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Internacional
14/03/2020

Na pior crise do seu mandato, Trump tem sido mais seguidor do que líder

Foto: Reprodução

Autoridades locais tomam para si responsabilidade de tomar decisões, enquanto presidente não demonstra pressa para adotar medidas de combate à pandemia

Na crise mais séria de seu mandato, o presidente Donald Trump vem sendo assertivo no fechamento das fronteiras para vários estrangeiros — uma de suas medidas favoritas. Dentro dos Estados Unidos, no entanto, o presidente tem sido mais seguidor do que líder, enquanto o coronavírus se espalha.

 

Por mais que ele se apresente como o comandante à frente da nação, Trump se tornou, essencialmente, um espectador. Diretores escolares, secretários de esportes, reitores universitários, governadores e empresários vêm tomando para si a responsabilidade de suspender boa parte do cotidiano americano sem ter uma diretriz clara do presidente.

 

Por semanas, Trump resistiu a pedir para que a população americana suspendesse ou não comparecesse a grandes aglomerações públicas. Na última quinta-feira, ele demonstrou relutância até mesmo para cancelar seus eventos de campanha, apesar de reconhecer que provavelmente seria necessário fazê-lo. Coube a Anthony Fauci, o cientista mais famoso do governo, dizer publicamente que o presidente suspenderia os comícios, seguindo os passos tomados nas 24h anteriores pelas ligas nacionais de esportes.

 

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Prefeitos e funcionários do governo, executivos de hospitais e donos de fábricas que o visitaram na quinta-feira não receberam instruções adicionais do presidente quando ele falou sobre o vírus no Salão Oval: as informações foram basicamente as mesmas de seu discurso à nação na noite anterior. Além de limitações a viagens e lembretes para lavar as mãos, Trump vem deixando para os outros a responsabilidade de combater a pandemia e indicou que não está com pressa para adotar medidas adicionais.

 

— Se eu precisar fazer alguma coisa, eu farei. Eu tenho o direito de fazer muitas coisas das quais as pessoas nem sequer sabem — disse o presidente na quinta. — Comparado a outros lugares, nós estamos em excelente estado e queremos continuar desta maneira.

 

Esforços em vão


Após três anos se sentindo sitiado por seus inimigos, Trump e alguns de seus conselheiros veem muitos assuntos sob as lentes de políticas de guerra, creditando críticas a uma tentativa de tirar vantagem e dificultando a diferenciação entre verdade e mentira, segundo pessoas próximas ao presidente. Mesmo aqueles que discordam acham difícil penetrar naquilo que veem como uma bolha ao redor do presidente.

 

Thomas Bossert, ex-conselheiro de Segurança Nacional de Trump, tentou repetidamente nos últimos dias falar com o vice-presidente Mike Pence para alertá-lo sobre a seriedade da pandemia de coronavírus, mas foi bloqueado pela Casa Branca, segundo duas pessoas familiarizadas com os acontecimentos. Restou-lhe tentar chamar a atenção do presidente — e do público — por meio de artigos de opinião, aparições na televisão e mensagens no Twitter.

 

Bossert, que publicamente alertou para o fato de que até 500 mil americanos poderão morrer em consequência do novo coronavírus, negou na quinta-feira que tenha tentado ver Trump, mas não deu mais detalhes sobre seus contatos com a Casa Branca.

 

Entre os conselheiros que compartilham a visão mais parcial do presidente está seu genro, Jared Kushner, que vê o problema mais como uma questão de psicologia pública que de saúde, segundo pessoas com quem teve contato. Kushner se envolveu mais na resposta à pandemia nos últimos dias, segundo três conselheiros da Casa Branca.

 

Marc Short, chefe de Gabinete de Mike Pence, procurou o genro de Trump na segunda-feira para que as equipes do presidente e do vice-presidente trabalhassem em conjunto. Depois disso, Kushner assumiu um papel mais ativo, passando a quarta-feira com Trump, segundo fontes do governo.

 

Discurso pouco apaziguador


Um funcionário do governo americano disse na quinta-feira que Kushner, sua mulher, Ivanka Trump, e Hope Hicks, conselheira de Trump que acabou de retornar à Casa Branca, defendiam que o presidente fizesse seu discurso de quarta-feira à noite para apaziguar o medo e a incerteza. Ivanka, a filha mais velha do presidente, era particularmente favorável ao pronunciamento, segundo três fontes.

 

Rapidamente, no entanto, o assunto se tornou polêmico dentro do governo, segundo as fontes ouvidas pelo New York Times. Rascunhos foram escritos e reescritos, com Kushner aparentemente no comando, enquanto o redator-chefe dos discursos presidenciais, Stephen Miller, os escrevia. O escritório de comunicação da Casa Branca teria sido excluído do processo de tomada de decisões.

 

Ainda na noite de quinta-feira já estava claro que o pronunciamento não havia acalmado o mercado financeiro, que despencou mais 10%, em seu pior dia desde a Segunda-Feira Negra de 1987, quando o índice Dow Jones caiu 22,6%. Ao lado das perdas das semanas mais recentes, os mercados já apagaram cerca de 85% dos ganhos obtidos durante a Presidência de Donald Trump — ganhos que eram parte central de seu argumento para ser reeleito.

 

“A liderança real nesta crise virá de governadores, funcionários de saúde e líderes institucionais”, escreveu Rod Dreher no site de notícias American Conservative. “Hoje nós vimos que, mesmo quando Trump tenta demonstrar seu melhor comportamento, ele não entende direito a natureza da crise ou a melhor maneira de combatê-la.

 

Outros estavam mais dispostos a concedê-lo o benefício da dúvida. Rich Lowry, editor da National Review, que pouco antes havia criticado o “fracasso de liderança” do presidente ao lidar com a crise, viu algum progresso no discurso.

 

A Casa Branca insistiu em que as ações do presidente tiveram o apoio de autoridades sanitárias e que os governos locais devem tomar decisões baseando-se em suas próprias condições. Auxiliares afirmaram que o discurso mostrou para os americanos que Trump entende a situação e está determinado a reagir fortemente para garantir seu bem-estar.

 

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— A reação tem sido muito favorável pelo país — Pence disse à Fox News nesta quinta-feira. 

 

O Globo

 

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