03 de Maio de 2024 - Ano 10
NOTÍCIAS
18/11/2020

Piora da epidemia da Covid-19 no Brasil pode acelerar teste para comprovar eficácia da CoronaVac, diz diretor do Butantan

Foto: Reprodução

Frasco da vacina CoronaVac, produzida pelo laboratório chinês Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan, em São Paulo

  O resultado preliminar do estudo que avalia a eficácia da vacina CoronaVac contra a Covid-19 pode sair antes do esperado, afirma o diretor de pesquisa clínica do Instituto Butantan. Segundo Ricardo Palacios, como o número de infecções pela doença no Brasil estão crescendo, é possível que a quantidade de casos necessárias para tirar uma conclusão saia dentro de poucas semanas.

 

— Nós temos um protocolo guiado por desfecho, o que significa que temos um número predeterminado de casos de Covid-19 que precisam ocorrer entre os voluntários do estudo antes que possamos fazer uma análise interina. No nosso caso esse número é 61 — disse Palacios ao GLOBO.

 

Nesta terça-feira, o Brasil registrou 32.262 novos casos e 676 novas mortes por coronavírus nas últimas 24 horas. A média móvel de mortes foi de 557. Essa é a maior marca dos últimos 35 dias, segundo o boletim das 20h do consórcio de veículos de imprensa. Também nesta terça-feira, um levantamento do Imperial College de Londres apontou que a taxa média de transmissão (Rt) da Covid-19 no Brasil foi de 1,1 na última semana. Segundo números da universidade britânica, referentes ao intervalo encerrado na última segunda-feira, o índice brasileiro cresceu 0,33 e voltou praticamente ao mesmo patamar de duas semanas atrás. O avanço do novo coronavírus sugere que o país saiu mais uma vez da tendência de desaceleração do patógeno.

 

Veja também

 

Anvisa autoriza retomada dos testes da vacina Coronavac

 

Butantan vai iniciar testes da Coronavac em idosos, grávidas e crianças

 

De acordo com alguns médicos e cientistas, o Brasil está entrando em uma segunda onda da Covid-19, mas para outros o país nem saiu da primeira fase da doença. Nomenclaturas à parte, o fato é que os registros de coronavírus voltaram a crescer em alguns locais nos últimos dias, como São Paulo e Rio, e essa tendência de aumento vem acendendo um alerta para as próximas semanas. Segundo o cientista, a antecipação ocorreria a exemplo dos resultados preliminares anunciados nos testes das vacinas da Pfizer e da Moderna, que estão sendo testadas nos EUA.

 

— Nos EUA o número de casos estava se incrementando muito, e no Brasil infelizmente estamos seguindo a mesma tendência — diz Palácios. — Se realmente os casos aumentarem no Brasil talvez venhamos a ter a informação um pouco antes do que o previsto.

 

A decisão de abrir dados preliminares, em princípio, não é só do Butantan. Ela precisa primeiro ser avaliada pelo DSMB (comitê de monitoramento de dados e segurança), grupo que faz o acompanhamento independente da pesquisa.

 

Caso os 61 casos necessários para antecipação de resultados se confirmem, isso ocorrerá antes que todos os voluntários da vacina tenham sido vacinados.

 

O Butantan afirma que pouco mais de 10 mil indivíduos já integram o estudo, tendo recebido ou a vacina ou o placebo, e a meta é atingir 13.060 voluntários. Entre os cerca de 3.000 que ainda integrariam o estudo estão principalmente aqueles com mais de 60 anos, que entraram no estudo só em um segundo momento.

 

Instituto Butantan se transforma em um grande produtor de biofármacos -  Pfarma

 

— Esse é o grupo do qual mais sentimos falta e no qual temos mais interesse, porque é importante que a vacina os proteja. Existem menos profissionais de saúde com mais de 60 que estejam atendendo pacientes com Covid-19 que é o foco do estudo — diz o cientista. — Mas eles existem e estão se voluntariando.

 

Lancet publica versão final do estudo


Nesta terça-feira (17), a revista médica "Lancet Infectious Diseases" publicou finalmente a versão final do estudo com os resultados das fases 1 e 2 do teste da CoronaVac, realizadas na China para medir segurança e eficácia de vacina.

 

O trabalho reitera resultados bem-sucedidos divulgados antes, mas agora tem a chancela de uma revisão independente e lista algumas limitações da vacina que os cientistas estão observando.

 

O trabalho afirma que a vacina foi segura e teve como efeitos adversos apenas alguns casos em que houve uma dor administrável no local de aplicação da vacina injetável. Quanto a capacidade de gerar resposta imune, diz o estudo, a CoronaVac foi "moderadamente imunogênica".

 

O trabalho avaliou, entre outras coisas, o nível de produção de anticorpos, moléculas do sistema imune que neutralizam o coronavírus. A conclusão foi que os voluntários da vacina não geraram tanta resposta imune quanto pacientes infectados naturalmente pelo vírus.

 

Segundo Palacios, isso já era esperado.

 

— O mais importante não é ela gerar uma grande concentração de anticorpos, mas gerar uma resposta de memória do organismo, ou seja, ensinar o organismo a responder à infecção, e isso foi observado — diz o cientista.


Segundo o infectologista Mauro Schechter, da UFRJ, não envolvido com o estudo da CoronaVac, a geração moderada de anticorpos não é necessariamente uma preocupação, desde que os anticorpos estejam acima de um limiar mínimo para aferir imunidade.

 

O estudo de fases 1 e 2, além disso, não avaliou dados de imunidade celular, um mecanismo do sistema imune que não envolve diretamente a produção de anticorpos. Esse outro tipo de proteção, segundo Palacios, está sendo avaliada agora no ensaio clínico de fase 3.

 

Shechter afirma que é possível que a imunidade celular esteja por trás dos mecanismos que explicariam o alto grau de eficácia inesperado relatado pelas vacinas da Pfizer e da Moderna, feitas de RNA, material genético do vírus.

 

Coronavírus:Com desmonte de hospitais de campanha, rede de saúde do Rio fica sob pressão e especialistas fazem alerta

 

— A imunidade celular deve ter algum papel em ter feito que essas vacinas tenham ajudado os pacientes não só a evitar infecção, mas também evitado doença grave — diz Schechter. — Isso traz bastante otimismo em relação a qualquer vacina que possa gerar anticorpos contra a proteína da espícula do vírus, que é também o caso da CoronaVac.

 

Voluntário da vacina Coronavac morreu por intoxicação, aponta laudo

Fotos: Reproduções

 

Segundo Palacios, o episódio de interrupção temporária dos testes clinicos da vacina após a morte de um voluntário, que gerou atrito com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), já foi superado.

 

— Essas são dificuldades que acontecem quando temos um estudo de tão grande porte — afirma. — A gente tem uma enorme confiança no corpo técnico da Anvisa.


Na opinião do cientista, é equivocada qualquer declaração que faça parecer que pesquisadores em testes de diferentes vacinas sejam rivais em uma corrida.

 

Curtiu? Siga o PORTAL DO ZACARIAS no FacebookTwitter e no Instagram. 

Entre no nosso Grupo de WhatsApp.

 

— Entre os cientistas existe um senso de colaboração e de que não estamos concorrendo uns contra os outros, mas contra o vírus. Todos nós comemoramos cada vez que alguém tem um resultado favorável — diz.

 

Fonte: O Globo

LEIA MAIS
DEIXE SEU COMENTÁRIO

Nome:

Mensagem:

publicidade

publicidade

publicidade

publicidade

publicidade

Acompanhe o Portal do Zacarias nas redes sociais

Copyright © 2013 - 2024. Portal do Zacarias - Todos os direitos reservados.