Não é surpresa alguma que a China tenha sido escolhida como destino da primeira viagem internacional do presidente russo, Vladimir Putin, após sua recente reeleição.
Com a Rússia sob sanções do Ocidente, Putin tem interesse existencial em reforçar a “parceria sem limites” com Pequim, como foi redefinida a relação bilateral em 2022, pouco antes da invasão da Ucrânia. Além disso, ele próprio alvo de um pedido de prisão do Tribunal Penal Internacional (TPI), suas opções de viagens internacionais são bastante limitadas.
A chegada de Putin a Pequim nesta quinta (noite de quarta no Brasil), tem um alto significado para o presidente russo, a exatamente um mês da conferência de paz marcada para a Suíça a pedido da Ucrânia.
Veja também
Autor de ataque a premiê eslovaco é acusado de crime político
Putin se diz aberto a diálogo sobre a Ucrânia, mas faz exigências
Segundo o governo suíço, mais de 50 países já confirmaram presença, mas a China não é um deles. Com ou sem a presença chinesa, para Putin o apoio de Pequim é fundamental para rebater a narrativa do Ocidente de que a Rússia está isolada no cenário internacional.
Não por acaso, Putin aplaudiu em Pequim a proposta apresentada no ano passado pelo governo chinês sobre a guerra da Ucrânia, que pede um cessar-fogo mas não fala em retirada das forças russas da Ucrânia.
O presidente russo também agradeceu os esforços da China em buscar uma solução política para o conflito. Enquanto isso, diplomatas ucranianos na capital chinesa não escondem a frustração e dizem que tais esforços não produziram nada além da "falsa impressão" de que Pequim tem o desejo de operar como um mediador neutro.
Além da necessidade de apoio político, o que move o Kremlin cada vez mais para a órbita chinesa é a dependência econômica. Em pouco mais de dois anos de guerra, o eixo russo sofreu uma guinada radical, do oeste para o leste.
No ano passado, o comércio da Rússia com a China bateu a cifra recorde de US$ 240 bilhões, um aumento de 60% em relação ao período anterior à guerra. A China foi destino de um terço das exportações da Rússia e responsável por 40% das importações do país, segundo a alfândega chinesa.
O aumento no fluxo de comércio serviu ainda para realçar uma estratégia maior abraçada pelos dois países (e outros, incluindo o Brasil), que é dar uma sacudida na hegemonia do dólar americano nas transações financeiras internacionais. Em seu encontro com o presidente chinês, Xi Jinping, Putin destacou que 90% do comércio entre os dois países hoje é feito com suas moedas nacionais.
A virada para o lado chinês é política, econômica, e também social. A elite russa contrata professores de mandarim para seus filhos, antevendo que a guinada não tem volta. A virada reflete mudanças “tectônicas” na Rússia desde o início da guerra, diz Alexander Gabuev, diretor do Carnegie Eurasia Russia Center, em Berlim.
Se havia alguma expectativa, principalmente na Europa, de que Moscou e Pequim estariam vivendo um movimento de afastamento após dois anos de guerra, ambos fizeram questão de esvaziá-la. A declaração conjunta da visita de Putin fala em “aprofundamento da parceria abrangente e da cooperação estratégica para uma nova era”, praticamente um recado de que a amizade “sem limites” que precedeu a guerra tende a esquentar.
Curtiu? Siga o PORTAL DO ZACARIAS no Facebook, Twitter e no Instagram.
Não faltam sinais de que a relação bilateral tem mais divergências do que aparentam. Tudo somado, porém, diante do antagonismo com o Ocidente, ambos consideram que o melhor é fortalecer a parceria — ou ao menos passar essa impressão.
Fonte:O Globo
publicidade
publicidade
publicidade
.jpg)
publicidade
