Quem polemiza ações como a de Pedro Scooby no Rio Grande do Sul não pensa além do próprio umbigo

Eu apostaria dinheiro: a maioria das pessoas que usa os dedinhos desenfreados para criticar, julgar e reclamar nas redes sociais não botou essas mesmas mãos na massa para fazer algo que efetivamente auxilie as vítimas da tragédia no Rio Grande do Sul. No meio de tanta destruição e um sofrimento imenso, parece até que uma doação individual, dentro das nossas possibilidades, não vai fazer diferença. Mas qualquer pequeno ato concreto num momento como esse é maior do que a enorme maldade e ignorância de quem, até em situações catastróficas, pratica o discurso apelativo, das falsas narrativas, do ativismo virtual descolado da atitude real.

O que o show que Madonna fez no Rio tem a ver com a dor do povo gaúcho? Nada! E quem insiste em afirmar o contrário é dissimulado, tenta se aproveitar da ingenuidade das pessoas para continuar mantendo o país num clima de divisão e de ódio, com comparações descabidas. O espetáculo já aconteceu, a cantora já foi embora e, goste você ou não do que a artista apresentou, sua opinião não vai mudar o fato de que o evento foi importantíssimo para a economia da cidade e do estado.

Do proprietário do hotel mais luxuoso ao trabalhador que, por falta de condições, atua na informalidade vendendo leques usados para ovacionar a Rainha do Pop, duvido que um deles não tenha aprovado a vinda dela e o dinheiro que ela fez circular. Sem contar a valorização de nossa autoestima. A repercussão das imagens da plateia gigantesca nas areias de Copacabana ecoou mundo afora, o que atrai mais olhares para cá. E quem trata turismo como algo secundário e supérfluo neste Brasil, definitivamente, precisa se informar e estudar mais. Temos um potencial imenso ainda subaproveitado.

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As torcidas organizadas e os lacradores de plantão não dão trégua nem em meio a uma tragédia humana. O surfista Pedro Scooby se juntou a outros atletas amigos e se mandou para o Sul para salvar vidas. Aí a galera o elogia, cutuca a ex-mulher e mãe dos filhos dele, ela vai para a internet criticá-lo pelo fato de um dos herdeiros deles estar há 20 dias sem ir pra escola, e as atenções, de novo, se desviam. Se há problemas familiares a serem resolvidos, a Justiça precisa analisar e resolver, não é o tribunal da internet que decide o que é certo e errado. O fato inegável é que, neste momento, enquanto muita gente fica no blá-blá-blá, o ex-BBB está agindo. Usou seu dinheiro, patrocinado ou não, sua influência e sua capacidade física para resgatar gente chorando no meio da água suja e em cima de telhados.

A gente precisa expandir nossa visão de mundo para deixar de pensar pequeno, sabe? Eu, que nasci tão longe do mar, mas há mais de 20 anos vivo perto dele, me lembro da imagem que carregava na infância desse pessoal que pegava onda, uma vida meio fácil e descompromissada, ao estilo Juba e Lula da série “Armação Ilimitada’’ ou Saldanha e Gaspar de “Top model’’, histórias da década de 80... Aí o tempo passa e levamos um caldo, ou um capote, como dizemos quando somos derrubados por uma onda brava. Hoje olho com admiração para esses caras que dominam o mar, acho bonito de ver. E o surfe virou profissão, esporte rentável, modalidade olímpica. Dá medalha, dá título, dá fortuna... Salva vidas, em vários sentidos, estamos vendo mais uma exemplar demonstração agora.

Assim como Pedro Scooby, várias outras personalidades do esporte, da música e das artes em geral agiram, em vez de só falar e se lamentar. O influenciador Felipe Neto foi um. Ciente do alcance de seu nome e de sua imagem, organizou campanhas, mas, por divergências políticas, tentaram até derrubar a chave Pix que ele anunciou.

É necessário olhar além do próprio mundinho particular e do próprio umbigo em situações como essa para perceber, antes que seja tarde demais, que uma chuva chega e devasta o que você considera verdade absoluta. Ter um mínimo de bom-senso. E mais humanidade. Sua água, sua roupa, seus R$ 50 doados vão fazer alguma diferença. A hora, agora, é de surfar na onda da solidariedade.

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Gabriela Germano é editora-assistente e atua na área de cultura e entretenimento desde 2002. É pós-graduada em Jornalismo Cultural pela Uerj e graduada pela Unesp. Sugestões de temas e opiniões são bem-vindas. Instagram: @gabigermano E-mail: gabriela.germano@extra.inf.br

Fonte: Extra