18 de Maio de 2024 - Ano 10
NOTÍCIAS
Geral
28/11/2019

Sem apoio, mãe enfrenta dificuldade para criar sozinha três crianças autistas com R$ 212 do Bolsa Família

Foto: Reprodução

Família mora de favor em um quintal no Alto José Bonifácio, na Zona Norte do Recife. Jéssica da Silva diz que não consegue marcar consultas nem remédio gratuito.

Uma mulher enfrenta, sozinha, um drama diário: criar três filhos menores que têm a síndrome do espectro autista. A família da dona de casa Jéssica Renata da Silva mora de favor em um quintal de uma residência, no Alto José Bonifácio, na Zona Norte do Recife. Sem apoio e condições para trabalhar, diante das dificuldades de relacionamento das crianças, ela vive com R$ 212 do Bolsa Família (veja vídeo acima).

 

Mãe solteira, Jéssica cuida de Carlos Daniel, de 8 anos; Carlos Eduardo, de 5 anos e Davi Lucas, de 3 anos. Eles têm dificuldades de convivência com outras pessoas e são bastante agitados. A dona de casa se separou dos dois ex-companheiros, que são pais dos meninos.

 

Vivendo em uma situação complicada, a mulher publicou nas redes sociais um vídeo, fazendo um desabafo. A mensagem, que viralizou, resultou em uma audiência pública realizada no Ministério Público de Pernambuco (MPPE).

 

Veja também

 

Quase 3 meses após nascimento, quíntuplos recebem alta de hospital: 'Felicidade sem tamanho', diz pai 

 

Universitária cai de “trenzinho da alegria” durante festa e morre

Em audiência, Jéssica pediu socorro. "A lei diz que eles têm direito a um atendimento multidisciplinar, moradia digna, transporte inclusivo, mas nada disso está acontecendo. Parem de dar desculpas, é o que eu peço. As mães dos autistas estão adoecendo", afirmou.

 

Jéssica cuida sozinha dos três filhos diagnosticados com autismo — Foto: Reprodução/TV Globo

 

Para Jéssica, o dinheiro do Bolsa Família está longe de sanar todas as dívidas da família. Algumas das despesas são custeadas com a ajuda de amigos, que até chegaram a criar uma campanha para arrecadar fundos e comprar uma casa própria para a mãe e os filhos.

 

No lugar onde mora, a mulher passa muitas de suas noites vigiando os filhos para que escorpiões e ratos não invadam a casa

 

"O mais difícil é que eu não tenho suporte. Sou só eu para fazer tudo com eles. Por passar, às vezes, a noite acordada, tenho que estar bem no outro dia. Isso reflete muito na rotina", disse a dona de casa.

 

Os três filhos de Jéssica são funcionais e verbais. Isso significa que o nível do transtorno do espectro autista permite que eles se expressem e formem diálogos, diferente de pessoas com níveis mais severos de autismo. Entretanto, o transtorno exige que eles tenham assistência multidisciplinar, que, segundo a mãe, nunca chegou.

 

"O neurologista nos encaminhou para fonoaudiólogo, psicólogo, terapia ocupacional... Toda assistência está faltando na rede. É um descaso muito grande", afirmou.

 

Sem assistência na escola, Jéssica ensina atividades pedagógicas para os filhos em casa — Foto: Reprodução/TV Globo

 

Jéssica contou, também, que levou os filhos para atendimento no Centro de Atenção Psicossocial (Caps). Para ela, o tipo de serviço oferecido não se adequa às necessidades dos autistas.

 

"O Caps atende a todas as pessoas com deficiência. São cinco crianças em uma sala de atendimento em grupo. A gente precisa de uma assistência dedicada ao autista", explicou a dona de casa.

 

Mais problemas


As crianças dependem também de um remédio chamado Risperidona. O medicamento é oferecido gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

 

Para ter acesso, no entanto, é preciso ter um laudo de um psiquiatra. Jéssica disse, no entanto, que a resposta da rede de saúde não é compatível com a urgência da família.

 

"A criança precisa passar por um psiquiatra, para que o médico solicite o pedido do medicamento. Essa consulta eu não consegui ainda. A rede fala que o tempo estimado para a consulta [com o psiquiatra] é cerca de dois anos após a marcação", disse.

 

Segundo Jéssica, filhos dependem de laudo psiquiátrico para ter acesso aos direitos previstos por lei — Foto: Reprodução/TV Globo

Fotos: Reprodução

 

 A falta do laudo que deve ser emitido pelo psiquiatra atrapalha também a necessidade do transporte das crianças. "O VEM Livre Acesso [cartão usado para o transporte coletivo no Grande Recife] foi negado por falta desse laudo do psiquiatra. Um problema vai puxando o outro", afirmou.

 

Dar entrada no Benefício de Prestação Continuada, para os filhos de Jéssica, também não foi possível. Só o processo do caçula está em andamento no Instituto Nacional do Seguro Social, ainda sem resposta.

 

Na escola, os problemas são semelhantes. Segundo Jéssica, nenhum dos três meninos tem o auxílio de um apoiador de ensino, direito previsto em lei. Em casa, a mãe tenta "se virar" com livros doados para estimular o aprendizado dos filhos.

 

Começar a trabalhar fora de casa também é um cenário distante para Jéssica. Ela disse que desce e sobe a escadaria que dá acesso à casa onde vive, até oito vezes, diariamente.

 

Curtiu? Siga o PORTAL DO ZACARIAS no FacebookTwitter e no Instagram. 

Entre no nosso Grupo de WhatsApp.

 

"Ninguém quer olhar três crianças, independentemente do autismo. É uma responsabilidade muito grande. Eles não param hora nenhuma", disse.

 

 G1

LEIA MAIS
DEIXE SEU COMENTÁRIO

Nome:

Mensagem:

publicidade

publicidade

publicidade

publicidade

publicidade

Acompanhe o Portal do Zacarias nas redes sociais

Copyright © 2013 - 2024. Portal do Zacarias - Todos os direitos reservados.