a “altos padrões que nós [europeus] temos em questões sociais, ambientais, fiscais e de ajuda governamental”.
— Quanto mais padrões o Reino Unido e a UE tiverem em comum, melhor será o acesso que a UE poderá oferecer a seu mercado — afirou Barnier. — O Reino Unido continuará a aderir ao modelo social e regulatório da Europa no futuro, ou irá divergir? A resposta será fundamental.
Os dois discursos aconteceram quase ao mesmo tempo, tendo Barnier falado minutos antes de Johnson. O esboço do plano divulgado pela UE diz que o Reino Unido precisará fazer “robustos compromissos” para garantir que não prejudique a UE. Johnson afirma que conseguirá negociar um acordo ambicioso até o fim do ano, mas Bruxelas diz que o prazo é impossível. O acordo com o Canadá foi negociado por sete anos até ser firmado.
Johnson recusou a hipótese de o Reino Unido incorporar regras ditadas pela Europa em “política competitiva, subsídios, proteção social, o meio ambiente, ou qualquer outro assunto deste tipo, não mais do que a UE deveria ser obrigada a aceitar regras britânicas”.
— O Reino Unido irá manter os mais altos padrões nessas áreas, até melhores, em muitos aspectos, que aqueles da UE, sem a obrigação de um tratado — disse Johnson.
Outro ponto importante de desacordo diz respeito à pesca. Segundo Barnier, o acordo precisa “proporcionar acesso contínuo e recíproco aos mercados e às águas” — isto é, navios europeus teriam acesso às costas britânicas e vice-versa, e o acordo seria feito com longa duração. Johnson disse estar disposto a autorizar barcos europeus em seus mares, contanto que tais acordos fossem revisados anualmente.
— Estamos prontos para considerar um acordo sobre a pesca, mas ele precisa refletir o fato de que o Reino Unido será um Estado costeiro independente ao fim deste ano de 2020, controlando nossas próprias águas — afirmou Johnson. — E, por tal acordo, haveria negociações anuais com a UE, usando os mais recentes dados científicos, para garantir que os territórios pesqueiros britânicos são antes de tudo e principalmente para barcos britânicos.
É incerto se Johnson quer de fato um acordo. Diversos defensores mais veementes do Brexit no Partido Conservador defendem que não haja um novo pacto com a Europa. A este respeito, Johnson chegou a citar que, se a Europa não aceitar as condições britânicas, a relação entre o bloco europeu e a Austrália pode servir como um exemplo. O país da Oceania não tem um acordo comercial formal com Bruxelas e, em diversas áreas, segue as normas da Organização Mundial do Comércio.
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A libra caiu 1,1% imediatamente após o discurso de Johnson. Em um comunicado divulgado após o discurso do premier, o Reino Unido afirmou que o acordo pode abranger "todo o comércio, a pesca, em áreas de segurança interna e em questões mais técnicas como aviação ou cooperação nuclear civil”. “A cooperação futura em outras áreas não precisa ser administrada por um tratada internacional, e menos ainda por instituições compartilhadas”, disse a nota.
O Globo